É impossível evitar estrangeirismos no Brasil. Como ir ao "shopping" em português? Como falar com o "ombudsman" na língua pátria brasileira? Dizer que o uso de anglicismos e galicismos - principalmente - por si só caracteriza o fim da independência de um povo é hiperbólico e sofismático.
Os termos de outras línguas não são acoplados ao idioma nacional por imposição estrangeira ou por puro modismo. Os motivos pelos quais isso ocorre são vários, e não representam nem causam a perda do amor pelo português.
Primeiramente, há o caso de algumas palavras sem correspondente em português: "ombudsman", "shopping", "portfolio". Criar palavras com radicais da língua portuguesa para tentar estabelecer identidade de significado com essas palavras é mais artificial do que simplesmente usá-las.
Outro caso, decorrente deste, é o do aportuguesamento de nomes de criações estrangeiras, por assim dizer. Por que não chamar de futebol o tradicional esporte bretão? Qual o mal em usar abajur para designar o prático utensílio francês? O uso de tais expressões é uma forma de homenagear o país que originou o termo e seu correspondente material. Nada mais lisonjeiro para um brasileiro do que ver um americano dobrar a língua para dizer "samba" ou "bossa nova".
Há também o uso por praticidade. Ora, "cash" é muito mais curto e significativo do que "dinheiro vivo" ou "em espécie". "Delivery", além de menor que "entrega em domicílio", evita a dúvida com a regência: "a" ou "em domicílio"?
Além disso, muitas vezes o correspondente em português dificulta a comunicação por ambigüidade. Falar "feedback" em vez de "retroalimentação" pode salvar um discurso do riso generalizado - alimentação por onde?!
Claro que há exageros. Sobretudo por parte da neoburguesia que tenta ser diferente a todo custo. É dispensável o uso de "Happy Birthday" em vez de um singelo "Feliz Aniversário". Uma camisa na qual se lê "Happy New Year" é tão ou menos comunicativa do que outra com "Feliz Ano Novo" estampado. Mas tal tipo de estrangeirismo é desprestigiado e socialmente execrado, não constituindo uma nova característica lingüística.
O uso de expressões estrangeiras não acarreta uma perda de identidade ou de dignidade nacional. A ofensa aos valores nacionais vem pela imposição de costumes. O erro não está em falar que masca chiclete (aportuguesamento da marca "Chiclets") e sim em consideral tal ato elegante ou bonito porque os americanos o fazem. O problema não é dizer "Merry Christmas", mas vestir o Papai Noel de veludo e gorro em um país tropical em pleno verão. Tal tipo de influência transcende o discurso dos puristas da língua, que devem achar que os ingleses perderam o amor por seu idioma ao chamarem suas noivas de “fiancées” e que a França se tornou colônia britânica ao adotar "weekend" para seus fins de semana.
Pelo visto, tais lingüistas não possuem o mínimo "know-how" histórico e político.