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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->16. A DOENÇA -- 08/06/2002 - 10:27 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Querida, não há necessidade de temores vãos. Fernando não irá levar-me a abandonar a Igreja.

Maria parecia alucinada:

— Eu já sofri demais! Agüentei tudo o que podia! Você tem sido infiel a vida toda.

— Já conversamos sobre isso. Pensei que tivesse dado o seu perdão...

— Que perdão, o quê! Você só faz o que bem entende. Precisava ir ao centro espírita levado por aquele...

— Não foi ele quem me levou. Fui porque quis. Fui porque precisava resolver uns problemas espirituais...

— Que problemas espirituais? Não lhe basta que Jesus tenha morrido na cruz para nos salvar? Deve haver lá alguma sirigaita...

— Não há ninguém. Desde que comecei a freqüentar o centro (sabia que não deveria mentir, já que os informantes deveriam ter providenciado tudo), não tenho tido outro pensamento...

Maria queria repisar o ponto do martirológio de sua vida:

— Foram tantas que mais uma...

Jeremias estava ficando excessivamente aflito. O coração disparou. A pressão baixa lhe dava tonturas. Estava prestes a desmaiar. Suava frio.

— Nós tínhamos concordado que era suficiente a bênção no confessionário e a sacratíssima comunhão. Se Deus me perdoou, você não deve condenar-me. Amanhã...

Não concluiu. Tombou inerme, branco como o sulfite que esparramou pelo chão.

Maria percebeu que o marido não estava bem. Pediu por socorro. Os funcionários do escritório acorreram. Chamassem a segurança. Era preciso que algum homem o carregasse para o sofá. Chegou Eduardo. Quem tem o número do serviço de saúde? A secretária tinha. Era conveniado há tempos. Chamaram uma ambulância. Terá sido o coração? Demorava para voltar a si. Tinham alguma coisa para dar-lhe a respirar? Vinagre, álcool canforado. Qualquer coisa?

Jeremias respirava mal e não retomava a cor.

— Isso é o que dá não se alimentar direito. Vai ver se não há de comer uns bons bifes...

Aquela meia hora foi terrível. Por sorte, o hospital não distava da fábrica e logo enviou o pessoal de emergência. Inconsciente, foi levado para o pronto-socorro.

Enquanto aguardava do lado de fora, Maria catalogava os fatos. Estava muito aborrecida com tal desfecho. E se morresse? Iria para o Inferno, sem dúvida, que não tivera tempo de confessar os últimos pecados. Pensou em ligar para Timóteo. Antes, precisava acertar os procedimentos de urgência. Tinha de preencher uma ficha.

Ainda bem que estava tudo computadorizado. Foi fácil de localizar os elementos que demonstravam estar em dia com as mensalidades de seu plano de saúde. Os médicos só estavam cumprindo a obrigação contratual. Será que precisaria de internação?

— Dona Maria?

— Pois não!

— Não é preciso assustar-se. O seu marido está consciente mas muito fraco. Pelos registros, deveria ter comparecido há mais de seis meses para os exames de rotina. Vamos, por medida de segurança, colocá-lo vinte e quatro horas sob observação. Se quiser, poderá vê-lo agora.

Jeremias ocupava um apartamento. Vários aparelhos estavam ligados ao seu peito. Pontos luminosos vermelhos piscavam intermitentemente. Tomava soro pela veia do braço. Maria ficou transtornada. Sabia que, se não tivesse sido tão violenta, não teria provocado aquela reação. Enxugava sinceras lágrimas de arrependimento. Não se perdoaria, se algo pior acontecesse.

— Querido! Querido!

— Eu vou ficar bem. Não foi nada. Só uma queda na pressão. O médico quer me ver mais forte, pois acha que devo estar com algum processo neurológico...

Não sabia como dizer, mas a verdade é que recebera a notícia de que precisava fazer exames de sangue, além de pormenorizado “check-up”. Dissera-lhe o médico que o fato de ter permanecido desacordado por tanto tempo poderia ser indício de deficiência crônica. Isso, porém, não queria passar para a esposa.

— Chame os gerentes para virem conversar comigo amanhã, às dez da manhã. Se estiver liberado, eu ligo revogando a ordem. Vá pra casa e não assuste os meninos. Tomou água com açúcar para acalmar-se? Peça ao médico um tranqüilizante. Faça exame completo, que eu não quero vê-la no estado em que estou.

O esforço para falar não era muito, mas as preocupações com as desavenças estavam muito vivas, para que não o pusessem ansiado. Mas a mente começava a perder o vigor. As injeções deveriam conter sedativo, de modo que, não demorou, não conseguia mais manter-se acordado.

Maria chamou a enfermeira. Temia que algo pudesse estar acontecendo. Foi serenada, porém, pelo médico, que os efeitos dos remédios são esses mesmos. Havia permitido que falasse com o marido porque, depois, iria demorar para restabelecer a consciência. Ainda bem que estava de estômago vazio. Poderia ter sido pior. Agora, não corria mais perigo. Não havia sinal de complicações coronárias. Os exames complementares revelariam a verdade. Voltasse para casa, que ali nada poderia fazer. Ligasse dentro de três horas que seria informada do resultado dos primeiros exames. Se quisesse, lhe daria um analgésico, um sedativo...

Quando deu por si, estava de novo em casa, levada por um táxi. Ligou para a fábrica e pediu que trouxessem os carros. Transferiu os recados do marido para os responsáveis na loja e na indústria. Ligou para o Padre Timóteo. Queria confessar-se. Avisou Dolores, mas pediu para que não dissesse nada a Fernando, pelo menos até a noite. Calou a discussão e a indiferença do desafeto.



No hospital, em termos técnicos, os médicos discutiam os resultados radiológicos. Havia suspeitas que não foram passadas ao casal. Era fundamental que viessem os resultados da hematologia. Nesta época da síndrome da imunodeficiência adquirida, aquela queda acentuada de peso poderia estar indicando para a tragédia. AIDS? Por que não? Era muito cedo para conclusões tão específicas. Aguardariam os exames de sangue. Enquanto isso, a bateria de testes prosseguiria.

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