Deixa eu te contar?
A humanidade, desde sempre encontrou formas de se comunicar. Seja por rádio, cartas, cartões postais (conhece Griffin e Sabine?) de alguma forma as pessoas se comunicavam, se conheciam e se encantavam umas com as outras.
Hoje fazemos parte da turma que inaugura uma nova forma de comunicação, a internet. A forma é nova, o conteúdo, é o mesmo de todos os tempos. Pessoas com uma ànsia infinita de contato.
Você estranha que as pessoas se apaixonem a distancia, que se amem através de bits e bites. Isso é só mais uma forma de amar. Lembra da musiquinha? Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valerá. Lembra que não são só bits e bites. São as fotos, os telefonemas, as mensagens cifradas disparadas em grupo, as mensagens pessoais, íntimas, que desmascaram os sentimentos. Lembra que a voz traduz da melhor forma o que nos vai por dentro?
Tá certo, nada substitui o olho no olho, o beijo na boca, as mãos tocando de leve as pontas dos dedos. Isso me lembra (já te contei?) da primeira vez que peguei minha primeira filha no colo. Olhando dentro de seus olhinhos castanhos com uma rajada de mel, eu só conseguia tocar a ponta de meus dedos nas pontas minúsculas de seus dedinhos em total reverência aquela mini pessoa, delicada, rosa feito um botão. Desde então minha maior prova de carinho é tocar as pontas dos dedos. Não, não pense que se não toquei a ponta de seus dedos não lhe tenho carinho. É que as vezes não há oportunidade. Imagine o que as pessoas haveriam de pensar se me vissem tocando as pontas dos dedos de outro alguém? Não que me importe, pois quando amo, não vejo nada a minha volta. O amor me toma por inteiro, me devora e me consome. O difícil é me manter dentro das regras. Lembrar a cada instante que "isso não devo fazer, naquilo devo me controlar..." Devo, mas quem disse que consigo?
Isso me faz pensar em todas as coisas que sabemos que devemos fazer mas que não temos certeza de querermos.
Sabe, a internet se assemelha a uma grande teia comunitária. Ok, ok, eu sei: isso é senso comum. Era exatamente essa a idéia da internet quando a chamaram de grande rede. World Wide Web - um mundo novo, descoberto palmo a palmo qual as grandes terras na época dos descobrimentos. Somos como minúsculas aranhas descobrindo como construir uma teia forte o suficiente para que nos aguente a todos, juntos. Uma teia que não pretende capturar insetos mas simplesmente promover a comunicação entre as espécies. De humanos, claro. Sabe que sempre pensei que humanos também se dividem em variadas espécies?
Ah sim, tem aqueles da espécie agressiva. Aqueles que tem o dom de destruir os caminhos abertos a duras penas. Tem aqueles outros que constroem infatigavelmente, fio a fio, avançando lentamente em direção a qualquer outro ser. Tem aqueles que destroem sem querer por que sentem inveja. Tem uma espécie, excepcionalmente sadia que nada constrói mas anima aqueles que os fazem com música e alegria. Tem aqueles que só reclamam, tem aqueles que só sorriem, tem alguns que já se misturaram e trazem dentro de si uma mistura de espécies.
Tá vendo? Lá venho eu com os exageros novamente. Para mim tudo é grande demais ou pequeno demais. Assim como meu humor varia da euforia a depressão sem meios termos. Acredito que minha única constància está no querer bem. Isso é tão forte em mim, essa coisa de querer bem.
Pronto, já falei demais. É sempre assim, eu quero contar uma coisinha, me empolgo e falo um montão. No fundo eu só queria te dizer que não é tão estranho isso que você sente. As pessoas desde sempre tentam se comunicar. Nós, descobrimos uma forma que deu certo.
abril, 30 de 2001