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Contos-->O silêncio cheia como sofrimento -- 21/10/2001 - 23:28 (Santiago) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Acho que sempre fui cansado de ser eu mesmo. O fato de não pensar como os outros fazia com que eles me odiassem. E isso me perturbava, acabava comigo. Foi aí que descobri que a reclusão era o remédio do corpo. E o silêncio era a acupuntura da alma: quanto mais mudos estão o problemas, a dor, ao teu redor, suas alfinetadas insensíveis, tranqüilizam-te o sofrimento. Em silêncio.
Lembro que foi com o Vasco que aprendi que o silêncio é um sentimento tão vasto que derruba as barreiras do sofrimento. Eis que, nos seus momentos de alucinações, ele me contou:

Era por volta das onze, onze meia (engraçado, quando a gente não sabe a hora exata sempre aumenta-se meia hora)... Eu peguei o ônibus para parar em qualquer lugar, menos em casa. Como de costume, me sentei no fundo.
O ônibus estava quase que vazio. Contei uma velha com um óculos de armações grotescas; um senhor recostando a cabeça no vidro, babando; um garoto ainda com o uniforme da escola agarrado ao velho babão e uma menina com seu irmão. Eu estava na época em que começava a ter nojo do mundo, então achei-os repugnantes. Exceto a menina...
Ela me lembrava muito meu primeiro amor. Ela era sua reencarnação mais delicada, morena, cabelos cacheados, armados em uma trança. Tinha olhos bonitos e os prendia no vazio. O menino, seu irmão chorava, por algum motivo apenas chorava. Mas era baixo, quase que por pirraça. Eles estavam bem à minha frente. Observava-a, contemplando fixamente, sua imagem refletida na janela.
O ônibus chacoalhava. Percebi que estávamos refazendo o percurso, fosse aquela a terceira vez. Sobraram apenas eu, a menina e seu irmão, o velho babão, que dormindo deveria ter perdido a parada com o garotinho ainda agarrado a seu braço.
A monotonia que reinava ali dentro era tenebrosa. Apenas o motor roncava e o menino chorava. O restante, eu e a menina, que aos meus olhos, o velho e os garotos não contavam, perdíamos em pensamentos longínquos. Os meus concentrados nela. Numa arma e em um suicídio. Os dela, fossem medo.
Reparei que seus olhos, durante todo o tempo, apenas encaravam as trevas que reinavam em absoluto lá fora. Quase que não piscava, apenas estática e muda, olhando simplesmente o vazio. Hora ou outra, o menino olhava para ela, chorando, suplicando no seu mínimo ato que ela percebesse seu choro. Mas a menina olhava acima da sua cabeça, encarava as trevas. Vendo que ela não ligava para sua dor, ele pausou. Eu decidi que saltaria na próxima parada.
Olhei para minha mochila. Quando retornei meus olhos para cima, instantaneamente preguei-os nos dela. Estremeci por dentro, comovido por seu olhar. Encaramo-nos por segundos. Li: “Cher” num colar que ela trazia no pescoço.
Ela fez sinal para que o ônibus parasse e desceu. O menino ficou.
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