Este é o meu tema preferido. Inclusive em 1986, publiquei o livro "Borboletas, jangadas e outros poemas" e, mesmo como versejador passadista, aventurei-me em um poema à moda moderna, até mesmo algo concretista, já que o texto é disposto de maneira a lembrar uma jangada:
V
e
l
a
no
mar
como
a c e s a
de jangada
(a gás neón?)
sobre as ondas
- pisca e pisca -
do vento que acende/apaga
mil pirilampos luz branca
que se parecem as espumas
n a s ondas verdes do mar,
onde ela, assim pequenina,
parece uma ave a plainar...
E este hai-kai:
Sobre o verde mar
vela - brilho de sol nela -
passa a tremular...
Também publiquei uma "Centena de Trovas", em que as primeiras são sobre o tema jangada,de que dou dois exemplos:
Presa à corda da fateixa
pára, no mar, a jangada,
como de loura madeixa
fica minha alma apresada.
De pau de piúba o "casco",
na jangada a navegar,
jangadeiro é mais que um Vasco
da Gama, vencendo o mar!
Já no opúsculo Trovadorando com Amor - 1988:
Um pirilampo parece
luz de jangada no mar,
quando ora sobe e ora desce,
a "ascender" e "apagar"...
Bordejando em pescaria
por bolina sustentada,
eis a mais pura poesia
do litoral: a jangada!
Referente ao meu livro Sonetos e Trovas (Cia. Editora de PE - CEPE - 1992), nele saiu o meu soneto Jangada - pág. 13 (3. lugar no VI Festival Nacional de Poesia de São Lourenço - MG-1993) - consta da Usina de Letras.
Na Coletânea "As Mais Belas Trovas Sobre Jangada" - João SCORTECCI Editora - SP - 1994, publiquei duas trovas:
Borboletas pequeninas
ficam, distante, a bailar:
- são jangadas nordestinas
nas verdes ondas do mar!!!
Saudade, um mar de lembrança
na praia do pensamento,
onde a jangada balança
no sopro leve do vento!...
Vale salientar que uma das minhas trovas mais elogiadas por irmãos-trovadores ainda não tinha sido escrita(como veremos a seguir).
Outrossim, fui responsável pelo Concurso sobre Jangada, patrocinado pela UBT-Recife (quando substituía a saudosa Presidente Valdeci Camelo) e li e reli dezenas de trovas de autores de várias regiões do País e algumas vindas de Portugal.
De modo que, certo dia, voltando da praia de Boa Viagem, fui datilografar trovas para um boletim mensal (A Trova) que editava, quando veio-me a idéia de rascunhar uma trova sobre jangada. Depois de manuscrita, coloquei-a naquela edição e passei a receber opiniões favoráveis à mesma, dando-me conta, então, de que havia concebido uma trova antológica!
Como as coisas não acontecem por acaso, desejo que os que lerem estas linhas saibam mais que, , antes do Concurso com tema Jangada, pesquisei sobre o assunto junto a jangadeiros da Colônia Z-1, do Pina; e com outros do Terminal de Boa Viagem, quando tomei conhecimento de termos como "piúba","fateixa", "bolina", etc.
Até fiz um poema com o título Zé Galope, que conta a estória de um vaqueiro do Sertão que virou jangadeiro, desaparecido no mar para sempre!
Mandei tal trabalho para Concurso em Angra dos Reis, no qual o saudoso poeta Joubert de Araújo Silva foi um dos vencedores e, este, ao ouvir o meu poema, falou:"É interessante. Uma estória verídica e que esteve à altura do Concurso!"
Assim, fiz trovas, sonetos, hai-kais, outros tipos de poemas e até verso pretensamente modernista sobre jangada: não sou um leigo no assunto e acho que tive sorte ao escrever a minha trova carro-chefe:
Abrindo o leque da vela
vai pelo mar a jangada,
como se fosse a mais bela
das aves da madrugada!
Recife(PE), 19-06-2000. |