O tempo...
- Só tem uma coisa...
- Diz, amor!
- A Raquel vai com a gente.
- Sério? Puxa, fico super-feliz! Ela já está aí com você?
- Não. A mãe dela virá trazê-la à s cinco.
- Então à s sete você me pega?
- Sete, sete e meia, tudo bem?
- Fechado. Te amo!
- Eu também te amo! E, olha, nunca tive a oportunidade de dizer abertamente, mas esse carinho e essa compreensão que você tem com a minha filha... só mesmo uma mulher como você. É por isso que eu acho que te amo em dobro.
- Que é isso, bem. Sua filha é minha filha, compreendeu? Tenho que ir, meu chefe está chamando.
- Desliga você.
- Ah, não. Você.
- Se não desligar eu não desligo.
- Então tá! Beijos. Te amo, te amo, te amo... tchau!!!
Sete horas e o Rodolfo liga, avisando que Raquel acabara de ser deixada em seu apartamento, sem tomar banho, sem condições de se apresentar na esquina da rua, de tão maltrapilha. A ex fizera de propósito. Só para ter o gostinho de atrasar o passeio do casal. "Acho que não dá tempo de pegarmos a sessão das oito, querida!"
- Sem problemas, amor! Vou pra aí. A gente come uma pizza. Toma um vinho. Que tal pegar uma fita para assistirmos com a Raquelzinha?
- Ótima idéia! Só você mesmo, paixão...
Assistiram ao filme. Traçaram duas pizzas e o vinho. Raquel não dormiu antes da duas da matina. Parecia estar instruída a atrapalhar a noite de amor do pai e da namorada. Cássia brincou pacientemente com a menina. Contou estórias. Colocou o pijama. Jogou videogame. E, enfim, quando Rodolfo já pegara no sono, colocou-a na cama e a cobriu com um edredon estampado. Quatro meses depois estava morando no apartamento do Rodolfo.
... e o vento
- Essa menina não me obedece, Rodolfo!
- Tem que ter mais paciência...
- Mais do que eu tenho? Tá brincando...
- A menina precisa de carinho, Cássia.
- Precisa é de umas boas palmadas, isso sim!
- Você não é louca de encostar as mãos nela.
- Então vê se manda a mãe dar educação para a menina. Assim não tá dando!
- Escuta: quando a gente resolveu ficar juntos você sabia da minha filha. Não estou entendo porque está agindo assim. Não era você quem vivia dizendo para eu ser mais compreensivo, mais paciente, mais carinhoso?
- Ah!... mas era outro tempo.
- Como assim, outro tempo?
- Não sei explicar, mas você me entendeu muito bem. Antes foi antes. Agora é agora. E, quer saber de uma coisa? Estou grávida. Dois meses e nove dias, sabia? Não posso passar nervoso.
- Grávida? Mas não tínhamos combinado que não teríamos filhos? Como póde?
- Não importa o que combinamos. Agora já foi. E você devia dar mais atenção a mim e ao seu filho que está aqui dentro. E só se preocupa com essa menina mimada. Assim não vai dar pé...
- Mas eu nem sabia que você estava esperando um bacuri...
- É assim que você trata seu filho? Bacuri é sua mãe, seu cretino!
- É apenas modo de dizer, Cássia. Só uma coisa: Raquel não vai aceitar um irmãozinho...
Cássia teve o filho. Um menino gordinho, olhos claros e espertos, cabelo bem liso, preto. A cara da Raquel. Já faz três anos. As duas não se bicam até hoje. Raquel reclama para o pai, que se cala. Cássia reclama para o marido. Indiferente, Rodolfo só quer saber de curtir o caçula. |
