Tava ouvindo um som aí, desses indie, sabe né, é a moda, e me disseram que Radiohead era demais, que o vivente que ouvisse a música deles com as esporas frouxas era capaz de chorar, que eles sim sabiam o que era ser triste, etc. Me toquei a ouvir. Um tanto:
"Vamos, vamos/ Você acha que está me enlouquecendo/ Você e mais quem?/ Você e sua turma!/ ... / Você esquece muito facilmente/ Você deveria saber/ Eu estou arrasado."
Segundo dizem, essa era a tradução da letra. Ui!, fiquei arrasado. Você e sua turma são feios, bobos e insensíveis.
Nada contra o Thorm Yorke ou o Radiohead. Tanto o cantor, quanto a banda, até tem alguma qualidade. Quanto à postura deles, nada a dizer. Temos que entender que deve ser difícil para o vocalista ser um entusiasta, afinal, quem, em plena consciência, não viveria chorando se fosse feio daquele jeito. Claro, nesse ponto seria melhor dar uma de Wander Wildner e assumir o "sou feio mas sou bonito" em vez de ficar de manha, mas cada um, cada um.
Mas o que atucana mesmo é essa galera que ouve o Yorke e vai no pé da letra. Uns ainda aborrecentes, outros, piores, já com barba na cara. E me preocupa essa gurizada que tem o cara por ídolo, esses ainda em formação da personalidade e que estão entrando hoje em faculdade ou no (sic) mercado de trabalho pela primeira vez. Sim, esses da geração "cultura pop nos salvará junto com Thom Yorke e congêneres da manteiga derretida".
Esses, que quando ouvirem o primeiro esporro do chefe terão depressão crónica, daquelas tratadas com Prozac. Esses, que quando comem maçã com casca, vão para o hospital no outro dia. Esses, que quando tomam um pé na bunda da namorada, fazem um escarcéu dizendo que vão cortar os pulsos com a faca da margarina. Esses que quando apanhavam do João Fortão da oitava série (o cara tinha repetido o ano umas 5 vezes), tiveram que fazer tratamento psiquiátrico.
Culpa do pai? Na certa. Se em vez de gastar fortunas em analistas e psicólogos, apelasse prá cultura do tapão na orelha e do "te vira", não ia ter tanto bunda mole nesse mundo.
Mas, ao mesmo tempo me ocorre, que talvez seja demasiado tarde para isso. Os pais que tomaram muito cacete dos nossos avós quiseram corrigir o erro não usando da psicologia do laço. Resultado: temos uma legião de Thoms Yorke "emocionalmente arrasados" por aí. E, desgraça nunca vem sozinha, nada pode ser feito com essa gente. Ao menor sinal de que estão no mundo real e não na casinha da Barbie, choram copiosamente. Pior, ficam arrasados. Deprimidos. Chorosos.
Lembro de meu avó comentando outro dia, tava indignado. Uma tia tinha se queixado que o piá dela passava o dia trancado no quarto ouvindo música e não queria saber de trabalhar. Ao contrário, só resmungava que queria dinheiro prá comprar CD. O avó mandou o guri trabalhar, mas o tal só resmungou. Pegou na cinta e se dirigiu pro moleque choroso:
Só te digo uma coisa meu neto:
Se grito adiantasse
Porco não morreria
Ainda deu prá ouvir algum resmungo, bem mais baixo que o barulho da cinta. Diz que hoje o guri trabalha até no dia santo.
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Se fosse papel, rasgava.
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