Venho através dessa Carta apresentar algo que há muitos anos guardo em segredo comigo.
Hoje já se passaram muitos anos que vivo aqui, e desde que cheguei nessa cidade tenho nutrido de todo carinho e respeito por parte dos membros de nossa comunidade.
Quando aqui desembarquei, muitos anos atrás, era bem jovem e desde o primeiro momento sempre me esforcei para conquistar tudo aquilo que tenho atualmente. Agora, já com os cabelos brancos, sinto-me realizado pela minha esposa maravilhosa, pelos meus filhos e netos queridos e pelas dezenas de amigos que possuo. Além é claro de todos os bens materiais que conquistei.
Todos à minha volta me consideram uma pessoa de respeito e admiram minha família como um exemplo bem sucedido. É com certo orgulho que admito que minha vida aqui serve de exemplo para muitos lares que não tem toda a harmonia e conforto presentes em minha casa. Mas, não é sobre essas coisas boas que quero lhe falar, pois o que tem me incomodado diariamente trata-se do segredo que tenho carregado comigo durante todos esses anos. Informo ao senhor que nem mesmo minha esposa imagina que guardo em sigilo tamanha dor dentro de mim.
E, agora, sentindo que já não tenho muitos anos de vida pela frente, percebo que devo fazer uma confissão desse pecado tão grande para que possa dormir em paz comigo mesmo e com Deus Santíssimo.
Tenho a lhe confessar que minha chegada aqui em nosso Estado foi motivada por um grave crime que cometi em minha cidade natal, no Rio de Janeiro. Lá, em minha terra de origem, eu cometi um assassinato de duas pessoas num assalto à mão armada. E, durante o período em que estava sendo perseguido pela polícia, acabei fugindo para o Norte do pais, e aqui cheguei com um outro nome e com falsos documentos.
Assim, durante toda minha vida guardei esse segredo macabro, com receio de ser rejeitado e aviltado por todos. Mas, após tanto tempo transcorrido resolvi confessar esse erro e pedir perdão, para poder tirar esse pesado fardo de minhas costas.
Peço encarecidamente que avalie esse meu pedido e interceda junto a Deus por mim, e pela vida dos familiares de minhas vítimas.
