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Artigos-->A Felicidade É do Tamanho Que A Gente Acha -- 29/10/2003 - 08:47 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Faces da Felicidade

(Por Domingos Oliveira Medeiros)



O dia amanhecera com o canto imponente do galo; canto que se mistura ao cacarejar das galinhas. Pássaros, em revoada gritante, cortavam os céus daquela manhã. Ainda estava escuro. A grama, lá fora, no quintal, ainda umedecida pelo orvalho da madrugada inteira. Fazia um frio suportável.



Maria pula da rede e vai até o quintal; onde fica o pequeno banheiro de madeira e teto de zinco. Faz suas primeiras necessidades e dirige-se para o tanque; abre a torneira para lavar o rosto e escovar os dentes.



Enquanto isso, a água que deixara no fogo já começa a ferver. E Maria “passa” o café, enchendo o bule. O aroma toma conta da casa. E as crianças acordam. E correm para o quintal. Entram na fila do banheiro. Dois dos meninos não esperam a vez, e urinam ali mesmo, no pé de um imenso abacateiro. Tomam um banho de mangueira, junto dos jardins do quintal da casa, em cima de uma pequena calçada de cimento. E voltam para dentro de casa. Vestem o uniforme da escola. Pedem a benção para Maria. Que os abençoa, em nome de Deus. E o café é servido. Café com leite e cuscuz; feito de farinha de milho. Milho colhido na horta. Sem agrotóxicos.



O pai chega à cozinha. Já pronto para a lida. De bicicleta, e após o café, segue, com os meninos amontoados no quadro e na traseira, rumo à escola.



Em seguida, Maria caminha até o ponto de ônibus mais próximo, que fica cerca de 1 Km de sua casa. Ela trabalha como empregada doméstica próximo ao centro da cidade. No bairro onde moram as famílias de classe média. São quarenta quilômetros de distância. Quase duas horas de ônibus. Toda semana. De segunda até sábado. Folgas, só nos domingos. E, vez por outra, em alguns feriados; a depender do bom humor da patroa.



Maria é muito honesta e trabalhadora. Já angariou a confiança e a simpatia da família para quem trabalha. Maria já se acostumou com o jeito de todos. Inclusive, com o clima estressante da casa. Todos trabalham fora. A dona da casa. Dona Júlia, é jornalista. O Dr.Pacheco, é Promotor de Justiça. O casal tem três filhos: Flávio, o mais velho, com quatorze anos. Francisco, o caçula, com oito; e Maria Júlia, do meio, com doze anos.



Todos estudantes. Bons colégios. Boa alimentação. Não lhes faltam nada. Têm até dois computadores. Que serve de ajuda aos estudos e para as horas de lazer: jogos eletrônicos e os “bate-papos” com suas tribos. Dois carros, na garagem, dão o toque final do conforto de que desfrutam.



Maria, aos sábados, costuma levar os meninos menores para o local de trabalho. E eles adoram mexer no computador dos filhos de dona Júlia. Brincam com os jogos eletrônicos e aprendem coisas novas do mundo da eletrônica. Ler revistas em quadrinhos, também lhes agradam muito. Gostam de ouvir músicas e, quando são convidados, ficam abismados com as luzes das lojas dos centros de compras que visitam com os filhos do promotor. Acham muito bonito e interessante o barulho do trânsito engarrafado; carros de todos os tamanhos e sons de buzinas; ficam abismados com a empurra-empurra das pessoas que se esbarram por entre lojas e lanchonetes; escadas rolantes, banheiros e elevadores. Tudo motivo de satisfação. De deslumbramento. De felicidade.



Com dona Júlia acontece o inverso. Final de semana, exaurida, ela começa a reunir forças para separar o material que levará para uma pequena chácara que possui próximo ao local onde reside sua empregada. É para lá que a família foge quase todo final de semana. Para descansar.



E todos ajudam. Motivados, como sempre. Comida, fósforos, carvão para o churrasco e roupas apropriadas para o campo; tudo é colocado na carroceria de um dos carros. Nada pode ser esquecido. Pois não há comércio por perto da chácara. Remédios, agasalhos, velas – para o caso de faltar luz – e cremes para proteção da pele e outros produtos para matar ratos e baratas.



E partem, felizes, para o campo. Não vêm a hora da chegada. Retirar toda a tralha e arrumar a casa grande. Faça chuva ou faça sol, sempre o tempo será bom. Com toda a lama ou com todo o calor e poeira. Sem computadores. Sem televisão. Sem jogos eletrônicos. Sem ventiladores. Longe do conforto das grandes cidades.



A chegada é recebida pelo latidos dos cães. Que são acariciados por todos. Lambidas de agradecimento canino no rosto dos visitantes. A primeira notícia dada pelo caseiro: a galinha que estava chocando, na semana passada, deu luz a doze pintinhos. E todos correram, de pronto, para visitá-los. Horas e horas olhando a nova família. O galo, autor da peripécia, parecia orgulhoso.



Mais notícias: o pé de abacate, plantando na semana passada, vingou. Parece que dará bons frutos.



Dentro da casa, mais surpresas: algumas baratas mortas pelos remédios tiveram preferência na arrumação da casa. Primeiro varrer tudo. Lavar banheiros, cozinha e área. Depois arrumar o resto das coisas.



Até armar a rede entre duas árvores, gastou-se quase metade do dia. E as crianças foram brincar. Com os filhos da Maria.



Aprenderam a soltar pipa e a rodar pião. Depois, sempre assessorados pelos meninos da Maria, foram catar minhocas para servir de isca de pesca, no riacho próximo à chácara. No caminho, aprenderam o nome de alguns pássaros. E memorizaram os respectivos cantos.



Voltaram, já escurecendo de novo. A tarde fazia-se noitinha. E todos correram para dentro de casa. No caminho apreciavam os vaga-lumes que desfilavam com seus pequenos holofotes, em tons verdes.



Foi servido o café reforçado. Alguns preferiam sopa de legumes. Acenderam-se as luzes, fracas, de um amarelo descolorido, dos lampiões. Algumas velas foram deixadas em lugares estratégicos, para os mais medrosos.



E assim, sentados na varanda, olhavam, admirados, as estrelas que brilhavam com maior intensidade; por conta da escuridão que tomava conta da chácara. Escuridão que melhorava, à medida que a lua saía de trás de algumas nuvens escuras.



Até que , um a um, vencidos pelo sono, recolhiam-se para a rede, ou para o beliche; e adormeciam, com um sorriso nos lábios. Dona Júlia, sempre a última, cuidava de trancar as portas. E dar graças a Deus por tanto conforto e tanta felicidade!...





28 de outubro de 2003



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