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Cartas-->Justiçamento: 35 anos atrás -- 09/03/2009 - 10:44 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
35 ANOS ATRÁS

Texto - Pablo Emmanuel

Certa vez, tomei um susto ao saber que o militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) Salatiel Teixeira Rolim foi justiçado, conforme informa uma velha reportagem de IstoÉ, no mesmo dia, mês e ano em que nasci.

O ano de 1973 foi o fim do mundo para a oposição armada no Brasil.

Depois que o suicida "Comando Getúlio de Oliveira Cabral" fez Otavinho CCC sufocar-se em sangue num atentado à queima-roupa, na Av. Atlântica, a repressão desabou sobre seus remanescentes como uma pedra imensa que rola do alto de um alcantil, de cujo caminho nada escapa.

Suponho que o coronel do Exército Carlos Alberto Ustra, que era seu amigo próximo na Operação Bandeirantes, tenha supervisionado bem de perto a queda de cada responsável pela execução do delegado, ou pelo menos tenha sido bem informado a respeito dos detalhes da caçada vingativa e das mortes.

Também presumo seu sentimento de dever cumprido ao ter sucesso na queda de Yoshitane Fujimori, da VPR, sobre quem pesava a responsabilidade da horrenda execução de um oficial da PM no Ribeira. O coronel deve ter partido para cima do japonesinho, como se diz, "com gosto de gás".

Outro que caiu por fogo revolucionário foi o professor Francisco Jacques, da Resistência Armada Nacionalista (RAN), apontado como delator da posição do jovem Merival Araújo (ALN), assassinado pela repressão como vingança por ter sido um dos partícipes que desceram Otavinho no Rio de Janeiro.

Se o general Adyr Fiúza de Castro, comandante do DOI carioca, disse a verdade ao afirmar que Jacques "concordou" (sic) em abrir um ponto que tinha com Araújo, então o caso parece ser distinto daquele em que se situa Márcio de Toledo. Se o general não mentiu à revista IstoÉ, de 12 de agosto de 1987, o professor entregou o amigo da ALN, ninguém sabe se por tortura ou não, ou por "arrependimento", nas palavras de Fiúza. Devido à época, temos a inclinação para concluir que a hipótese de suplício pode ser plausível.

É difícil se penetrar na psicologia da guerrilha. A partir de 1971, não havia mais condições de resistir contra o Estado, derrubá-lo tampouco. Pela energia do combate, quase ninguém tinha tempo para imaginar que traçava um caminho para o suicídio. Não há biópsia para a guerra: há necropsia. O fumo do chumbo tem de baixar um pouco para os historiadores agirem.

Hoje, é perfeitamente aceitável que, se Carlos Eugênio Paz, o Clemente da ALN, não tivesse ido embora do país em 72, no ano seguinte talvez não tivesse sobrevivido ao arrastão pesado da ditadura, que havia anos estava jogando as tarrafas e pegando todo mundo. Ele era jovem, enérgico e muito corajoso, palmilhando a beira do abismo quase 24 horas por dia. Conseguiu manter-se na corda bamba, mas outros, não.

Esses combatentes viveram o tempo deles. Não me cabe estabelecer algumas ilações baseado apenas em relatos históricos que são acusatórios entre si. Cada indivíduo tem razões que são avaliadas em separado. Ninguém pode ser militarista o tempo todo. Há o lado emotivo, o lado razoável, o irracional, a individualidade sobre questões de conjunto etc.

Do lado da repressão, os verdadeiros responsáveis pela barbaridade enviavam subordinados para as ofensivas contra a guerrilha. Teria sido mais interessante que Médici estivesse na guarita do quartel que a VPR explodiu ao invés de estar lá como sentinela, o pobre Mário Kozel, que nem chegou a ver do que morreu.

Muitos militares e civis se abstiveram de mutilar os prisioneiros sob tortura, e há relatos fidedignos disso. Outros, em contrapartida, pareciam querer compensar essa abstenção de violência agindo com o dobro de perversidade. Fleury, Anselmo e o Esquadrão não podem ser perdoados, sob hipótese alguma, jamais.

O recado que eu passo daqui para a juventude não vai de encontro ao alerta "não lute". Antes, direi "se for, não vacile".

As FARC, por exemplo, mesmo que queiram não podem se desarmar mais. Se isto acontecer, a guerrilha tem de sumir da Colômbia, porque o que se seguirá nós já sabemos: serão todos seletivamente assassinados. Um inimigo não te esquece nunca. Agora é ir até o fim, sem vislumbre para o triunfo, dadas as condições atuais, mas com possibilidades reais de dizimação.

A luta armada requer nervura de aço. É preciso entender que, uma vez passado um determinado limite, não há mais volta. A porta que se abriu ficará trancada e você entrará em pânico tentando quebrar a maçaneta. Dali em diante, não restará alternativa, senão matar até morrer. Em poucos casos, quem consegue voltar, não o faz sem traumas cruéis.

Na guerra, a vitória ou a derrota seguem apenas uma perspectiva dada em um fundo obscuro. A única certeza que se tem quando se toma parte nela é a desgraça. Só isso.

Não existe vitória, meus amigos. É tudo horror. Se, do ponto de vista universal, humano e ético, não devemos achar graça nem na destruição dos nossos oponentes, quem dirá na aniquilação dos que nos são profundamente caros!

Por ser isto o que eu penso, firmo,

Pbl. Emmnl.


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