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Contos-->Blasfemia -- 16/10/2001 - 22:45 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PREZADOS AMIGOS,
POR ENGANO MANDEI O ARQUIVO DE
DE RASCUNHO, SEM NENHUMA
CORREÇÃO.


Blasfêmia
Os homens mais conquistadores,
Tornam-se o mais perfeito dos idiotas
Quando se apaixonam por uma mulher
Bonita.



Maurício era um homem feliz, casado há 26 anos com Idalina, tinha quatro filhas. As duas mais velhas estudavam Administração, e as mais novas estavam no 2o- grau. Maurício era aposentado como Agrônomo do Estado e fazia bicos em uma empresa de prestação de serviços, juntamente com Antenor um amigo de infância a quem suas filhas chamavam de Tio, enquanto que Idalina era alta executiva de uma multinacional. Viviam em um apartamento de quatro cômodos em um prédio classe A de um bairro nobre. Fora isso tinha um outro apartamento menor, onde iniciaram a vida. Cada um com seu carro levavam a vida de classe média alta, graças as duas rendas, principalmente a de Idalina que era três vezes maior que a dele. Seus vizinhos e alguns poucos amigos os consideravam um casal exemplar.
Quando Maurício completou 50 anos procurou ser mais religioso, por quanto achava que deveria agradecer a Deus aquela vida pacata e feliz, ao tempo em que pedia para livra-lo das tentações do mundo moderno. Antes dos 50 vez por outra prevaricara e por pouco certa vez não fez uma besteira. Apaixonara-se por uma mulher e por muito pouco, quase que chegava ao conhecimento da esposa. Graças aos irmãos e o amigo Antenor, conseguiu a tempo sair da fria.
Durante mais de cinco anos frequentava a missa das cinco horas em uma Igrejinha perto de onde morava. Ia lá cumprir a obrigação do católico, ao tempo em que agradecia a Deus pelos bens terrenos que ele lhes concedera, além pedir forças para não cair em tentações que já fora vítima. Durante anos comparecia ao ato litúrgico e saia dali renovado.
Certo dia uma jovem aparentando uns 28 anos sentou-se ao seu lado. Tinha o rosto de uma boneca e corpo exuberante. Na hora em que o padre mandou que todos se cumprimentassem, a moça além de apertar-lhe a mão, beijo-o na face. Maurício estremeceu por dentro e por fora. Ficou vermelho e os cabelos do braço todo arrepiado. Seu coração bateu forte, mas aos poucos foi se acalmando e começou a pensar. Será que essa moça não fez isso na mais pura das intenções, e maldosamente estou pensando outra coisa ? Como é que uma garota tão bonita, jovem, iria se jogar para um homem com a cabeça toda branca e quase duas vezes a sua idade ? Mesmo assim sentiu-se entusiasmado por uma aventura. Terminada a missa, a moça despediu-se com um aceno de mão e foi embora. Maurício foi pegar o seu carro e não a viu mais. Dirigiu-se para casa com a cabeça a mil. Dúvida cruel. Será que ela estava afim, ou foi um puro gesto inocente. Durante a semana ao deitar ou mesmo quando se dirigia ao trabalho, a "boneca de louça" não lhe saía da cabeça. Esperou ansioso pela missa do Domingo. Antes de ir para a missa procurou colocar uma camisa mais moderna, penteou com esmero o cabelo e chegou meia hora antes da missa começar. Sentou-se no mesmo lugar, o penúltimo banco da igreja e deixou uma vaga entre ele a ponta do banco propositadamente. Esperou angustiado pela garota. A missa começou e nada da moça. Para evitar que outra pessoa sentasse ao seu lado, colocou a folha dos cantos que era distribuída antes da missa. Quando o Padre começou a prática, ele sentiu o perfume e logo em seguida seu lugar ao lado foi ocupado. Ela chegou e de imediato cumprimento-o tocando rapidamente em sua mão. Maurício ardia por dentro. Seu coração pulava de alegria e de emoção. Ela me quer. Ela fez de propósito. alisou a minha mão. Mesmo assim não se encorajou a olhar de lado nem para ver que roupa estava vestida. Esperou a hora do cumprimento. Foi fatal, ela beijo-o novamente. Desta vez porem ele sentiu os dois lábios quentes quase morderem o seu rosto. Findo a missa ela saiu na frente e perguntou se ele sempre vinha aquela missa. Respondeu que sim e de imediato perguntou onde ela morava. - Moro aqui perto na avenida.- Te levo em casa, vou passar por lá, é meu caminho.- Não precisa esse trabalho, dar para ir andando. Faço questão venha comigo. - Obrigada aceito. - Dentro do carro ele perguntou o que ela fazia. Era medica recém formada e trabalhava em dois hospitais. Era solteira e recentemente havia tido uma desilusão amorosa. Embora tenha ido muito devagar chegaram rápido ao prédio na beira mar. Ali ela despediu-se e desta vez com outro beijo ardente em sua face.
A essas alturas dos acontecimentos, Maurício já não tinha dúvidas, partiria para o ataque e iria viver um novo amor. Quando chegou em casa, e viu a família reunida, bateu-lhe o remorso. Não, não poderia fazer isso, deixar minha família que tanto prezo por uma moça que mal conheço. Durante a semana sem sentir, ele já havia tramado no subconsciente deixar a família e viver com a moça. Meu Deus ! estou louco! apaixonado novamente ! Onde é que fui me meter. Não ! Não ! desta vez eu não vou cair na tentação. Vou a Igreja justamente para pedir a Deus que isso não me aconteça e agora me aproveito de uma situação dentro da própria Igreja. Não ! Nunca ! de maneira alguma ! Isto é uma blasfêmia. - Naquela noite rezou ardentemente pedindo a Deus que lhe livrasse daquele infortúnio. Depois da reza no entanto, ela voltou aos seus pensamentos com mais força. Aí ele lembrou-se de seu nome. Angélica. Realmente o nome era o que ela representava. Um anjo de candura. Olhos azuis da cor do céu, pele lisa e sedosa.
No outro dia ao chegar no trabalho, chamou o Antenor e desabafou. Antenor era divorciado, ficara casado pouco tempo e até hoje os motivos de sua separação eram um mistério. Sua ex-mulher desaparecera logo após o divorcio. Como não tinham filhos, cada um tomou o seu destino. Maurício evitou a pedido dele, de se comentar o assunto. Sua situação financeira era muito superior a de Maurício, embora ganhassem a mesma coisa de aposentadoria e na prestadora de serviços. Fazia alguns negócios de corretagens de imóveis e gado, além de aplicar na Bolsa de Mercadorias e Futuros. Vez por outra dizia que havia ganho uma bolada e já tinha uma dezena de apartamentos alugados, embora nunca chegasse a detalhes destas operações vantajosas. Vez por outra comentava a compra de um novo imóvel ou um lote ações e nada mais. Vivia só, em um apartamento de quatro cômodos, perto de onde Maurício morava. Duas a três vezes por mês ia jantar ou almoçar com Maurício e sua família, quando normalmente tomavam uns drinks sem no entanto ninguém se exceder. Após contar a história para Antenor perguntou ao amigo o que deveria fazer, já que não tinha mais condições de raciocinar com clareza. Antenor analisou a situação e disse que desta vez ele estava muito mais envolvido que nas anteriores e que não teria muitas opções. Ou cortava o mal pela raiz, esquecendo para sempre a Angélica ou iria em frente e que se preparasse para os terremotos familiares. Uma moça nova, bonita e bem formada, poderia ser um novo recomeço com terríveis cicatrizes. Além do mais ele não acreditava que Angélica fosse além de alguns beijinhos ou encontros furtivos. Uma coisa era certa, ainda haveria bastante tempo entre o aceitar de Angélica, e o recuo de Maurício. Falou que ele emprenhara um paixão por simples coincidências ou até por mal entendidos, e antes que qualquer coisa mais séria ocorresse já estava pressupondo o pior. Maurício ouviu calado tudo que Antenor falou e por fim afirmou: Não vou mais para missa das cinco. Vou esquecer esse pesadelo e ponto final.
A semana passou depressa sem que Maurício deixasse de pensar na bela Angélica. Seu relacionamento com Idalina não foi dos melhores. Quando estavam numa boa, ele a chamava carinhosamente de "linda", enquanto que ela o chamava de "pichano" . Quando havia pequenos desentendimentos um chamava o outro de doutor: Dra. Iadalina pra cá, Dr. Maurício pra lá . Ate as filhas já sentiam que esse tipo de tratamento era porque existia algum recentimento de parte à parte. Nesta semana o tratamento de Dra. Idalina foi muito freqüente, embora o de pichano ainda fora usado algumas vezes. Durante as noites Maurício mal conseguia dormir. Na sua cabeça não conseguia enxergar os riscos do desmoronamento familiar. Tudo que passava era como abordar Angélica e partir para um relacionamento mais estreito. Não via as desvantagens, o mal, a desgraça. Pensava em ter Angélica nos braços, na cama, a ensinar-lhe tudo o que sabia de sexo. Pensava em retirar aquela roupa e descobrir aquele corpo com carícia e grande paixão. Pensava em tê-la para sempre em um apartamento pequeno e aconchegante nas noites de inverno. Em suma já se considerava noivo novamente como se estivesse a poucos dias do casamento.
O domingo chegou e contrariando tudo que prometera a si mesmo, seguiu os impulsos da paixão desvairada. As 4,40 já estava na Igreja a espera de sua princesa. Nervoso e suando muito, transpirava emoção e amor. Dez minutos, após ela chegou e sentou-se ao seu lado. Desta vez o cumprimento foi avassalador, beijo-o na face e sustentou a sua mão. Não disse uma palavra, ambos ficaram olhando para o altar, com medo de se olharem. Durante toda missa continuaram de mãos dadas como se fossem antigos namorados. Maurício a princípio ficou com medo que alguma pessoa conhecida os flagrassem, principalmente sua cunhada que vez por outra comparecia aquela missa. Quando a missa terminou ela soltou sua mão e saiu apressada diretamente para o carro de Maurício. No carro esperaram que os fieis se dispersassem e só então Maurício falou: Angélica, acho melhor terminarmos por aqui. Sou um homem casado, tenho quatro filhas, não posso lhe dar nenhum futuro, somente aborrecimentos. Por instantes ela ficou calada e corada, como se estivesse bastante decepcionada. Maurício sentiu o coração apertado prevendo que tudo que sonhara se findara ali. Aqueles segundos se passaram como eternidade, quando ela falou: Você me ama ? - Te amo muito e te desejo como nunca desejei outra mulher, mas nada posso te dar a não ser muito amor e muito sofrimento. - Peça o divorcio a sua mulher e poderemos casar sem sofrimentos. - Maurício perdeu a fala ao ouvir aquelas palavras. Calou-se por algum tempo e depois falou com racionalidade: - Não, não posso fazer isso, também amo a minha família . - Então ela replicou: Meu pai também jamais aceitaria essa situação, para começar ele me colocaria para fora de casa. Já fez isso com uma irmã minha que mora no exterior. Como você vê, temos que renunciar a alguma coisa para vivermos o que queremos viver. Embora moça ainda, tomei a decisão de não me submeter mais aos preconceitos familiares e da sociedade. Lembre-se no entanto que não estou lhe forçando a nada. A decisão é sua, a vida é sua. Não quero construir a minha vida sobre os escombros de outra.. Há mais de ano que te observo aqui nesta Igreja, e até duas semanas atras nunca tive coragem nem de me aproximar do teu lugar. Por fim não suportei mais esperar e fiz o que fiz. Não sabia quem eras, nem tinha a menor idéia de sua reação, no entanto não pude mais hesitar. Achas que foi fácil para mim tomar essa decisão ? Foram muitas noites acordadas embolando na cama para chegar decidida perto de você. - Maurício tremia diante tanta perseverança e coragem. Por fim ele disse: vamos dar um tempo. Não tenho condições de resolver agora. Tenho de pensar. Ligou o carro saiu em direção a casa dela. Em lá chegando sem que fosse pronunciada nenhuma palavra, ele tentou beijar-lhe a boca, no que foi prontamente repelido. Te amo muito, mas não serei mais uma menina de programa em sua vida. Terás tudo de mim, mas no devido tempo, por ora não somos nada, nem bons amigos. Beijou-o na face e saltou do carro sem sequer olhar para trás.
Maurício retornou para casa indeciso na sua decisão. Ora pensava que havia se livrado, ora que não deveria se livrar. Ora que era uma loucura, ora que deveria enfrentar e começar tudo de novo. Entre as alternativas pensava na reação de suas filhas. Não tinha o direito de prejudica-las. Elas jamais o perdoariam. Viveria esse remorso por toda a vida. Antes de chegar em casa estava decidido. Não voltaria a ver Angélica.
A história terminaria aqui com bom final, mas não foi o que ocorreu. Nas duas semanas seguintes, Maurício cumpriu a promessa e não compareceu a missa. Com seus desejos reprimidos pela consciência, tornou-se um homem áspero, impaciente e impiedoso. O relacionamento com Idalina a cada dia piorava mais. Por pequenas coisas ele a tratava mal, reclamava de tudo que ocorria sem a menor importância, transformando o ambiente familiar outrora feliz, em um inferno. Por vezes Idalina pediu que ele fosse ao Medico, para ver a causa de sua impaciência. Ponderou que talvez fosse bom tirar umas férias, já que a alguns anos ambos estavam sem viajar nem descansar. A cada conselho, ele se irritava mais e respondia com estupidez as iniciativas de Idalina. Além disso tratava mal as filhas como se elas fossem a responsável pela sua decisão subconsciente. Em duas semanas a vida da família tornou-se um inferno. Na cabeça de Maurício, Angélica estava cada vez mais presente. Embora tivesse tomado aquela decisão e não a tivesse visto durante aquelas duas semanas, nutria uma esperança de um encontro apaixonante, como aqueles que sonhara tanto na juventude. Era um solitário dentro da sua própria casa. Chegava fazia as refeições e se recolhia no quarto. Não pronunciava uma palavra com ninguém, salvo as reprimendas e reclamações. As filhas juntas com a mãe, o isolaram. As vezes, as cinco conversavam e achavam que ele estava com algum problema psíquico.
Numa certa quinta feira, fora a um supermercado e logo no estacionamento, encontrara Angélica em um carro novo, acabando de estacionar. Estava vestida com um jaleco branco, próprio dos médicos e se dirigia para entrada lateral do supermercado. Presumiu ele que ela não o havia visto e seguiu-a sem que ela percebesse. Viu quando entrou em uma sapataria e sentou-se em um banco antes, com os olhos vidrados na direção da porta. Após alguns minutos, ela saiu e dirigiu-se para sua direção. Ele não se conteve foi em sua direção. A menos de um metro ele falou: Angélica ! - Ela respondeu friamente; oi, como vai Maurício. - Vamos sentar ali para conversar um pouco. - ela acedeu e sentou-se ao seu lado. - Tenho pensado muito em nossa vida, acho que não tenho condições de viver sem você. - Você falou nossa vida, ou sua vida. Respondeu-lhe em tom de ironia. - Preciso de uma prova do seu amor, quero tê-la por completo, antes de uma decisão definitiva. Se você me aprovar, não terei mais o que pensar. - Então você está pensando que eu sou uma mercadoria que da direito a prova.! - Não, meu amor, eu quero que você me prove, sou eu que quero ser a sua mercadoria. Você é quem vai me experimentar e ver se sou digno do seu corpo. - E os meus sentimentos como você vai provar. Sua decisão é em relação ao sexo ou ao coração ? Hoje tenho a juventude, com mais um pouco terei as rugas, as gorduras e outras mazelas que toda mulher ao envelhecer são acometidas. Se queres apenas meu corpo, procura belas prostitutas que ficarás satisfeito e sem compromissos. Basta pagar. Angélica pelo amor de Deus! Não leves nossa conversa para esse rumo. Quero você como a minha mulher, com seus sentimentos e com o seu corpo. Diga o que você quer que eu faça. Peça o que quiser. Estou nas suas mãos. As vezes parece que não há mais nenhum sentimento entre nós. Por que tanta amargura em relação a mim.? Que mal eu te fiz ? Foste tu que me procuraste ? Por que agora eu tenho que te implorar ? - ao dizer estas palavras, Maurício estava com os olhos minados e Angélica chorava em soluços.. Para evitar os passantes ela propôs que fossem para o seu carro. No carro ela finalmente mais calma disse: Eu te amo Maurício, eu não posso viver sem você. Todo os dias desta semana ficava olhando você passeando na praia escondida na janela do apartamento. Nem com todo esse amor eu devo me entregar a você. Apenas um homem e uma vez me possuiu em toda a minha vida, era meu noivo.No dia seguinte, telefonou para mim e disse que estava tudo acabado. O queria de mim já havia conseguido e não havia gostado. Foi assim que aquele canalha acabou uma relação de nove anos. Se me quiseres, vais ter que ser em uma casa ou um apartamento, nunca em um motel ou hotel ou seja lá o que vocês chamam. Nunca mais homem nenhum se aproveitará de mim impunemente. Escolhi você porque é um homem maduro e logo de início me despertou confiança, não só pelos seus cabelos cor de prata, como por sua postura dentro da Igreja. Não pensava que você fosse casado porque não usas a aliança, logo seria o homem que tanto procurava. - Maurício passou a mão na cabeça e disse. Meu anjo, você me espera seis meses ? É o tempo em que me separo e vou morar em um apartamento pequeno onde comecei a minha vida. Hoje está alugado a um parente que deverá sair a hora em que eu quiser, mas a separação demanda algum tempo na justiça. Enquanto o processo estiver rolando, não quero que minha família pense que estou deixando Idalina por outra mulher. Iremos nos encontrar escondidos, em cinemas e restaurantes afastados, para que não paire nenhuma desconfiança do que está ocorrendo entre nós. Quero que o motivo de minha separação seja apenas incompatibilidade de gênios. Quero manter uma boa relação com as minhas filhas e também com minha mulher. De rostos colados choraram o suficiente até que Maurício beijou-a na face e foi se preparando para sair do carro. Neste momento, ela encostou os lábios nos deles e beijou-o ardentemente.
Maurício saiu eufórico, a primeira decisão estava decidida. Agora seria a batalha em casa para a separação. Pensou que não seria tão difícil, tendo em vista as relações deterioradas como estavam, provavelmente Idalina em princípio renegaria, mas com o andar da carruagem, ela preferiria uma separação consensual. As filhas também reagiriam inicialmente, mas depois tudo se ajustaria. Teria de falar com Vlademir seu sobrinho, que providenciasse outro local para morar tendo em vista a sua nova situação. Pediria também a ele que não falasse a ninguém a respeito de minhas intenções de morar no apartamento. Como ele era solteiro, de logo entenderia a sua situação.
Naquela noite quando já estavam deitados, Idalina falou carinhosamente: "Pixano, meu Pixano, que é que há com você ? Nunca mais procurou a sua "Linda"? - e abraçando-o tentou aconchega-lo para sentir o seu corpo. Maurício recuou e como um animal lhe disse: Não dá mais doutora. Não gosto mais de você. Quero a separação. Já estou decidido. - Idalina em prantos lhe disse: Estais com outra mulher ! eu bem que desconfiava. - não há mulher alguma, estou farto dessa vida, quero viver só e em paz. Amanhã mesmo comunicarei as nossas filhas a minha decisão. Se aceitarem tudo bem, se não aceitarem, será de qualquer jeito. Vou pedir o apartamento a Wlademir e vou morar lá. - Idalina em prantos ponderou várias vezes, mas nada o fez mudar de atitude. Falou dos bons tempos de amor e felicidade. Que já haviam passado por várias crises e tinham superado. Que a sua decisão era uma loucura e que logo se arrependeria. Nada adiantou. O subconsciente prevalecia sobre a realidade. A paixão dominava a razão. O desejo superava os sentimentos. Nada, absolutamente nada o impediria de ter em seus braços a boneca de louça que tanto desejava. Ficara, surdo aos apelos da racionalidade e da inteligência, em confronto com o grande momento da sua vida.
Na manhã seguinte, logo ao café da manhã, Maurício comunicou intempestivo as filhas a sua decisão. Ouve muito choro, ameaças e uma inconformação generalizada. Nada adiantou. Maurício seguiu em frente como um trator. Idalina aos prantos voltou para o quarto e nem foi trabalhar. As filhas não foram para faculdade nem para escola. O ambiente era de morte e desespero. Mãe e filhas se aconchegavam na cama em um pranto dolorido, sem respostas para tanto infortúnio. Ao final da tarde a tragédia estava consumada. Mãe filhas resolveram aceitar a situação, desde que Maurício deixasse a casa naquele mesmo dia.
Quando chegou em casa a noite, sua mala já estava pronta e todas as decisões já haviam sido tomadas. Ao chegar Idalina falou diante de todas as filhas: Tua mala está pronta. Não quero nada de você. O apartamento menor é seu e não vou querer nenhuma pensão. Viverás com os teus proventos e eu dedicarei a minha vida as nossas filhas que irresponsavelmente você as colocou no mundo. Retire tudo o que é seu, providencie o advogado, que assinarei tudo que for necessário dentro dessas condições. A partir de agora você já não fará parte de nossas vidas. Quando quiser ver suas filhas avise. Será esperado como uma visita e continuará para sempre um estranho. - Maurício pegou sua mala, olhou para todos e disse: me perdoem, devo está louco mas não há outro caminho a seguir. - Sem beijos nem abraços, foi embora .
Em poucas semanas a separação judicial estava terminada. Maurício já se acomodara no apartamento. Fizera pequenas reformas e já havia arrumado tudo a espera da deusa de louça. Seus encontros com Angélica se resumiram a almoços em restaurantes distantes e a beijos enternecidos. Ela ainda não havia comunicado a seu pai e eles se mantinham na maior descrição possível para não suspeitar dúvidas. A noite recolhia-se ao apartamento onde ouvia músicas de sua época, enquanto sorvia com entusiasmo a sua nova vida de solteiro. Enquanto vivia aquela vida suas filhas procuravam investigar seus passos a procura de uma justificativa. Antenor começou então a visita-las com mais freqüência como se as filhas fossem órfão e Idalina uma viuva. Não demorou muito para que o tio Antenor fosse presença indispensável nos jantares e até em alguns almoços. Em três meses ele já era presença obrigatória e as filhas da carência dedicavam-lhe todo carinho que a falta do pai lhes ocasionavam. Beijos abraços fraternais, deram aquela casa um novo alento e aos poucos Maurício deixou de ser a peça principal. Certo dia, Lilian a filha mais nova disse a Antenor que ele deveria se casar com Idalina, para assim ela poder desfrutar de um pai verdadeiro. Na ocasião Idalina ficou corada e disse para a filha: Acabe com isso ! não diga besteira, você não sabe o que está falando.
No quinto mês, Angélica telefonou para o trabalho de Maurício, e em prantos disse que ao contar ao pai a sua decisão, ele a expulsara de casa e tomara-lhe o automóvel. Avisou ainda que estava em uma pousada no lado oposto da cidade dizendo não saber o que fazer. De imediato Maurício anotou o endereço e dirigiu-se para lá. Era tudo que esperava. Tudo agora iria mudar. Finalmente iria assumir publicamente o romance. Encontro-a na pousada ainda chorando muito. Dizia o que não sabia o que fazer da sua vida e que só ele poderia salva-la. Maurício mandou que arrumasse as malas e fosse morar com ele no pequeno apartamento. A princípio ela resistiu, mas terminou aceitar desde que vivessem em quartos separados. Maurício concordou e seguiram de volta para o seu apartamento. Lá pela primeira vez ela elogiou a decoração e beijou-o ternamente. Foi para o quarto de hóspedes, deixou os seus pertences e disse para Maurício: Não sei fazer nada na cozinha se depender de mim passaremos fome juntos. Maurício disse que não se preocupasse que ele já recebia as refeições prontas e que o café da manhã não era difícil fazer. Logo após voltou exultante para o trabalho. Ao sair passou em um supermercado, comprou frutas, refrigerantes, vinhos e guloseimas como chocolates, iogurtes e algumas porções de frios.
Ao chegar encontrou-a pela primeira vez de bermudas. Suas pernas eram torneadas e mostravam o que seria toda exuberância daquele corpo. Beijou-a longamente e tentou ir um pouco mais além. Ela esquivou-se e disse em tom de brincadeira: não se aproveite de uma pobre virgem carente. Logo após o banho, ele tirou na geladeira uma champanhe, que há muito tempo esperava por essa ocasião. Após algumas taças a troca de carinhos já ia bem avançada. As mãos atrevidas de Maurício já tinha feito a exploração de todo o seu corpo. Os suspiros e as respirações ofegantes denunciavam que havia chegado a hora de dar último passo. Entre beijos e abraços, Maurício foi levando-a para o seu quarto e em pouco tempo toda resistência de Angélica estava minada. Aos poucos os corpos eram desnudos e a cada minuto parte até então desconhecidas eram acariciadas, tornando-se íntimas uma das outras. Em pouco tempo os corpos se debatiam e arfavam nas mais diversas posições até o ato final, quando ambos sentiram o prazer total e exaustos , sem palavras lentamente adormeceram.
Depois daquela noite, Angélica surpreenderia Maurício a cada vez que tinham relações. Embora entusiasmado com a performance dela vez por outra ele perguntava onde havia aprendido um conhecimento sexual tão profundo. Muitas vezes em tom de deboche ela dizia que fora uma menina de programa, e isso o excitava ainda mais.
Dois meses de amor rejuvenesceram Maurício, acalmaram o seu animo e aos poucos começou a voltar a razão. Embora Angélica não falasse nada, lembrou-se que caso viesse a falecer ela estaria sem eira nem beira. Foi ao cartório e passou o apartamento para o nome dela, assim que saiu a sentença da separação judicial. O casamento no civil teria que aguardar até sair a sentença do divorcio. No outro dia foi ao Departamento de Transito e fez o mesmo com o seu carro.
Algum tempo depois foi que se deu conta que a sua Angélica havia deixado os plantões nos hospitais e que nos últimos meses não falou nada de sua vida profissional. Saíam pela manhã e voltavam a noite e quando chegavam só queriam uma coisa, sexo. O tempo no entanto, que é implacável com a felicidade, começou pouco à pouco a transformar em rotina todos os momentos de prazer. Aos poucos os defeitos de cada um foram aparecendo e a paixão foi se dissolvendo como um sorvete exposto ao sol. Antes que Maurício lhe falasse alguma coisa, ela comunicou que queria arranjar um emprego que fosse bem distante da sua profissão. Estava arrependida de ser médica e não trabalharia mais na profissão. Maurício tentou ponderar mas não houve acordo. Na conversa ela disse que um dia ele saberia porque ela não gostava da medicina, mas que no momento se ela contasse ele não a perdoaria.
No trabalho Maurício pouco falava com Antenor. Algumas vezes ele falava que iria visitar suas filhas mas sem maiores detalhes. Maurício achava o comportamento de Antenor no mínimo estranho, mas pouco estava se lixando para o que ele fazia ou deixava de fazer. Por duas vezes foi visitar suas filhas que o receberam como a um estranho. Ao sair sentia remorso, mas achava que um dia elas compreenderiam.
Uma coisa no entanto, vinha martelando a sua cabeça recentemente. Depois da decisão de Angélica de abandonar a medicina, e passar o dia todo em casa dormindo, começou aos poucos querendo que ela confessasse o seu segredo em relação a profissão. Fez diversas investidas sem sucesso mas um certo dia deu um ultimato para que ela contasse tudo. Alegou que não poderia viver e casar com uma mulher com segredos e atitudes estranhas. Falou também que havia uma necessidade dela trabalhar para ajuda-lo na manutenção da casa e em conjunto construirem um pequeno patrimônio para o futuro dela. Até então Angélica nunca havia reagido. Desta vez porém ela mostrou o seu lado inteligente e nem um pouco ingênuo. Você me tirou do meu conforto e agora esta querendo viver as minhas custas ! Quer que eu o ajude a construir um patrimônio ! Não acha que é pedir demais ! - Maurício ficou estupefato. Jamais esperaria uma reação tão violenta de "Anjinha" a sua boneca de louça. - Com raiva, deu uma de investigador. - Conte-me toda a verdade, já sei de toda sua vida! Quero ouvir de sua própria boca! - Angélica foi pega de surpresa e aos prantos disse que o amava de verdade e que a estória de médica quem inventou foi o Antenor. Que ele era o gigolô de muitas garotas de programa. Que antes de lançar as meninas para qualquer golpe, trazia professores particulares para ensina-las. Quando elas atingiam um certo grau de instrução, escolhia uma vítima, planejava a abordagem e instruía como tudo deveria ser feito. Depois que elas pegavam o besta, normalmente casando-se com ele, Antenor entrava em ação para extorquir. Já ganhara muito dinheiro e havia comprado diversos apartamentos. Aquele mesmo em que ela morava tinham quatro meninas, uma inclusive estava sendo treinada como freira, para dar um golpe em um ex-padre que como político ganhara rios de dinheiro. Por fim ela disse que Antenor estava de malas prontas para casar com sua ex-mulher e com a concordância das suas filhas. Maurício sentiu o mundo desabar sob seus pés. Perdeu a fala. Sua cabeça rodava a mil e já não conseguia raciocinar. De repente, levantou-se e gritou: foi castigo ! foi castigo ! eu blasfemei ! estou perdido, não mereço viver.- Dirigiu-se até a janela e gritou mais uma vez : - blasfêmia ! e atirou-se do 8O andar.
No outro dia a Folha do Povo em sua manchete de capa dizia o seguinte: COROA DESILUDIDO PULA PARA A MORTE. Em letra menores conta toda a saga em depoimento prestado por Angélica na Policia. Antenor foi preso e pelo menos a família de Maurício foi poupada de outro golpe.

Mauro de Oliveira
13/10/01
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