Não que eu a olhasse. Eu a secava mesmo, da maneira mais escandalosa. Ela não se fazia de rogada. Oferecia sua bunda à visão despudorada de todos do escritório. Maldito escritório, máquinas de todos os lados, telinhas de PC, gente anódina e a bunda de Ariane lá, como um rabo de cometa a espalhar sua seiva de delírios, indômita.
--Mas essa mulher veio de onde?
--Dizem que de Vênus.
--Pois eu não acredito. Deve ter vindo direto da AtLântida, porque lá, dizem, só tem sereia. Você sabe algo dela?
--Sei que é gostosa.
--Diga-me o que não sei, porque isso todos sabemos.
--Ela, dizem, é difícil. Não tente chegar nela de jeito que dê na cara. Eu acho que ela vai te repelir.
Não sei porquê, aí o cometa, digo, Ariane, assumiu um ar de desafio mais que urgente para o desbravamento. De forma que todas as vezes que ela passava por mim, eu a olhava, secava mesmo e ela, de uma forma de início sutil, depois com maior descaramento, olhava em meus olhos com aqueles holofotes cor de mel e sorria, como a pensar: " ridículo", mas eu sorria de volta e mostrava meu interesse embevecido. O que pensam essas mulheres maravilhosas? São insondáveis. Nada que se lhes passe nas cabeças é decifrável. Podem estar morrendo de tesão, mas disfarçam, omitem, segredam, elidem. Sobra o sorriso enigmático e devorador e o perfume que inconfundível, preenche os espaços maravilhosos onde deixa seu rastro.
--...E sinta o perfume!
--Vênus é assim.
--Escute, você não está confundindo Vênus, a deusa da beleza, com o planeta de onde veio Ariane?
--Ah, é?
--É.
--Poxa, preciso ler mais mitologia. E você precisa ser menos sonhador.
--Como assim?
--Quer que eu explique?
Não precisou explicar porque todos nós sabemos o que fazer quando se lança a nós um desafio do tamanho de um cometa venusiano, isto é, a bunda de Ariane, ou melhor, seu rastro de perfume iluminado. De modo que eu a abordei num canto do escritório, sem pretensão alguma de receber um sim ou um talvez; em troca disso, recebi um beijo de sufocar gigante, tal foi o que ela me deu.
--Menino, onde estavas que não respondias?
--À beira de teus pés, Vênus perfumada.
--Ó Deus da Tentação, sabeis que te espreito nas esquinas do mundo,onde fui concebida para te atentar ao pudor e te fazer meu escravo de todas as horas?
--Deveis saber de que atento para tua formosura todas as horas, tal é o encanto que promoves em minha alma...
...E assim, marcamos uma noite de sairmos e não saímos da cama senão dia seguinte. E, pasmem os mortais que me lêem, ela tinha uma preferência que, por respeito à divindade, vou omitir aqui para que morram de inveja. |
