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cronicas-->Chuva -- 16/11/2016 - 12:31 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O homem gesticula sozinho, chamando a atenção na fila do ponto de ônibus. Todo mundo de cabeça baixa: Uma colegial recém-banhada ( cabelos molhados e digitando sabe lá o quê no celular), uma senhorinha distinta de vestido amarelo com flores azuis, um senhor calvo que olha em torno e não vê, porque não sente nada do mundo, uma moça mulata de lindos olhos e perfumada , séria e compenetrada( entrevista é assim mesmo), uma pequena senhora velhinha de um olho de vidro com as compras da feira...

--Tá de brincation comigo...Tá de brincation!!

A moça mulata olha e não entende, porque ele está a dois corpos atrás do seu. Acha que é consigo e prepara-se para dar-lhe um fora ou algo ainda pior. O camarada não a olha, olha é para cima, acima das copas das árvores recém-torcidas pelos vendavais e com fios partidos chiando...Não é à toa que falta luz toda hora: Gatos, fios chiando e árvores vandalizadas pela fúria de Júpiter...

--Tá de brincation comigo, porra!
--Como?
--Como, o quê?
--Falando comigo, senhor?
--Não. Estou falando com o camarada que comanda as brigadas da chuva!

A moça o olha direito e vê que ele tem um cigarrinho molhado colado nos lábios enraivecidos por um esgar. Olha para cima e entende perfeitamente sua raiva. Sabe o que ele fala mas nunca teria a ousadia. Sabe que o que ele fala muita gente sente, depois de quase cinco dias de chuva continuada que estraga a folga e o lazer de qualquer cidadão comum. Perdoa-o em um instante e arrepende-se mais rapidamente ainda pois estava a ponto de cometer uma injustiça.

Olha para o céu e todos a acompanham; a senhorinha das compras, a colegial desligada, a senhorinha distinta, o camarada que se achegou à fila enquanto o ônibus não chega. Dá uma mexida em seu cabelo maravilhoso. Enche os pulmões junto com a multidão toda...

--Tá de Brincation com a gente!!!!!!!!

Lá, acima das nuvens, Pedro os contempla. Vê as árvores retorcidas, os ventos que ainda sobram, as ruas desmazeladas de água e sujeira, os bueiros entupidos. "Tem certos dias que a gente se sente...", ele cantarola.

--Porra, Pedro, não vem com essa de quem partiu ou morreu.
--Desculpe, Senhor. Foi apenas uma canção que lembrei...
--Manda sol pra eles. Escute-os, ora bolas.

Para completar o martírio do feriado gorado, um sol dos diabos queima as pestanas da multidão que aguarda a Viação Lentidão.

 

--Tá de brincation to me!!!!!!

 
 
 
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