Versos a um pássaro (*)
Prezado Benedito:
Hoje, de madrugada, reli este soneto. A amiga de sempre.
Fizeram-no, pra sempre, sem piedade,
Eterno condenado à solidão.
Alguma gente má, sem coração,
Deu-lhe alguns grãos; depois deu-lhe uma grade!
Roubaram-lhe a sagrada liberdade
E fizeram-no escravo sem razão.
Ele era inofencivo , belo e tão
terno; não conhecia a deslealdade.
Lembro-me muito bem: ele pousava
Sempre no mesmo galho e, num sonoro
Cantar, pela manhã, me despertava.
Hoje, sinto-lhe a falta. Lembro-o e choro.
Vem-me à lembrança o canto que trinava,
E para que retorne tanto imploro!
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(*) COSTA, Benedito Pereira da. "Saldunes". 2ª edição, Campinas (SP): Editora Komedi, 2006, p. 97.
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