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Cartas-->Por que não mudar a data do Carnaval? -- 29/01/2002 - 04:36 (Marcílio Dantas Brandão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
APRESENTAÇÃO

Este texto foi escrito na manhã do primeiro sábado (11/03) após o Carnaval de 2000. Comecei a escrevê-lo para que fosse uma carta que falasse de minhas impressões acerca de uma conversa que havia acabado de finalizar com minha namorada Carol. Havíamos chegado de Jericoacoara-CE na quinta-feira (09/03); passamos todo o feriado juntos, nessa praia.
O texto tornou-se uma breve crônica, da qual eu gostei. Mesmo tendo medo da reação da professora, utilizei como trabalho para a disciplina Sistemas Simbólicos, no curso de Ciências Sociais/UFC. A professora se chama Peregrina pediu um breve “relato de algum fato carnavalesco”. Considero este texto apropriado para este trabalho, pois ele apresenta o relato de um fato diretamente ligado ao meu mais recente Carnaval.
Ao mesmo tempo, penso que apresentá-lo como um trabalho acadêmico pode ser uma “viagem” muito particular e pouco apropriada para a discussão proposta pela disciplina. Contudo, relato aqui um pouco daquilo que compreendo como o estigma do Carnaval brasileiro: a “parada geral” proveniente da “... sacanagem que se institui de forma muito ampla por todo o Brasil.” Acredito que, de acordo com Peregrina, — a professora que ministra essa disciplina — esse estigma pode estar diretamente associado à forma como as pessoas simbolizam o Carnaval. Ademais, uma mulher que se chama Peregrina deve “viajar” muito também e talvez até goste de um trabalho que seja o relato de uma “viagem particular”.



Fortaleza, 11/03/2000

Ela, Carol! E por quê não mudar a data do Carnaval?

“Era Carnaval! Como é que eu ia me informar?” É exatamente isso o que ela me responde quando eu pergunto sobre o Salão de Abril. Eu peço informações mais precisas sobre esta exposição de artes plásticas para a qual projetamos três artes objetuais que executaremos em parceria. É estranho! Ela está empolgada com esses projetos, mas me respondeu rispidamente. Eu estava procurando umas anotações nesta mesma agenda em que agora escrevo. Ela, sentada ao meu lado, no sofá, vê que eu me detenho nos projetos do Salão de Abril, então eu aproveito a atenção dela sobre os meus atos e pergunto sobre a exposição. Ela já estava na iminência de falar, eu já antevia os seus comentários, mas ela me surpreende, contraria as minhas previsões e demanda: “Então, a gente vai mesmo fazer isso?”
Se os projetos não fossem tão audaciosos e expusessem algumas de nossas intimidades, eu não encontraria justificativas para a tal pergunta. Apesar da audácia dos projetos, o questionamento ainda me soa estranho, já que ela se arvora tão audaciosa; eu não entendo o porquê dessa vacilação. Mas, a minha resposta à pergunta dela é uma reação, a um só tempo, instintiva e incisiva, que tenta proteger a minha auto-imagem de criatura audaciosa. A resposta: “Mas você nem se informou sobre o Salão!”
É esta a frase que a transforma, que a faz ríspida. Esta frase provoca uma reação que eu acredito ser inconsciente — ela se justifica secamente com a desculpa do Carnaval. Em outras palavras, ela reproduziu todas as impressões que me parecem constituir senso-comum acerca do período momino.
Durante o Carnaval tudo pára sem nenhuma determinação racional ou mercadológica. A maior justificativa para essa parada é a sacanagem que se institui de forma muito ampla por todo o Brasil. Até mesmo aqueles que, como nós (eu e ela), tentam fugir dessa sacanagem instituída, acabam também “carnavalizando”, de uma forma ou de outra. Algumas das conseqüências dessa “carnavalização” geral são, entre outras, os hospitais que fecham; as músicas chatas que tocam em todos os lugares; as pessoas que “dançam” (leia-se: ensaiam uma trepada em público); as crianças que se digladiam com maizena; a polícia que reprime e recolhe alguns foliões que se excedem.
Parece que a única instituição que se mantém realmente ativa — reprimindo mais que em qualquer outra época — é a nossa respeitável e querida polícia nacional.
Mas não me pretendo moralista ou puritano e, portanto, não pretendo julgar o Carnaval. Na verdade, considero que o período carnavalesco tem até poucos dias para fazermos aquilo que considero mais propício neste feriado — extirparção de alguns dos demônios e traumas que nos cercam. Nesta tentativa, alguns tentam exorcisar os seus demônios se travestindo; são homens que se vestem de mulheres e vice-versa. Há outros que aproveitam para beber “um pouquinho mais”; “afogar as mágoas” ou coisas do tipo. E há, ainda, muitos outros que se exorcisam de formas diversas.
Em tempos de recessão, nesse “Brasil Real” em que vivemos, considero até muito necessária toda esta festança carnavalesca que infelizmente tem data definida à revelia da opinião da grande maioria dos foliões. Eu, por exemplo, — apesar de não me considerar um folião, no sentido carnavalesco da palavra — preferiria que o Carnaval fosse em dezembro, logo no início de dezembro. Assim, acho que contrabalançava com a fatídica data em que se comemora o nascimento de Jesus.

Marcílio Dantas Brandão
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