o beijo que pedes,
não posso dar-te.
teria um sabor ausente de paixão
o beijo que pedes
seria doce, decerto.
entretanto, ameno e frágil.
a noite que queres,
não me pertence.
o meu amor é brisa que perpassa
o breu escuro,
buscando o encontro imponderável
com o meu poeta distante.
não posso dar-te suspiros de amizade,
nem há fogo em ternura antiga,
ou cavalgada qualquer sem a paixão
que açoita a alma e atiça a chama
quem sabe me roubes o beijo, um dia,
nesses abraços ternos que trocamos,
ou num poema, possas beijar-me com tua voz
grave e tocar-me o espírito,
trazendo-me o véu do esquecimento
- outros lábios que sonho beijar.
ora, quem sabe,
se num sarau desses, de poemas,
quando cantares de novo aquele fado,
possas tocar-me verdadeiramente
e em vez de amigo, possa eu ver o homem.
10122001
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