Contemplando a chuva, dá-me a impressão de que a natureza também tem seu momento de tristeza por assistir a morte gradativa de seus rebentos. Os rios e córregos chegam a vomitar de tanto choro e vão soluçando por todas margens sem perceber que ruminam nas cidades tudo o que o humano produz. Os ratos mergulham felizes e nadam ainda sem rumo longos trechos a procura de um lar. As cobras seguem assustadas sem entender, erguendo-se a procura de uma explicação e os cães fazem do seu nado, uma lição de vida à busca do seu amado dono que o deixou escapar em busca do próprio salvamento. As águas turvas invadem ruas, casas. Tudo abriga o choro da mãe que segue inconsolável e o sol tenta chegar perto para aquecer a frieza dos filhos. É trégua e sigo acompanhando tudo sem questionar, da janela do metró. Pessoas refazendo suas vidas, resgatando seus pertences, sem muitas opções para no dia seguinte, tentar sobreviver. E tentar abrir um sorriso triste de quem só conta com a sua realidade sem muitos projetos. Apenas esperam que o dia termine logo e que um novo dia seja capaz de recarregar seus parcos sonhos, pois não têm muito tempo para sonhar. Só viver.