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Artigos-->A NOVA ABOLIÇÃO -- 19/10/2003 - 09:53 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A NOVA ABOLIÇÃO



Francisco Miguel de Moura

Escritor, da APL



No último 15 de agosto tivemos, na Academia Piauiense de Letras, um dos momentos culminantes do seu programa de conferências "O BRASIL NO LIMIAR DO NOVO MILÊNIO", com a aula magnífica do Prof. Cristovam Buarque, sobre "A Economia Brasileira no Limiar do Século XXI" e, logo após, o lançamento de "A Nova Abolição", Editora Paz e Terra, Rio, 1999, livro que se dirige aos 5.500 prefeitos e dezenas de milhares de vereadores que serão eleitos, mas, acima de tudo aos eleitores de outubro, "uma geração de mais de cem milhões de brasileiros" que "está decidindo agora o futuro do nosso país". Como vimos, o tom inicial é profético.

Poderia também ter o subtítulo de "O Desempobrecimento do Brasil". O livro teve origem, diz Buarque, "no propósito inicial de responder às questões colocadas pela comissão constituída no Congresso Nacional para debater o tema da pobreza, talvez a primeira com tal objetivo, na longa história do nosso Congresso".

Mas também diga-se a verdade: – Pela primeira vez alguém do porte de Cristovam Buarque, Professor da UnB, ex-Governador de Brasília, doutor em Economia pela Sorbone, discute a pobreza do Brasil. Além do mais, organizou um projeto para erradicá-la. "É agora ou nunca." Argumenta que desempobrecer o Brasil é urgente como foi urgente no final do século passado acabar com a escravidão negra. Para tanto é necessário deixar-se de pensar e orientar o Brasil apenas para a economia e o mercado como fizeram desde o seu descobrimento, criando o mostro que é essa apartação dos pobres. Há que pensá-lo também eticamente – o que nunca foi feito nesses 500 anos (e, por isto mesmo, não deu certo). O problema é modificar a pirâmide social, trabalhando a economia a partir da base. Aqui é onde deve entrar o Estado. Pois sem o empurrão das verbas sociais que o Governo dispersa do orçamento nacional – com orientação para distribuir renda a partir do crescimento econômico da elite, com incentivos fiscais para os ricos ou outros mecanismos que nunca chegam à base e se algo chega vem viciado e com a completa descaracterização do sentido de cidadania – sem esse empurrão, nem aqui nem em lugar nenhum do mundo será possível um crescimento equilibrado.

"Este documento" fala Buarque com certa humildade e muita consciência, " não pretende abordar todos os temas da construção de uma nova nação brasileira. Ele se concentra em sugestões de como erradicar a pobreza. Não pretende ser uma panacéia irreprovável de idéias e propostas. Mas é um documento que se recusa à omissão. Ao mesmo tempo manifesta sua indignação com o quadro presente e avança em oferecer alternativas; algumas se mostrarão válidas e sedutoras à nossa geração, outras serão corrigidas, combatidas, modificadas ou ignoradas. Mas ao mesmo tempo o Autor faz a afirmação de que "ele foi escrito com um pé nos desejos outro na realidade, um manifesto com um olho nos sonhos e outro nas contas, por isso um manifesto-proposta."

O projeto "Bolsa-Escola", de Cristovam Buarque, concebido especialmente para a Educação, mercê de sua extensão, criatividade e filosofia acabou tornando-se um Projeto geral e para todo o Brasil, pois incorpora outros congêneres como o Poupança Escola, o de Investimento Pré-Escolar, o de Incorporação Cívica dos Jovens, o de Reforma Agrária, o de Casa Para Todos.

Do projeto Bolsa-Escola – que Cristovam Buarque, colocou em prática em Brasília, quando foi seu Governador – outras entidades administrativas copiaram seus princípios e estão pondo em aplicação, com a adaptação que requer cada município, cada comunidade. Mas também outros países do mundo o copiaram e agora estão aplicando, com sucesso, para o bem de seus governados e para gáudio do seu autor.

Estendeu-se, assim, a todo o país, o projeto Bolsa Escola – cujo modus faciendi, em resumo, é reter a criança na escola, durante o curso fundamental, com a fiscalização de seus pais (obrigatoriamente, pobres ou desempregados) e através de um salário que receberão para que o menino estude, ao invés de mandá-lo ao trabalho ou deixá-lo na rua. É uma distribuição de renda fabulosa, mas não gratuita. Ao passo que vão passando os 8 anos previstos para duração, a economia da base da pirâmide social crescerá e se modificará, e vão diminuindo por isto as despesas da área social do Governo pela dinamização do dito projeto e seus efeitos sócio-econômicos. O país se tornará rico entre os ricos, como um todo. Mas não somente isto: diminuirá a violência e seu povo será feliz.

Se a elite deste final de século e começo do XXI não é burra, certamente tirará a venda dos olhos e verá que o custo de viver num país com tantos pobres e tantos problemas é maior que dobrar-se á evidência da ética. Não vai, portanto, querer deixar uma herança social tão pesada, com as manchas da escravidão dos sem-terra, sem-teto, sem-escola, sem-comida, sem-roupa, sem-saúde, sem-transporte, sem-nada, em cujo buraco negro poderão vir a cair seus descendentes. E Cristovam Buarque não deixa de lembrar o bom senso e a inteligência dos alemães ocidentais quando incorporaram seus irmãos pobres do leste, responsabilizando-se portanto pelo custo social em troca do ganho de uma grande nação.

A burguesia do final do século XIX foi beneficiada com a abolição da escravatura negra. Ela estava louca por seu desfecho, a história mostra isto. Assim também, a atual burguesia está vendo, como aquela por sua maioria – de quem descende diretamente a elite dirigente de hoje – que é burrice mesmo não render-se à evidência, não colaborar na obra imensa obra que é a segunda abolição. Quanto ao custo financeiro "é menor que o custo social de não fazê-lo", diz o autor de "A Segunda Abolição". Na primeira etapa, para tirar as crianças do trabalho e da rua e colocá-las na escola, vai ser menos do que o desembolso pelo BNDES para salvar o menor banco privado, no ano passado, por exemplo.

Enfim, este é um livro que deve ser lido, relido, meditado por todo brasileiro que se preza. E deverá estar em todas as escolas e à mão de todos os nossos líderes, nas cidades e no campo. Um livro sério, inteligente, profundo e transformador, feito com a cabeça e o coração, repleto de humanidade. O livro do século.











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