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Artigos-->SINAL DOS TEMPOS -- 18/10/2003 - 08:22 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Sinal dos Tempos

(por Domingos Oliveira Medeiros)



Relógio que atrasa não adianta. Assim diz o ditado popular. Mais uma vez, nossas autoridades governamentais insistem no malfadado horário de verão. Que não tem sido muito bem recebido em determinadas regiões do país. Principalmente longe do litoral. No litoral até que o horário dá a impressão de que o dia fica maior. Pois maior é o tempo em que o dia fica mais claro. E, sendo assim, ao sair do trabalho, o cidadão, que mora na beira do mar, pode se dar ao luxo de banhar-se nas águas mornas do oceano. Eu já fiz muito isso no tempo em que morei no Rio de Janeiro. Até aí, tudo bem. Mas daí a transformar o horário de verão numa propaganda enganosa, como se fosse medida de grande economia de energia, cá pra nós, vai uma longa distância.



Primeiro, porque a economia que se faz é a chamada economia de mendigo. A economia da porcaria. A economia da miséria. Segundo, porque, a rigor, eu não vejo resultados práticos a favor da população. Minha conta de luz, por exemplo, e como de resto de todos os meus amigos, em todos os horários de verão a que fomos obrigados a cumprir, continua chegando com os mesmos valores de antes. Quando não registra um consumo de energia maior. Se é verdade que no horário de verão a noite demora a chegar, não menos verdade é o fato de que a manhã também já amanhece às escuras. E lá vamos nós ter que gastar mais energia: no banho de chuveiro, ao acender o fogão para fazer o café, torrar o pãozinho nosso de cada dia, e assim por diante.



Num país de dimensões continentais como o nosso, em que, justamente por isso, já possui vários fusos horários, não me parece que este horário de verão, artificial e enganoso, possa, realmente, trazer algum benefício em termos de economia para o nosso país. E se trouxer, com certeza, não haverá correlação positiva entre a diminuta economia que se faz e os grandes transtornos que acarreta, inclusive para a saúde da população.



O governo, na verdade, adora fazer hora conosco. E deixar o tempo passar. Parece até que não tem mais nada o que fazer. Não é por acaso que o nosso país, há tempos, vem sendo chamado de o país do futuro. Não vejo a hora desse futuro chegar. Aliás, para ser franco, cada vez que o tempo passa, estamos mais próximos do passado. Andando na contramão do tempo. No sentido contrário dos ponteiros do relógio. Talvez seja por isso que o governo insista tanto no horário de verão. Porque nesse horário, como é sabido, logo no seu início, adiantamos nossos relógios em uma hora. É o máximo de futuro que nossos presidentes conseguiram até hoje. Futuro que, ao término do horário de verão, volta ao seu passado. E continuamos parados no tempo. Em todos os sentidos.



E a questão do horário no Brasil virou mania. Significado de ordem cultural. Brasileiro adora chegar atrasado em qualquer lugar. Deixa sempre para fazer as coisas na última hora. Votar, pagar impostos, por exemplo, são questões que já fazem parte do nosso folclore cultural.



Quem não conhece um vestibulando que não tenha chegado na porta do colégio para realizar suas provas, quando as portas já estavam fechadas? E quantas noivas não costumam atrasar sua chegada à Igreja ? E às vezes tem noivo que também atrasa. E outros que nem aparecem no casório. E as contas? Sempre depois do vencimento. Quando o aviso de pagável em qualquer banco já não vale mais nada. Ou seja, vale sim: vale multa de 2% e mais juros de 1% ao mês.



Nesse particular, do cumprimento de horário, somos o oposto perfeito dos ingleses. Nossas festas, nossos churrascos, nossos encontros e desencontros com as namoradas, nossos atrasos ao trabalho, enfim, nunca são obedecidos rigorosamente. Mas os exemplos partem de todos os lados. Médicos e dentista que se prezam não costumam obedecer ao horário que eles mesmo estabelecem para seus pacientes. Não é por outro motivo que os consultórios sempre estão cheios de revistas. Revistas também fora de tempo. De meses e meses passados. Já tive a oportunidade de ler uma revista, no consultório dentário, datada de uma época em que o próprio dentista ainda não tinha nem nascido. Cheguei até, por alguns segundos, a duvidar de que ele fosse, realmente, formado. E quase fui embora dali. Não fosse um companheiro que me alertasse que ele trabalhava junto do seu pai. Que também, como ele, era dentista.



Na próxima vez poderemos falar de outros horários implicantes como o horário eleitoral, por exemplo. Agora não posso mais. Está na minha hora de fazer hora. E amanhã será outro dia. E temos que aproveitar esta sobra de uma hora, antes que o horário de verão chegue e suma com ela. Vamos descansar que, afinal ninguém é de ferro. E o tempo é o melhor conselheiro.



Brasília, 17 de outubro de 2003







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