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Cronicas-->O CAÇADOR DE TEMPESTADES -- 10/06/2001 - 11:13 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Muito cedo senti que estava cerceada no meu direito de manifestar-me e que era proibido até no colégio falar sobre política ou criticar qualquer coisa que se referisse ao governo. A minha casa e a dos meus avós onde se reuniam políticos e escritores cada um optando por um caminho, mas todos dando sua opinião, alto e em bom som, parecia-me meio silenciosa. Silenciosa e triste.
Meu tio que era militar havia sido preso por suas idéias socialistas ou comunistas e estava incomunicável só podendo entrar lá meu pai que era seu cunhado e advogado e o amigo dele, o grande advogado Evaristo de Morais Filho. Tudo se tornou a meus olhos algo violento que eu pressentia, mas não entendia. Naqueles longos dias de prisão política, meu tio ainda mais se aprofundou em suas teorias.
Não me lembro, é claro das coisas que se passaram com detalhes, mas guardo sons de frases e a melancolia que se transformou a família.Meu tio saiu da prisão, mas foi reformado. Com apenas 35 anos foi-lhe negado tudo que ele sonhara.O espectro da revolta começou a rondar-lhe e a perturbar seus dias de paz.
Lembro-me que o via muitas vezes dando aula de matemática particular para alunos avançados. E tornou-se interiormente infeliz. Nunca o senti, entretanto, amedrontado ou negando suas teorias. Certa vez em que estávamos no restaurante ouvi um rumor e a voz dele que dizia para outra pessoa que eu desconhecia
-Sou major reformado pela revolução e comunista convicto.
Além de tudo teve problemas com a família porque meu avó era diametralmente o oposto e suas idéias se chocavam fazendo com que muitas vezes discutissem de forma contundente. Acho que minha tia com sua força e luz e a Yoga, de certa forma, ajudaram-no a suavizar a revolta que o dominava interiormente.
Observava o quanto as pessoas se calavam aceitando um regime difícil e ditatorial, construído por uma revolução, é verdade, mas no qual havia gente sofrendo, pessoas desaparecendo e sendo torturadas segundo se soube.
Minha tia costuma dizer que o marido fora denunciado por um colega militar que ele encarava como amigo e isso traumatizou muito a vida deles. Ficaram machucados pela traição tão perto e violenta. Com tudo isso desde garota comecei a sentir o quanto nosso povo precisava falar, manifestar-se, exercer uma cidadania que estava inativa pelo comodismo e inércia daqueles anos todos de ditadura. Eu como milhares de brasileiros nunca tinha votado para eleger o presidente da República e por vezes sentia-me civicamente mutilada.
Houve um momento em que a nação iria ter esperanças sucessivas:
No fim do governo Figueiredo deu-se um movimento mais efetivo com as "Diretas Já". E quando em 1986 Tancredo Neves foi eleito embora indiretamente o povo começou a entusiasmar-se. Vibraram com a figura do ilustre mineiro. Embora ele nunca tivesse sido um líder e não tivesse características para tal, naquele momento difícil surgiu como o verdadeiro Salvador. E o povo passou a amá-lo como um carismático empreendedor.
Sua morte às vésperas de tomar posse transformou o Brasil num vale de lágrimas porque depois de tantos tormentos o país estava enfeitiçado com a figura serena e digna do Presidente ainda não empossado.
Sarney assumiu o governo com a tristeza geral de uma população. Não sei se Tancredo seria o presidente maravilhoso que todos pensavam, mas estavam concentradas nele expectativas imensas, impressionantes.
Quando o novo Presidente da república convocou no começo de seu governo a Assembléia nacional Constituinte, todos os brasileiros centraram suas esperanças na Nova Constituição que estava sendo elaborada depois de 42 anos (a última fora feita em 1946).
E como o Presidente da mesma era o nosso grande e tão querido Doutor Ulisses Guimarães, a fé redobrou e isso nos faz lembrar sua maravilhosa frase que parecia uma predestinação:
" Político, sou caçador de nuvens. Já fui caçador de tempestades. Uma delas , benfazeja, me colocou no topo dessa montanha de sonho e de glória" Emocionante e misteriosa, essas palavras proferidas pelo Doutor Ulysses, marcaram a história. Sua morte trágica, num desastre de avião e cujo corpo não conseguiu ser resgatado do oceano onde caíra, constituiu motivo de dolorosa aflição do povo que o admirava.
Mas antes ele nos deixara um presente inegável: A constituinte promulgada no dia 06-10-88. Daí em diante o Brasil tem vivido de expectativas incessantes e sucessivas.
E será que o atual governo quer desrespeitar o que foi tão desesperadamente esperado em dias cheios de luz e brilho e estimulados pela personalidade, inteligência, vigor e dignidade do nosso tão querido Doutor Ulysses Guimarães? Espero que não e que pelo menos esse estandarte da democracia seja preservado.

Vània Moreira Diniz
www.vaniadiniz.pro.br

Caçador de Tempestades - Nome dado ao texto em homenagem à frase pronunciada pelo Doutor Ulysses por ocasião da promulgação da constituição de 1988







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