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cronicas-->Bar -- 30/08/2016 - 09:07 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Bar, este elemento mítico que está sempre nos sonhos de tantos abençoados poetas quanto no de míseros devedores de banca de jogo do bicho ou de casais apaixonados que aquecem os seus corpos para tais e quantos aquecimentos vindouros ou ainda mais, de restolhos de casais falidos, já um sem companhia, um mais desenxabido que outro. É aqui que estão os dois aspirantes ao generalato da palavra urdida; ambos se cumprimentaram polidamente ao saberem do outro o mesmo destino de um. Medem-se olho a olho, um os tem claros, outro os possui mestiços. Um tem tez branquejada, outro a tem morena. Ambos se arroubam orgulhos desmedidos, na medida exata em que parecem ter seus talentos espicaçados.
--Mas olhe quem encontro/Medido e transparente/ Ele tem cara de gente/Mas se sente ofendido/quando lhe passa à frente/um poeta de mais sentido.
--Pois da Europa não tenho medo/que minha terra é esta daqui/mais tenho receio do falido/que se acha descomedido/Num proseio sem sentido/que o faz mais retirante/e salve companheiro distante/de tanta toca passada, toque aqui meu camarada...
O garçom, desconversando sua sombra que insiste em sair de um lado ou de outro (ele já está mais que acostumado às intermitências de sua silhueta) se aproxima da batalha que hoje promete um tanto.
--O de sempre?
--Nem tanto nem tampouco...
--Nunca responde uma pergunta/este nosso Faetonte/E que mal lhe diga à vista/O que de fato tanto assunta/O moço de pano afeito/pergunta tão assim direito/Queremos o de bom/o que ostenta de melhor/o de sempre é muito pouco...
Confuso, o pobre servidor rabisca um papel com o provável pedido e traz aos dois poetastros duas cervejas ao ponto.
--Esse moço é poeta/nas coisas que repara/viu nos olhos a mutreta/que o povo não prepara/leu nos nossos beiços/a sede que se espalhara/traz de volta o começo/da conversa escancarada...
--Esse moço é que merece/toda nossa atenção/vide o moço mais ao lado/mais queimado que tição/onde ele perdeu tanto/que ninguém se lhe depara/nem a moça bonita, que fica aflita/com tais olhos de emoção...
O casal ao lado, mais entretido em carícias sob a mesa, ouve a prosaria solta, dá um riso escondidinho e se prepara para sair, não sem antes fazer a lambança de derrubar um copo semicheio da cerveja que puderam pagar. Mais adiante, sozinho, está um moço de olhos fundos, mais olheiras do que olhos, mais rugas do que rosto; ele bem podia fazer tal quadro de desgosto que artista nenhum lhe poria defeito, e lá está ele e a moça do outro lado olha comprido, talvez apiedada, ou mais, apaixonada pela solidão que ele transporta para sua mesa vazia, suas mãos trêmulas de uma ausência que dá dó.
--Pois se eu fosse tanta gente/que se mete em enrascada/eu vivia indigente/de tanto que gastara/olhe o moço aí tangente/e a moça que repara...
--Ela vai ficar olhando/ou vai tomar o tento/pedir a conta ao sargento/ou sentar na mesa do encanto/eu se fosse ela/pedia um tira-gosto/convidava o choramingas/para assumir o posto/e vamos que a vida é um espanto.
A moça pediu um pastel, comeu com gosto e lentidão, pensativa e de olhos fitos no solitário que apertava as mãos tristonho. O casal irreverente já partira, o garçom recolhia algumas mesas, era tarde na vadiagem, a rua vazia e silenciosa. Um ou outro passava rente ao muro, vultos vagavam na noite alta e fria. Calados, os poetas cercavam o triste personagem de pura luz e enleio. Ele enternecia os olhos de quem o visse: Magoado, dir-se-ia que perdera um parente próximo. A moça do pastel levantou-se e decidida, sentou-se à mesa do moço bonito e triste.
Os poetas se olharam, cúmplices de tal encontro. Já não existiam de fato, eram apenas ouro e mirra, suas rimas se perderam no fundo do bar e o garçom de duas sombras já não sabia se sonhara ou se servira duas cervejas a dois artistas que se esqueciam de morrer, então vinham tomar uma bebida no velho bar de tantos encontros e despedidas.
--Considere o senhor/a tal situação/os dois finalmente se uniram/para trocar de coração/pois que quando um ama há outra tamanha transfusão/que um já não sabe se é outro/ e outro não se sabe mais um!
--Considere pois cumprida/mais uma de nossas vidas/continuaremos vindo aqui/até que Horácio nos tema/de tanto fazer a rima/se parecer com um poema/veja o beijo de ambos/considero a missão cumprida!
Um guinéu foi o prêmio de tal partida.
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