Publicado no jornal O POVO, dia 2 de janeiro de 2004.
Michel Pinheiro – Presidente da Associação Cearense de Magistrados
Objeto do desejo entre seres da espécie animal, o poder entre os racionais tem exercido um fascínio digno de investigação ontológica. Em seu “discurso filosófico” disse Voltaire: “como um homem pode tornar-se senhor de outro e por que espécie de incompreensível magia pode se tornar senhor do muitos outros homens?” Ser senhor é um desejo oculto ou explícito dos humanos. Voltaire ainda faz a diferença: “como se elabora o conceito e a necessidade de poder?” Da clava dos trogloditas às jogadas de marqueting, têm evoluído naturalmente os meios para atingir o domínio de uns sobre os outros e, com o respeito devido, o Príncipe de Maquiavel tem se transformado em sapo pelos marqueteiros de plantão, notadamente pela circulação de compêndios sobre o tema onde se recomenda aos “poderosos” a hipocrisia, a dissimulação, o culto à personalidade, dentre outros teorizando verdadeiros “tratados de velhacaria”, segundo filósofo local. Poder e liderança são interligados, e há o momento certo de compartilhar, dar espaços a novas lideranças. Nelson Mandela é exemplo de legítimo líder. Os anos intermináveis de cárcere levaram-no ao poder de forma legítima - materialização do ideal democrático. Exemplo raro, pois e comum vingarem os “desesperados” pelo poder, ávidos por holofotes e pelas homenagens, agarrando-se de forma predatória com o esmagamento de concorrentes. Pobres humanos. Ideais? Ignoram, suas metas são puramente fisiológicas e não sobrevivem ao mínimo de coerência. Ser líder é pensar grande, agindo socialmente para construir um mundo melhor, preferindo o coletivo ao individual. A crise do homem deverá perdurar, mesmo ciente de que Deus lhe concedeu o livre arbítrio. O poder entorpece os corações. Para Augusto Cury: “o maior líder não é o que governa o mundo, mas o que governa a si mesmo”.