DIA DOS MESTRES. MEU PERDÃO Á DONA ELISA
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Não pretendia retornar a este assunto. Dele, já falei muitas vezes aqui neste espaço, e em tantos outros. Mas, diante da mutilação que estão fazendo com o ensino da Língua Portuguesa, na acepção ampla do aprendizado, ou seja, eliminando a Literatura dos currículos escolares, resolvi relembrar a infeliz frase, atribuída ao nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo o qual “ os professores limitam-se a repetir em suas aulas o que outras pessoas fazem”.
Alusão , injustificável, baseada na premissa de que, “ao cientista que não consegue fazer grande descoberta, só lhe resta a alternativa de ser professor”, conforme assim concluiu o ex-presidente.
Não é por outra razão que o país não consegue sair do apagão político, econômico e social em que se encontra. A escuridão envolveu, de vez, o bom senso, a criatividade e o respeito por uma classe tão desmerecida. E o desrespeito aos professores – principalmente os do ensino fundamental - derrama, naturalmente, em cima de todos os brasileiros, a indignação dos alfabetizados e dos analfabetos que aguardam, há tempos, por uma política educacional que valorize o ensino público de boa qualidade, motivando e facilitando o acesso a educação, na acepção ampla do termo, acabando, de vez, com a ferida do desencanto maior, daqueles que não tiveram a oportunidade de olhar mais adiante.
Da maior ou menor atenção que se der às questões educacionais neste país, dependerá, em grande parte, o tão almejado crescimento econômico e social, bem como a ruptura da subserviência ao capital estrangeiro.
Peço perdão a D. Elisa Augusta Rodrigues - quiçá ainda viva, e com saúde – minha primeira professora, fato que já demanda algum tempo, remetendo-me aos seis, sete anos de idade, na Cidade do Rio de Janeiro, local onde foram abertas, pela primeira vez, as duas principais janelas que dão vistas permanente para a imensa paisagem do conhecimento humano e do crescimento pessoal e profissional: as janelas “do ler” e “do escrever”. Janelas que logo deram acesso a tantas outras: janelas de observar; de pensar; de refletir; de criar; do aprender contínuo; de colaborar; de perdoar; de ter fé, de amar e de ensinar, entre tantas outras janelas que dão vistas para o mar dos sonhos necessários, das fantasias realizáveis e da utopia possível.
Peço perdão, portanto, à minha inesquecível professorinha, ainda que a serventia do aprendizado, que muito agradeço, seja, neste momento, para sugerir que se coloque, de joelhos, de castigo, no milho da reflexão e do arrependimento, nosso ex-presidente e professor Fernando Henrique Cardoso, cujo mestre, por certo, acumula, como todo bom alfabetizado, uma enorme dívida para com quem o ensinou a andar pelos caminhos das letras e das palavras. PARABÉNS A TODOS VOCÊS. Que nos pegaram pelas mãos, e nos mostraram os caminhos da escrita e da leitura.
“De calar não te arrependerás nunca; de falar, muitas vezes”, para utilizar feliz expressão do Monsenhor José Maria Escrivã.
Domingos Oliveira Medeiros
Brasília, 14 de outubro de 2003
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