A Síndrome da Falta do Que Fazer
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Parece que a síndrome da falta do que fazer tomou conta do Partido dos Trabalhadores. O deputado federal Chico Alencar (PT-RJ), a quem admiro bastante, desta vez pisou na bola. O ilustre parlamentar apresentou anteprojeto de lei ao Congresso Nacional propondo alteração do lema da Bandeira Nacional para incluir a palavra Amor, antes de “Ordem e Progresso”.
Entre as justificativas apresentadas pelo referido deputado, ressalta a de que o objetivo da proposta seria a de resgatar a filosofia do positivismo (surgida no século XIX), inspirada na filosofia de Augusto Comte, que teria servido de orientação para o lema atual.
Não me queira mal o ilustre deputado, mas estarei torcendo para que a proposta não prospere; e nem encontre acolhida junto aos seus pares; por várias razões: a primeira delas é a de que a palavra amor está muito desgastada; seu significado, na sociedade atual, é bem outro; e, por sinal, muito distante da acepção ampla do termo. Assim sendo, a bandeira correria o risco de ficar mais para propaganda de motel, do que para representar a grande Nação Brasileira.
Depois, tem a questão levantada pelo professor de História Contemporânea - da Universidade de Brasília -, Estevão Chaves Martins, segundo a qual, e contrariamente ao que pensa o nobre deputado, “ o Brasil foi inspirado por diversos pensamentos, inclusive o positivismo, mas o filósofo francês não chegou a ser o patrono da República brasileira.”. Ainda segundo o citado professor, “Somos herdeiros de uma ideologia não somente de Comte, mas principalmente ligada ao pensamento de que o desenvolvimento econômico do século 19 traria progresso e, por sua vez, bem-estar generalizado”.
Com efeito, não há que alterar nada em nossa bandeira. Basta empunhá-la com amor e seguir, ao pé da letra, o que lá está escrito. A ordem, no sentido da disciplina, da responsabilidade e do respeito na condução da administração deste nação, rumo ao seu futuro vocacional de grande potência mundial; amante das paz, da liberdade e da justiça social.
Depois, basta perseguir o progresso, a partir do estabelecimento de diretrizes políticas e econômicas, assentadas em planejamento previamente e amplamente acordado com todos os brasileiros, e em perfeita sintonia com os anseios de nossa população, como um todo.
Só deste modo seremos capazes de gerar resultados palpáveis e necessários: como, por exemplo, a retomada do crescimento econômico sustentado, a geração de empregos, a distribuição de renda, de oportunidades e a garantia de ascensão e de crescimento profissional, pela via da educação e da cultura.
Precisamos deixar de lado o apego excessivo ao marketing e a propaganda. Estas ferramentas podem até garantir o aumento da popularidade de uma nação, e o conseqüente aumento das vendas de seus bens e serviços, principalmente no exterior, mas, quase sempre, não garantem a qualidade do produto.
Brasília, 13 de outubro de 2003.
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