POR BAIXO DOS PANOS
É debaixo de teus panos,
Bem cortados panos,
Mal traçados planos,
Que meus desenganos
Encontram razão
para perpetuar a busca.
É bem embaixo dos tecidos
Que encontro, atrevidos,
Olhos e bocas, dedos e mãos,
Que escorregam apressados
Para verem desvendados
Os mistérios da paixão.
É por baixo dos panos
Que o sopro da vida toma forma
E informa a meu corpo
A hora de despertar.
Sim, é bem embaixo,
Sem tramas ou fibras,
Cheio de vontades lascivas,
Que o monumento erguido
Em louvor à vida
Encontra a justificativa
Para infiltrar de sementes
Os campos arados
Fecundos do meu mundo.
É no último contato dos panos
Que os suores são secos,
Que os tremores são loucos,
Que os temores são poucos
E que tua pele toca, sem pudor,
Os pelos farfalhantes,
Os contornos insinuantes,
Os anseios extenuantes,
De uma noite de amor.
Lílian Maial
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