Usina de Letras
Usina de Letras
163 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62072 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50478)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Relembrando a Semana da Arte Moderna -- 13/10/2003 - 10:50 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


RELEMBRANDO A SEMANA DA ARTE MODERNA

(por Domingos Oliveira Medeiros)



Corria o ano de 1922. São Paulo apresentava assombroso crescimento industrial por conta do capital oriundo das grandes lavouras cafeeiras. Consolidava-se como centro econômico do país, para onde sopravam os ventos da modernidade que a transformaria na principal metrópole brasileira. A indústria começava a ser diversificada pelos chamados italianos, descendentes dos imigrantes da segunda metade do século passado, àquela altura transformados, uma parte, em empresários ricos e bem sucedidos, e outra “em líderes corporativos e sindicais que não hesitam em apregoar o anarquismo, o socialismo e até o comunismo“, conforme nos dá conta o jornalista Carlos Chagas, em sua obra “O Brasil Sem Retoque”, Volume I, página 282.



Era época de grande convulsão social. De grandes transformações sociais. De grandes questionamentos existenciais. De ansiedade por mudanças. Assim, acontecia, há cerca de 80 anos, a Semana da Arte Moderna. O Brasil comemorava 100 anos de República. E as eleições também já se discutiam nas ruas. Para substituição do, então, presidente Epítácio Pessoa, que viria entregar o governo a Artur Bernardes, eleito em 01 de março de 1922 e que tomou posse em 15 de novembro daquele ano.



Ano de muitos acontecimentos marcantes. O Movimento Tenentista, a fundação do Partido Comunista Brasileiro, a criação de vários jornais de cunho socialista e/ou comunista, como, por exemplo, a Classe Operária, e tantos outros. Semana que começou a ferver a partir dos acontecimentos enraizados em 1917.



E os desejos por mudanças vinham acompanhados de diferenças marcantes. Enquanto alguns endeusavam a necessidade das mudanças radicais, nas artes e nas culturas, outros a criticavam. Vejamos estas publicações dos jornais da época.



“É preciso que se saiba que nos manicômios se produzem partituras, quadros e estátuas, e que essa arte de doidos têm as mesmas características da arte dos futuristas e cubistas que andam soltos por aí.” Jornal do Comércio, 22 de janeiro de 1922.



“Ao público, chocado diante da nova música tocada na Semana, como diante dos quadros expostos e dos poemas sem rimas (...)sons sucessivos, sem nexo, estão fora da arte musical: são ruídos; são estrondos; (...)são disparates como tantos e tantos cabeludos que nesta semana conseguiram desopilar os nervos do público paulista...”. A Gazeta – 22/02/1922.



“Bruta sacudidela nas artes nacionais! (...) apaixonou e enlouqueceu mais a monotonia brasileira que o chama de futurismo. Enchente de tintas, vulcões de lama, saraivada de calúnias. Muito riso e pouco siso”. Mário de Andrade. Revista da América Brasileira.



O tempo é novamente de Quaresma. Última Quaresma. Que começou no dia em que se comemorava, em 2002, os oitenta anos da Semana da Arte Moderna. Tempo pois, mais do que nunca, de reflexão. Época em que a Igreja Católica lançou sua campanha da fraternidade, cujo tema é “Por uma Terra sem Males”, onde Sua Santidade manifesta o desejo de que pela união da culturas se faça um único povo. E dirige seu apelo para que se dê mais atenção a causa indígena. E eu faço minhas as suas palavras. Entendendo que o apelo deva ser abrangente. Deverá incluir, por certo, as nações africanas em dificuldades, o povo venezuelano, nossos vizinhos e amigos argentinos, o Afeganistão, o Iraque, Israel, o povo Palestino, a Irlanda do Norte, a Coréia do Sul e a do Norte, os Estados Unidos da América, a Inglaterra, a China, a Rússia, a Índia, o Paquistão, enfim, toda a humanidade, cada qual colaborando e cedendo um pouco, na medida de suas necessidades e possibilidades.



Precisamos inaugurar não mais uma Semana de Arte Moderna. Uma semana é longo tempo. Urge que nos sentemos já, à mesa de negociações, de um lado os representantes do fórum econômico, e de outro os representantes do fórum social, para discutir os termos da carta elaborada pelo grande romancista, dramaturgo e poeta português, José Saramago, Nobel de Literatura de 1998, por ocasião do término do fórum realizado em Porto alegre, que, entre outras sugestões, na linha de raciocínio acerca do que fazer, diante de tantas questões cruciantes, assim conclui sua carta:



“antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os estados e o poder econômico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna sobre as misérias e as esperanças da humanidade,ou,falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo. Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença (*) acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.



(*) Uma clara alusão aos termos do início de sua carta, por ocasião do término fo fórum de Porto Alegre, quando ele conta a história de um camponês que subiu à torre da igreja, no século XVI, e que fez os sinos dobrarem melancolicamente a finados, ou seja, diferentemente do habitual, já que esse tipo de toque se dava apenas para indicar algum falecimento, o que não havia no momento. Mas o camponês, para surpresa da população, saiu da igreja e explicou que dobrara os sinos a finados pela Justiça, que, segundo ele, estaria morta. Por causa de um ganancioso senhor do lugar (conde ou marquês sem escrúpulos) que andava há tempos mudando os marcos de suas terras para dentro das terras do camponês as quais ficavam, cada vez mais, reduzidas. O camponês protestou, reclamou, implorou compaixão e apelou para a justiça. Tudo sem resultado. E resolveu então dobrar os sinos, na esperança de que o clamor pudesse acordar o mundo adormecido e passivo diante de tanta exploração.



Brasília, 13 de outubro de 2003



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui