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Artigos-->O QUARTO PODER VIII -- 10/10/2003 - 23:01 (DANIEL CARRANO ALBUQUERQUE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O filme The Elephant Man (O Homem Elefante), da Paramount, lançado em 1980, dirigido por David Lynch e estrelado por John Hurt e Anthony Hopkins e baseado em obra literária de Sir Frederick Treves e Ashley Montagu, se refere a um enfermo, vítima de neurofibromatose ( doença deformante ) que era exibido e explorado em espetáculos circenses, na Inglaterra da era vitoriana. Era comum, até décadas passadas, a exploração de doentes em espetáculos em que se ganhava dinheiro. Naturalmente, com a evolução dos direitos humanos no mundo ocidental, tal prática foi abolida, não se assistindo mais tais atrocidades na sua forma mais explícita. Entretanto, a poderosa mídia, na sua fome exagerada de audiência a qualquer custo, vem desrespeitando esses elementares direitos da pessoa humana de forma dissimulada. No programa da Sra. Márcia Goldsmith, u’a mulher de notórios traços psicóticos foi entrevistada, com requintes de perversidade, há cerca de 7 dias atrás. Não era preciso ser médico para se notar que aquela pessoa, em cuja cabeça foi, malvadamente, colocada uma ridícula grinalda, cursava com uma enfermidade psiquiátrica. Talvez esquizofrenia ou possivelmente um surto psicótico. Anunciava-se durante o programa que aquela senhora dizia estar noiva de um cantor célebre e toda a entrevista teve como fundo musical a marcha nupcial. A entrevistadora e apresentadora, o tempo todo às gargalhadas, alimentou aquela demência, dando corda para que todos os detalhes do delírio viessem à tona para gerar humor e provocar risos da platéia. Aquela moça infeliz serviu, através de sua triste enfermidade, de matéria a ser explorada com fins de se provocar gargalhadas e aumento dos pontos nos índices de audiência, convertidos, obviamente em dinheiro, o que não a tornou, em nada, diferente do Homem Elefante do Século XIX. O que mais me entristece é que aquela pobre moça, em função de sua doença, não teve a mínima noção de que estava sendo usada como palhaça, ridicularizada, enfim, sendo exposta numa posição em que ninguém, em sã consciência – tal expressão tem aí, todo o peso de seu significado em sentido literal – gostaria de estar. E provavelmente, quando se curar do surto, haverá de sofrer intensamente pelo vexame de que foi vítima. Também me entristece o fato de que a pobre, naturalmente sem o apoio da família e sem recursos financeiros não deve estar recebendo o tratamento devido, o qual deveria, inclusive, protege-la de tal tipo de agressão. Que estigma passou a ter agora que sua demência foi mostrada a nível nacional, tornando-a então vulnerável a todo o tipo de preconceito? Que dificuldades não haverá de ter para se relacionar e para conseguir que lhe dêem emprego? Foi um linchamento público, nas barbas de toda uma sociedade que se diz civilizada. E o que mais me revolta é que um meio de comunicação que deveria ser usado de forma mais nobre se presta a esse tipo de atentado contra a pessoa humana e que ninguém, nenhuma autoridade que assistiu aquele espetáculo de horror, nenhuma ONG sequer se mexeu. Talvez a Sociedade Protetora dos Animais se mostrasse mais ativa, caso o maltratado fosse algum animal. Não venha alguém dizer que o programa foi simulado, porque os traços psicóticos eram muito bem claros. Tal comentário serve apenas para diminuir o peso na consciência daqueles que não suportam o reconhecimento da própria omissão.



Outubro de 2003

Daniel Carrano Albuquerque

E-mail: notdam@bol.com.br

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