Quando o cosmos decide e a tensão natural vem, é preciso perseverar. Até o ponto muitas vezes simbolizado pelo suor de sangue ocorrido no Monte das Oliveiras, para, através de dores como as do parto, ver a nova ordem brotar num nível muito mais elevado. Isso é ressurreição! O mais fácil? Resistir, claro, e tentar, por todas as forças, evitar que venham essas dores transmutativas e regenerativas. A alopatia auxilia muito nesse processo tornado convencional para quase todos e colabora decisivamente para eliminar essas “dores de parto” e, conseqüentemente, impedir a nova ordem de surgir. A regra da sociedade clássica guiada pelo lema do “quanto menos mudança, melhor”, fala insidiosamente contra qualquer dor de mudança. Ao primeiro sinal de gripe, antitérmico no paciente! Como se crise só tivesse o lado negativo. Como pode, então, essa sociedade que se diz cristã, compreender o verdadeiro significado do sofrimento do Mestre no calvário? O preço maior foi pago por aquele que pode fazer isso e assim escolheu livremente, mas isso não desobriga o ser humano de passar por suas avalanches pessoais de mudança de nível, nem essa crença apregoa que se devem evitar as mudanças e as dores. Ou os discípulos seriam maiores que o Mestre? E o que seria o rito que fala da vida nova simbolizada pela ressurreição, vinda depois das dores de parto? Apenas um rito do qual se perdeu seu valor mais profundo? Algo do qual se participa apenas por costume? Uma chuva acompanhada de tempestade, como a de ontem, mostra um significado que vai muito além das manchetes de jornais e de Internet. O universo se reorganiza constantemente e, para isso, vez ou outra, vem uma dessas borrascas. Que bom que é assim, principalmente quando se vê tudo molhado, regado, limpo, chãos e ares, plantas e árvores, flores, tudo renascendo depois da tempestade. Por que não seria assim com o ser humano verdadeiramente inserido na natureza? |