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Cartas-->Carta de Mário Morais -- 13/08/2008 - 18:39 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Meu caro poeta Celso Ribeiro:

Algumas leituras já programadas quando do lançamento de “Solidão Povoada” privaram-me da leitura imediata do livro. Na oportunidade, apenas folheei-o, e, somente agora, pude deleitar-me com a sua leitura plena. Fiquei encantado. No gênero, há muito tempo não lia um livro tão bom e agradável.
Naquela ocasião, em rápida conversa sobre poesia e literatura, falei de meus primeiros contatos com a poesia na minha longínqua meninice. As composições obedeciam a preceitos rigorosos de metrificação, ritmo, rima e cadência. Guardavam forma harmoniosa e estética, mas, presas a essas exigências, não deixavam de encarcerar o pensamento do autor.
A poesia moderna, como a sua, livre dessas peias, soltas as asas, liberta o entusiasmo criador, a inspiração, o imaginário do poeta. Nesse clima de arrebatamento íntimo, de enlevo, o espírito se ilumina e capta melhor o encanto da natureza, consegue a penetração no âmago das coisas, no sentimento das pessoas para que elas se mostrem, revelem seus pesares, tristezas, dor, solidão, revolta e outras emoções. Há, ainda, as que não escondem seu lado ridículo, cômico, grotesco. É esse o material de que você se serve, a ”matéria prima de seus poemas”, conforme sua própria afirmação.
Enquanto Camões cantou a epopéia de seu povo, Bilac e outros o lirismo, sentimentos e emoções de nossa gente, Castro Alves a libertação dos escravos, José de Alencar e Gonçalves Dias os sentimentos telúricos de nossos indígenas, você penetra na alma das pessoas, prescruta-lhes a consciência, os sentimentos de amargura, as frustrações, os devaneios e toda essa carga de emoções que o nosso ser carrega. São versos revestidos de profundo humanismo.
Em o “Retardado” identifico nosso popular Cláudio, desengonçado, cambaleante, ziguezagueando no meio das ruas, silencioso, mas com a língua afiada para proferir obscenidades capazes de envergonhar até pessoas mais despudoradas.
No poema “Impotência”, estranha a busca de inspiração em coisas repugnantes e desagradáveis aos nossos sentidos: o nosso triste lixão. Faz-nos lembrar Augusto dos Anjos.
Comovente o dramático apelo do velho em “Homo Consume”: “Não quero ficar velho, esquecido, fedido, cuspido. Não me deixe aqui, venha, venha me consumir, sumir, ir”.
Os recursos expressionais, principalmente as aliterações, além do vigor que imprimem à idéia, produzem também uma sucessão harmoniosa de efeitos sonoros estéticos, cria uma musicalidade que valoriza o verso. Fede feia fumaça que fumega, do poema “Impotência”, e perpassa-se a vida passada, amada, amarrotada, dobrada, do poema “Etrom”, além de vários outros exemplos, são expedientes que embelezam a poesia. A morfologia flexional, suprimindo sílabas e transformando os vocábulos em diminutivos, como em Ninzim de Passarim e Nim de Nenezin, imprime ao poema um delicado sentimento de ternura e carinho. Todos estes recursos foram usados sabiamente, com muita propriedade, inspiração e bom gosto.
Sem nenhum demérito aos demais poemas, todos de excelente qualidade, um louvor especial para “Nossos Cultos Segredos”, “Nudez”, e Deus Feminino.”
Não é necessário dizer, meu caro poeta, que estes ligeiros comentários não são uma análise literária, mesmo porque me faltam condições para tão grandiosa tarefa. Seu livro oferece campo para uma dissertação muito mais desenvolvida, um estudo muito mais avançado das sábias e filosóficas idéias de seus personagens, humanos, irreais ou imaginários. O que escrevi é apenas a manifestação do entusiasmo que me causou seu ótimo livro, mas o universo de minha pequenez não me permitiu ir além disto.
Continue a escrever. Sua estréia é muito promissora.

Um abraço do amigo
Mario Morais

Bom Despacho, 07/04/06
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Bom Despacho, 13 de abril de 2006: (Quinta-feira. Véspera de sexta-feira da Paixão! Treze! Número de azar para muitos... Sorte a minha ter lido a carta que o senhor me enviou!...)

Ao Sr. Mário Morais,

Ave!
Grata surpresa ao receber missiva tão delicada e rara. Delicada pelo gesto. Rara em nossos atribulados dias de atravessar pessoas como se números estatísticos fôssemos todos, massa de notícias de todos os cantos. Sem alma. Ou com a alma tão perdida que se fica sem saber se a temos ou não. Ou se foi leiloada ao Diabo por trinta moedas de prata, ou dólares, ou euros, ou: as do momento.
De gesto tão espontâneo, não se tratando de crítica de algum literário participante de alguma mesa de algum concurso, brotou-se do genuíno, o simples, o belo, que em mim despertou.
Grato, e alegre, e enriquecido, lembrei-me eu novamente de mim mesmo. Escapei, por um átimo, e tornei a lembrar de como se faz, das artimanhas do Demo, artífice desta contabilidade: lide áspera de se viver nos dias de hoje... Fazer, fazer, fazer... Sem sabermos exatamente para quê...
Nascente alegria perpassou meu ser. Silêncio falante impôs-se. Hora de significados. Tempo sem tempo.
De algo que eu disse, ousando escrever e mostrar ao outro, fazendo com que esse outro ao ouvir-me digne-se a não se omitir, não me deixa esquecer que bobagem é pensar que não existem mais almas nesse mundo de Deus; e dos homens.
Viva a poesia!
Um abraço! Celso Ribeiro.
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