Usina de Letras
Usina de Letras
146 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62072 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50478)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Está Faltando Energia do Governo -- 07/10/2003 - 17:53 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




A FALTA DE ENERGIA DO GOVERNO

(por Domingos Oliveira Medeiros)





Ao arrumar uma velha estante, onde repousam papéis, documentos pessoais, livros diversos e até coisas sem qualquer importância, deparei-me com um artigo, publicado em agosto de 1988, cuja reportagem anunciava um futuro promissor para o Brasil, no campo energético.



Naquela oportunidade, a previsão era a de que o Brasil, carente de combustíveis de origem fóssil, poderia ser o primeiro país do mundo a libertar da gasolina os seus veículos, fazendo-os rodar, num prazo aproximado de oito anos, exclusivamente com álcool, o combustível do futuro. (De novo a palavra mágica: futuro.)



Sobredita previsão, baseava-se no fato de que o Brasil possui um imenso território - além de abundância de água e sol - três dos ingredientes necessários para produzir safras e mais safras dos vegetais de onde o álcool pode ser destilado. Além do mais, que a cana-de-açúcar é das plantas que melhor se dão no Brasil, sendo a tecnologia de seu processamento das mais avançadas do mundo.



Considerava, ainda, que o álcool pode ser extraído da mandioca, do babaçu, do eucalipto e até do capim, o que poderia, inclusive, estimular as várias e economias regionais. O investimento inicial no programa do álcool já alcançava o patamar de dois bilhões e meio de dólares. E não era para menos, já que as vantagens detectadas registravam o grande poder combustível do álcool, aliada à sua queima com mais eficiência do que a gasolina, provocando menos calor e proporcionando mais ou menos a mesma quilometragem, sem exalar poluentes tais como o chumbo ou o enxofre e, de quebra, evitando a saída de recursos para o exterior: em 1980, o País já teria gasto, com a importação de gasolina, cerca de nove bilhões de dólares.



O artigo nos dava conta, também, de algumas dificuldades iniciais, como, por exemplo, a falta de cooperação entre setores do próprio governo; a lentidão, por parte da comunidade financeira, no provimento de fundos para os projetos; além de rivalidades regionais que surgiram, ninguém sabe precisar exatamente como, e de onde, mas que estariam, tais rivalidades, pondo em risco o êxito do Proálcool.



Dificuldades à parte, a verdade era a de que o Programa, aos trancos e barrancos, caminhava na direção correta. Oficialmente, vinha-se misturando álcool à gasolina desde 1964, numa proporção de 18% a 20%, limite até o qual os motores à gasolina (os motores ainda não adaptados) podiam funcionar com relativa eficiência.



Em 1990, decorridos nove anos da previsão de substituição total da gasolina pelo álcool, com todas as vantagens dela decorrentes, o que vimos foi de estarrecer: mudaram-se os planos. Mudou-se o futuro energético, o futuro do Programa . Passaram, inexplicavelmente, os responsáveis da época, a apostar em outro combustível. Abandonaram o Álcool pelo Metanol, apesar de suas nítidas desvantagens, a começar pela caveira que o identificava, como medida de segurança.



Posteriormente, não se falou mais no metanol. Acabaram com o Instituto de Açúcar e do Álcool, que supervisionava e coordenava as ações relativas a produção, distribuição e exportação daqueles produtos. De igual modo, acabaram com o Instituto Brasileiro do Café. O tempo foi passando, e as grandes questões nacionais, como sempre, são deixadas de lado, sob diversas alegações, muitas das quais sem razões de ordem técnica ou legal que as justifiquem. Nem políticas. Sem que o povo fique sabendo, exatamente, o que possa ter acontecido. Aliás, muita coisa importante que acontece ou deixa de acontecer no Brasil a população não fica sabendo.



Coincidentemente, decorridos outros nove anos, deparei-me com outro artigo, desta feita publicado na Gazeta Mercantil de 29 de dezembro de 1999, intitulado “Enfim um pequeno passo”, que retomava a discussão em torno do álcool, noticiando que um representante do Ministério da Ciência e Tecnologia teria recomendado ao governo adicionar 3% de álcool anidro ao diesel, em caráter experimental, pelo prazo de 30 dias, como forma de contribuir para a melhoria da qualidade do ar, gerando empregos e divisas ao País, além de reduzir o estoque de álcool e os custos decorrentes de seu financiamento, minimizando, desta forma, os prejuízos causados à indústria nacional. Apesar do elenco de vantagens exaustivamente comprovadas, a sugestão, novamente, não encontrou acolhida favorável no mercado interno de combustíveis, por conta de interesses pouco convincentes, segundo os quais ninguém estaria disposto a perder 3% de um mercado que consome 36 bilhões anuais de diesel e que movimenta 14 bilhões de reais por ano.



Mais recentemente, o assunto, como de outras vezes, retoma as páginas dos jornais. E sempre com a promessa de que o álcool seria a solução para a crise energética que o mundo atravessa.



Até quando nossos governantes pretendem ficar omissos, notadamente em épocas de crises mundiais, diante de fatos que se contrapõem à melhoria da nossa economia, como um todo, incluindo o meio-ambiente e o bem-estar da nossa população?



E, a propósito, o que foi feito da experiência acumulada na produção de álcool, do próprio Programa do Álcool, desde a sua primeira versão? Será que vamos acabar do mesmo jeito da época em que havia abundância de seringais da Amazônia, e que hoje , dita fartura, foi transformada em pneus, que compramos lá fora, a preço de dólar?



Será que vamos importar um dia, além da gasolina, também o álcool? Do mesmo jeito que a farinha de trigo? Os remédios? Os produtos de informática?



E os aviões fabricados pela EMBRAER, até quando suportaremos as pressões e investidas internacionais, para reduzir nossas exportações daquelas aeronaves? E nossos produtos agrícolas, até quando sofrerão a desigualdade de tratamento que o estrangeiro provoca com os subsídios governamentais aos seus produtos?



E o Mercosul, até quando sairá ileso de tantos bombardeios ? Será que a ALCa acabará substituindo o Mercosul? Será que estamos condenados à condição de devedores permanentes do FMI?



A praticar a economia suicida de atração de capitais especulativos ou não, para manter o pagamento dos juros da dívida externa sempre em dia?



Até agora, o discurso tem sido o mesmo. Fala-se em reformas. Fala-se em futuro. Fala-se em crises. Internas e externas. Fala-se em tudo. Mas não se mostram programas de governo e alternativas de soluções claras e viáveis para os nossos problemas.



Será que ser presidente é assim mesmo? Copiar o passado, prometer no presente, e sonhar com o futuro?



Há um mistério qualquer, que não deixa o Brasil dar aquele salto de qualidade. O salto para o desenvolvimento sustentado. Muitas idéias e projetos são abandonados, por vários governos, sem que haja elo causal capaz de justificar o abandono.



Quem não se lembra, do Movimento Brasileiro de Alfabetização, o MOBRAL, criado com a missão específica de acabar com o analfabetismo no País? Não deu certo. Acabou-se;



E do Banco Nacional da Habitação, que foi extinto, tendo suas funções sido transferidas para a Caixa Econômica Federal mas que, em pouco tempo, e até hoje, deixou em seu lugar um enorme déficit de milhões e milhões de unidades habitacionais, sem perspectivas de qualquer solução, seja a médio ou a longo prazos, muito menos a curto prazo? Não se dá mais notícias. Sabe-se, apenas, que tem sido cada vez menor a utilização de recursos do FGTS para financiamento de construções de moradias. .



E quem nunca ouviu falar da Revolução de 1964, durante a qual, impressionados com os “milagres” alemão e japonês, os militares de plantão no poder , apostaram na possibilidade de acelerar o crescimento econômico, com o objetivo de o Brasil superar o estágio de subdesenvolvimento e alcançar os países mais adiantados?



Na época, dizem os registros, foi preparado um programa de ação de emergência, centrado, principalmente, no combate à inflação e na correção das distorções do sistema de preços e na modernização da estrutura social e econômica. O aperfeiçoamento do parque industrial brasileiro era a tônica dos projetos. O parque acabou, a revolução também. Ainda bem.



E da Reforma Administrativa de 1990 ? Época em que foi lançado, também, vários programas de capacitação tecnológica, de qualidade, de produtividade e de competitividade industrial, pelos governantes. Previa-se o fim próximo de um capitalismo de poucos riscos e muitos subsídios, dependente do Estado e protegido da concorrência externa.



Com certeza, ninguém esquece das secas do nordeste, das enchentes do Sul, dos assaltos, dos estupros, dos seqüestros, das más condições dos sistemas de saúde, educação, habitação, transporte, segurança, ferrovias, hidrovias, rodovias, dos escândalos, das roubalheiras, do crime organizado, do horário político eleitoral, do horário de verão, e até do terrorismo no mundo todo. Até hoje estão rondando as nossas vidas. São Paulo que não me deixe mentir. Rio de Janeiro, também. O Sul, o Nordeste, enfim. Temos, no Brasil, uma espécie de retrospectiva permanente e semelhante. O que dá a medida da irresponsabilidade ou omissão de nossos governantes. E da sociedade, também. Que insiste em votar mal.



Assim aconteceu com o famoso Decreto-lei 200, editado em 1967, estabelecendo princípios e diretrizes para a organização e funcionamento da Administração Pública Federal. Acabaram com o Decreto-lei e criaram, no seu lugar, a Medida Provisória. A questão principal, a Administração Pública, continua com os mesmos problemas, acrescidos de outros. Bem piores.



Um país com as dimensões continentais como o nosso, com as riquezas naturais que possui; extensa gama de recursos biológicos, flora e fauna, e recursos humanos bem diversificados, trabalhadores criativos, não precisava colocar-se de joelhos, diante do capital especulativo internacional.



Dedicando todo o seu esforço para juntar dólares e, assim, pagar, religiosamente, em dia, os juros e o serviço de uma dívida, sabidamente impagável, que cresce em proporções geométricas, enquanto o povo amarga os frutos de uma política econômica equivocada, imposta pelo Fundo Monetário Internacional, centrada na perspectiva de acumulação de capitais pelos credores internacionais. Fundo Monetário Internacional que nunca resolveu qualquer problema brasileiro, nem de qualquer país.



O jornalista Carlos Chagas, no seu recente livro “O Brasil Sem Retoques”, volume II, página 778, faz uma ligeira transcrição de outro livro, de autoria de Thomas Skidmore, intitulado “Brasil: de Getúlio a Castello”, cujos trechos, ali contidos, merecem ser aqui reproduzidos:



(...) Os defensores do nacionalismo radical, que sempre afirmavam que a industrialização brasileira estava ameaçada de estrangulamento pelos capitalistas estrangeiros, encontravam então maior platéia para seus argumentos. O FMI tornou-se o símbolo daquilo que diziam ser a incompreensão obstinada por parte dos poderes capitalistas em relação aos problemas especiais do Brasil.



O governo dos Estados Unidos e o FMI se haviam tornado o bode expiatório das medidas de estabilização que o governo Kubitschek tomava. A imprensa comunista acusava o Ministro da Fazenda (...) de porta-vozes do Wall Street, que estariam condescendentemente, apoiando um plano do FMI a fim de sabotar o desenvolvimento do Brasil”.







Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui