Tem ora que me bate uma desesperança tão profunda sobre tudo, que penso não suportar o dia do porvir.
Mas vou sempre em frente, não me importe o que custe.
Sigo como quem segue sem se preocupar com os abismos que circundam. Queria somente ser igual a todos, mas não sou. Não é necessário que me apontem meus defeitos, sejam físicos ou psíquicos, os conheço perfeitamente e sei até que ponto posso suportá-los.
Queria ter saúde, e poder gozar da alegria de ser são. As vezes a angústia toma conta de meu ser, e a dor vai por todo corpo, e minha base se estremece. Então o meu íntimo delira em gritos internos de profunda cicatriz a latejar. As lágrimas se processam de forma contínua, embora meu semblante pareça serene.
Me debato. Me esquartejo. Me esvazio. Mas não me ignoro. Ignorar-me é esquecer que existo. E esquecendo não serei eu quem age, e sim os defeitos.
Falo como quem simplesmente relata um acontecimento cotidiano que não mais produz assombro. Falo com a percepção de quem observa ao tempo que é agente e paciente da situação em que vive. Falo como quem não almeja o prêmio por suportar a dor.
Queria neste momento iludir-te e lhe dizer coisas que não sinto porque assim seria o caminho natural das coisas. É fácil criar muitos mitos sobre si mesmo. O difícil e reconhecer o que se é realmente.
Sofri quando me puseram diante de um espelho e ao deparar-me com a minha real face, vi somente desolação. Hoje sou o que sou. Não mais me nego. Sou um livro aberto para todos aqueles que a mim chegarem e quiserem folhear página por página da minha história.
Longe de mim todos os puritanos, todos os que se julgam santos, pois estes são os atiradores das primeiras pedras e já me atiraram muitas e não foram poucas. Longe de mim os que vestem a túnica da santidade e se dizem castos, pois estes demonstraram sua falsa piedade para se julgarem seres superiores aos demais.
Que se aproximem aqueles que contém o amor, porque somente este transforma e pode modificar o homem.