Inês é alguém especial para mim. É minha secretária do lar como dizem e tem estado a meu lado durante muitos anos. Criou a família com sacrifício e costumam dizer que a trato como uma rainha. Ontem chegou chorando em minha casa porque o filho havia sido despedido do emprego. O patrão dissera que o movimento decaiu e que não podia manter tanta gente. pessoas foram mandadas embora. Fiquei desolada. O rapaz é casado e tem dois filhos.
E então ela me fez uma pergunta que me trouxe enorme tristeza pelo que estava se passando no momento. Perguntou-me o que a luz que ia ser racionada tinha haver com a pequenina empresa de lavagem de carros que Israel era empregado. Comecei a fazer uma digressão e imaginar os milhares de empregados que serão acometidos por esse mal durante um longo período, acrescentando-se aos que já fazem fila nas agências. Reforçei ainda mais a minha teoria que se trabalhando menos horas para economizar luz, não haverá necessidade de tantos empregados e além de tudo o medo dos pagamentos de energia farão com que as pessoas se reservem para que não gastem em coisas mais superficiais.
Vislumbrei um futuro negro e abracei Inês que chorava muito profundamente com carinho dizendo sem ao menos sentir as minhas palavras:
-Chore, Inês, desabafe, Chore que eu falo. Preciso sentar ao computador agora.
Naquele momento, eu que não aguento ver alguém chorar sem chorar junto, não tive lágrimas porque a revolta tomava conta de mim. A revolta e vontade de escrever naquele mesmo momento, conclamando todos a lutar nessa guerra de interesses pessoais que o Brasil está enfrentando.
E minha dor era maior porque sabia o quanto o menos favorecido sofrerá nessa luta insana a ser travada entre os poderosos homens e o povo impotente cujas raras vozes conclamam por um pouco de justiça nessa crise de proporções absurdas.
Querem desviar nossa atenção também de tudo que está se passando em volta, tirando outra luz vinda da lucidez e da conscientização dos acontecimentos objetivos e obtusos que existem nessa democracia que de democracia só tem o nome. Querem desviar nossos olhos da verdadeira situação do país e quem sabe a falta de luminosidade influirá como algo benéfico para eles.
Ao longo desse governo privatizaram as nossas empresas que eram pelo menos garantia de investimento e demitiram funcionários públicos, muitos deles hoje na miséria física e moral. E agora foi autorizada a contratação de obras e serviços na área de energia, em caráter excepcional, sem licitação com contratos podendo superar a 180 dias. Os critérios para essa contratação serão estabelecidos por homens que jogaram na rua da amargura anteriormente cidadãos cujas vidas dependiam daquele valor mensal para sobreviver e alimentar suas famílias.Triste e lamentável realidade!
Isso é democracia? Claro, temos um congresso aberto, mas a impunidade com os próprios políticos continua inalteravelmente. De vez em quando elegem alguém para bode expiatório e a grande maioria está ilesa e vibrante.
Certamente os dois senadores brasilienses esperarão um tempo para que lhe arranjem um cargo importante e quem sabe vitalício.É isso que tem acontecido em nosso país permanentemente. E também dolorosamente.
Espero que a minha boa e querida Inês possa encontrar ressonància para a sua dor nos nossos protestos que mesmo sendo apenas gritos ineficazes já são o começo de uma era de renovação.
