Para que precisarias
de peúgas brancas agora,
se andaras sempre descalça?!
Não entendi, nem entendo ainda
porque me pediram umas peúgas brancas!
Estavas morta. Já nada sentias
das dores atrozes que suportaras
no fogo vivo que te devorara
e te deixara nus de pele e de carne os pés.
Para quê as peúgas brancas?!
Eu dera-te a minha branca amizade
e, disso sim, tu precisaras.
Agora de peúgas brancas!
Amélia, que hoje
já nem debaixo da terra descansas,
para que te mascararam na morte os pés,
infeliz, com peúgas brancas?
Ias à lenha, pastavas as cabras,
comias amoras das silvas,
figos de figueiras bravas,
tudo o que havia!
menos cebolas refogadas, logo tu!
que por isso foste morrer queimada.
... e enterraram-te de peúgas brancas.
à Amélia,
que, aos sete anos, morreu queimada
viva na fogueira do lar;
a breve amiga da minha infância breve.
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