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cronicas-->Bethel -- 03/01/2016 - 20:36 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Caminhava pela praia cheia de escolhos do Ano Ora Novo, ainda que tardo. Eis que imenso sono bateu em minhas pálpebras, curtidas na Noite de Iemanjá, pulando as ondas tantas vezes que cãibras me estalavam a ossada e as panturrilhas. Uma névoa abateu-se sobre mim, deitei-me sobre um escolho menos sujo, mais parecido com um frango desossado. Pois é, a crise bateu tão forte que peru virou luxo para gente graúda. Vai de frango desossado mesmo, bom travesseiro mosqueado.

Ao longe, qual sarça ardente, tremiam as chamas de algum desvelado pelo frio alheio, pois que dois jaziam do lado de cá, mais três do lado de lá e nenhum deles era atingido pelas fagulhas. Deus tenta ser brasileiro mas disfarça e elege um papa argentino. No entanto, a prova está lá: Os cinco desmaiados não entram em combustão espontânea nem provocada.

O sono abateu-se sobre meu corpo pesado feito uma esponja de aço plastificado ou talvez uma mistura de amálgamas de moléculas de pó, poeira, água salgada e hectolitros de frisante barato; antes de cair duro, pude ver alguém gritando: Feliz Navidad! Não ouvi resposta: Não tive tempo, pois um negrume se abateu sobre minha consciência e eis que voltei meus olhos ao céu.

Por ali , bem adiante de meus olhos, abriu-se um buraco nas nuvens. Pude entrever uma luminosidade dourada; posso jurar que via as nuvens sorrindo e mais que isto, cantando. Vão dizer que estava assolado por delírios, mas não posso mentir dizendo que não ví anjos descerem e subirem ao mesmo tempo pelas frestas que se abriam sem parar.

De onde eu os via, podia divisar a mais tênue neblina que um homem jamais poderia ver, dobrando-se sobre si mesma como se fosse uma cortina esgazeada.

--Quem és tu?
--Fala comigo?
--Não, falo com o frango do chão, Ó lhama das alturas!
--Ele...ele...Está morto.
--Mas, Deus( e esfregava a testa o enviado do Senhor), que fiz para merecer tal teste?
--O que você fez, sinceridade, não sei. O que eu fiz foi passar o Reveillon na praia.
--Vê-se! ( abarcando com um gesto a imundície, as fogueiras, as camisinhas usadas, os braseiros de lixo e os sombrios catadores amassando latinhas espalhadas na orla).
--Mas, juro, não comi nada. Só bebi!
--Vê-se( afastando o semblante de meu nada divino hálito).
--E tem mais: Se pulei as ondas, é porque todo mundo pula, porque sou Católico-Apostólico-Romano!
--Vê-se! ( agora mais indignado, porque eu não sei mentir; decididamente, não sei falar mentiras, mesmo santas que sejam)
--Aquele é o Céu?
--Não. É o Inferno; mudamos a tela de abertura. Afinal, vocês adoram isto!
--Eu?
--Não...O frango.
--Mas ele está...
--Morto! Falecido! Já era! É finito! Bateu com as botas; ganhou paletó de madeira...Desculpe, Senhor...
--Não entendo nada destas modernidades!
--Vê-se!( aponta para o celular caído na areia suja)
--Obrigado, senhor! Achei que havia perdido...
--Não diga o Nome dele em vão. Vá e volte aos seus. Não deveria estar aqui. Foi uma falha de escadaria, se é que me entende! Esta deveria dar num lugar com um dístico assim: "Vós que aqui entrais, perdei toda esperança!". Deu nisso confiar em anjo principiante.
--Ah, entendo. De escadarias eu entendo. Mas que anjo principiante é esse?
--Aquele ali. Entre nós, há os principiantes também.

Lá no alto, além do semblante carregado de certo senhor de grandes barbas, podiam ser vistos os olhos arregalados de um pequenino e apavorado anjo em formação. Mas, ora, se aqui os médicos aprendem junto aos pacientes, devidamente seguidos pelos preceptores, acolá não deve ser diferente. Tem de fazer, senão como se aprende? Agora, se aqui na Terra os meninos são devidamente enquadrados, quem o faz lá onde o Céu é o Limite? Ouve-se um terrível ruído depois de um raio cair bem no mar, em frente ao Hotel cinco estrelas.

--Raios! Errei!
--Dá uma chance a ele, ô da poltrona!
--Cale-se! Há limites para o que se vê e há limites para o que se fala! Prosterna-te ante o Senhor, ou será fulminado!

Obedeci porque, prudência e caldo de galinha todo mundo tem de tomar.

--Vá embora. Esse erro jamais se repetirá. Volte aos seus! Mas antes, faça uma coisa...
--Pois não! prontamente! Juro me regenerar!!! Nunca mais pulo ondas!
--...Sai de cima do frango porque ele está cheio de siris.

Num relance de luz eu me vi de pé; pendurado em minha orelha, um siri me beliscava. Doeu pra caramba; e não é que tinha um plástico grudado nele? Coisas de modernidade; esses bichos não têm chance em meio ao caos das cidades. Estava escrito em seu dorso...

--Bethel...Nome estranho!

Está escrito.

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