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Contos-->A morte do livro -- 13/10/2001 - 21:01 (J.FAUSTO TOLOY) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Petrarca pára estupefato diante da manchete de jornal: “Declarada a Morte do Livro, principal suspeito: o COMPUTADOR!” Então era verdade, a morte da literatura de Beckett estaria próxima? O que diriam os videntes, futuristas de plantão? Será que as editoras, debalde tentativas para estimular o hábito da leitura na mídia, acabaram por capitular? Pior que isso, transformaram tudo em CD-ROMs? E os verdadeiros “high brows” *, o que diriam? A um "middle-brow" como eu só resta a revolta? “Revolto-me, logo existo!” E daí? Minha imensa biblioteca reduzida à prateleiras de CDs,o que fazer? Abominava toda aquela parafernália tecnológica, tinha sempre os mesmos e metódicos hábitos, apesar de quarentão; escrevia numa portátil eletrônica arcaica, os livros esparramados pela casa, banheiro, automóvel, quarto, escritório e, de preferência, um de cada gênero literário. O que seria dele um aficcionado da arte da palavra escrita? Lembrou-se do Pessoa: “como tratar bem uma palavra se não se trata bem uma alma?” Onde colocaria os Hemingway, Sartre, Camus, Lawrence, Faulkner, Veríssimo, Loyola, Pessoa, Vinicius e tantos outros ficcionistas e poetas, em cuja fonte bebera tantos devaneios, tantos porres, “overdoses”de palavras e tinta, compartilhados com íntimas emoções – Scott Fitzgerald, morto ainda mais jovem que ele – Camus, ceifado no palco da vida, como um ramo de centeio – Hemingway e o suicídio misterioso com um tiro – Vinicius sucumbe no delírio alcoólico-musical de criações. Todos vítimas de morte trágica, mas sugaram da vida, como RASTIGNAC **, gota por gota, do amor , dos vícios, das paixões , de tudo, enfim.. Ele, apenas um repetidor de lugares comuns. Como escrever, então, algo de valor insólito? Seria preciso sofrer, como queria Dostoiévski? Ou como Balzac, de forma frenética para pagar dívidas? Se não escrevesse morreria, no conselho de Rilke? Vivia num conforto lassivo de pequeno-burguês, normal, besta! Chegando em casa, uma surpresa!!!
– Escuta, ô Ariovaldo, o que aconteceu aqui...
– Seu Pê, os home levaro os livro, e agora?
– Com ordem de quem?
– Da saúde pública, dissero que livro causa doença, é nocivo, num entendi bem.– Nada diz limita-se a apanhar a “bike” e, enquanto pedalava pelo quarteirão, ouve o empregado que esbraveja indignado:
– Num vai falá nada, seu Pê, se eu fosse o sinhô ia atrais dessa corja de vagabundos.
Ao pedalar meditava: “que será que deu na humanidade? Desde o pergaminho de antanho até o percalux grafado a ouro dos livros de arte, aos livros comuns de “soft pólen”. Meu Deus, enlouqueceram?” Sem perceber dirige-se ao aterro sanitário, onde um caminhão “derrama” os livros na hora do lusco-fusco.
– NÃÃO! Não é possível, são os meus livros –, reconhece a coleção do Machado de Assis que, sob o resquício de sol, ainda brilha enxovalhado pelo lixo.
– ESPEREM, NÃO! – chamas brotam da montanha de papel e detritos: chega ainda mais perto e a “bike”derrapa...
– ARRGGGH! -- mergulha na grande fogueira. Dos borbotões ardentes de Gide, Camus e Lawrence e Vinicius os favoritos de PETRARCA DE SOUZA, o espírito iluminado eleva- -se para o firmamento distante.


* intelectual e “middle-brow” intelectual mediano
** personagem “bon vivant” de Balzac

J. Fausto Toloy
Agosto 98
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