Usina de Letras
Usina de Letras
63 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62193 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50599)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Amália e a Coragem -- 09/10/2015 - 16:43 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O tempo vai num ritmo que ora inventamos, ora se passa num pulso mais lento. Eu diria que Amália traria o dela, se não fosse dela aquela espécie de sonho em que vivia embriagada. Ela era a moça certa para toda festa, toda paragem. Vivia a dizer a si mesma que qualquer dia desses sairia numa viagem que só, partiria rumo às geleiras do sul, onde grandes blocos se desprendem em estrepitoso ruído; ela estaria lá, vendo todas as nuanças do azul.

Acontece que a vida nos absorve e foi assim com Amália, que não viu que o tempo ora se comprimia nas felicidades, ora se enlanguescia nos mangues das tardes domingueiras. Amália não se mexia e como um colibri, adorava néctares de todos os tipos, paradoxalmente enquanto em seu íntimo crescia a solidão dos que, com tanta seiva, não a dão ao mundo talvez por medo ou receio do perder-se na multidão. Amália era feliz, estando junto mas não sabia a dor da solidão certeira.

Um dia, cobrou-a a Vida. Amália viu-se a si mesma como que desdobrada, ela sendo ela mesma e outra: Uma parte de Amália queria fugir dali, outra a obrigava a ser ela na pele dela mesma. Ela se tocava e não se sentia; assim ela tentou se banhar ouvindo todos os ruídos de sua pequena casa, os fios elétricos zumbindo nas paredes, a torneira jorrando águas claras, o banho numa nuvem de estrelas brancas. Como? Jorro de espumas feitas de brilho. Como? Águas de uma fonte cristalina, Amália. Isso lhe dizia a Outra, que a habitava a ela mesma, sob a mesma pele. Tentava se controlar, pois que sua pele como que se pespegava a ela, enquanto maquiava seu rosto e contornava os olhos bem feitos, olhando seu corpo de cima a baixo sem reconhecer-se: Seria ela que se penteava, ligava o maldito secador ou era a outra que erguia o batom, deixando a boca mais estreita e sinuosa? Como assim?

Abriu a porta do banheiro e foram elfos que saíram com ela, foram gnomos, foram milhares de vagalumes de olhos luminosos que acompanharam seu corpo esguio e perfumado, já nessa altura sob a dúvida crucial de se tinha sido ela ou a outra a que se vestira autómata, pegara a bolsa e caminhara até o ponto de ónibus não sem antes se esquecer e relembrar de trancar à chave a porta de seu apartamento.

O tempo, o segredo do Cosmos, o andar de Amália, a maneira curiosa de caminhar sempre ao lado da guia das calçadas, o olhar voltado às nuvens que anunciavam um belo dia, Amália se viu, do outro lado, caminhando da mesma forma, indo em direção ao mesmo ponto.

Não se assustou quando a moça, que era ela mesma, lhe dirigiu um olhar ao chegar ao mesmo lugar de onde ela viera. Nem se atemorizou quando a Outra, assim meio de chofre, lhe perguntou para onde ia. Amália apenas respondeu que iria aonde o Tempo a permitisse ir. A Outra, ajeitando os cabelos como ela fazia, conferindo a boca exatamente como ela sempre gostara de fazer, erguendo o braço junto com ela para chamar o mesmo coletivo, disse apenas:

--Temos todo o Tempo do mundo.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui