Carteiros
Desde pequeno tive uma relação muito estreita com os carteiros, olhava-os com carinho e via a sua persistência em entregar os “seus” volumes na sua jornada.
Antigamente quando não tinha internet, eles tinham uma importância até romântica, pois eram os cicerones de muitos amores, inclusive na minha caminhada amorosa e profissional.
As correspondências iam e vinham durante a minha vida inteirinha, tinham uns que eram bons e outros mais fechados, mas como em toda profissão tem pessoas que maculam o seu ofício.
Entretanto para a entrega das correspondências é somente o processo final, onde a primeira triagem traz muitas e divertidas histórias.
Durante muito tempo, as agências eram espalhadas por toda a cidade de Salvador, havia até concessão para as agências e para chegar à mão do nosso amigo as normativas da nossa agência oficial foi mudando, colocando valores em tudo, até a carta social que era de um centavo - imaginem! - existia, mas para ela passar na triagem da recepção os atendentes colocavam as correspondências até contra a luz para ver se era manuscrita a carta e se tinha alguma foto, se não eles não aceitavam.
Contudo para os heróis das cartas não havia nenhuma distinção, nosso amigo Jarbas que o diga, ele selecionava com carinho, mesmo com dores de coluna, por causa do peso o qual ia até o fim de sua jornada.
Uns não têm tanta dignidade quanto ele, até esconder cartas debaixo do próprio colchão fazem, outros entregam um monte de carta na casa da líder comunitária e dizem que não têm tempo para fazer a entrega.
As coisas mudaram muito também por causa da criminalidade, pois agora os carteiros não são somente portadores de cartas, eles trabalham com tudo, desde artigos eróticos e até os mais sofisticados celulares, o que os põe na mira dos marginais.
Com toda essa problemática dos tempos modernos, nosso amigo Jarbas já está aposentado, ele diz que já estava da hora, porque muita coisa errada existe e essa missão de entregar até a última encomenda está cada vez mais difícil e perigosa, mas uma coisa nós chegamos ao mesmo denominador, a vida sem essas pessoas seriam muito mais sem graça, pois mesmo na era tecnológica e com nosso amigo aposentado, sempre olharei com carinho e presteza esses homens e mulheres que caminham “sozinhos” mas tem um monte de gente acompanhando os seus passos até o seu destino.
Marcelo de Oliveira Souza,IWA
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