Usina de Letras
Usina de Letras
77 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62308 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22541)

Discursos (3239)

Ensaios - (10398)

Erótico (13576)

Frases (50697)

Humor (20046)

Infantil (5466)

Infanto Juvenil (4789)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140835)

Redação (3311)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6217)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A vida não é maravilhosa? -- 25/07/2001 - 21:36 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
[Um crítico alemão assiste à única apresentação de Gilberto Gil e Milton Nascimento na Alemanha. Foi no Jazzport Festival, em Hamburgo. Evidentemente deslumbrado com o que viu e ouviu, Tom R. Schulz arrisca uma comparação bizarra do espetáculo no palco com a emoção de ver "Rivaldo e seus companheiros". Ou seja, para eles vale ainda o nosso passado mítico, tanto musical como futebolístico. Vale a pena conferir esse delírio verbal do articulista do DIE WELT online, com momentos verdadeiramente "over". Bom seria, se também pudéssemos projetar sobre a nossa dura realidade atual uma visão assim ensolarada!]



____________________________



Melodias como lianas: Os músicos brasileiros Gilberto Gil e Milton Nascimento encantam o publico de Hamburgo

_____________________________



Por Tom R. Schulz

Trad.: zé pedro antunes





Sepp Herberger definiu uma vez as regras básicas dos concertos-pop brasileiros. O jogo dura 90 minutos, e enquanto isso a bola fica rolando. Se se trata de Rivaldo e seus companheiros no campo de futebol, ou de Gilberto Gil e Milton Nascimento, dois patronos nacionais da Música Popular Brasileira, no palco: a euforia é a mesma. É quando bem-aventuradas melodias sobrevoam o estádio, depois os ritmos dos tambores ressoam maravilhosamente sincronizados pelo espaço, e a composição lúdica é de dar inveja.



Muitas vezes as fórmulas exorcizantes não passam de mera afirmação sobre essa energia, que a música possui, capaz de unir os povos. Mas o que se vai dizer quando uma barraca inteira de festa popular, cheirando a peixe assado, vê cair ao longo de um concerto de música brasileira todo o recato hanseático, quando, de sérias fisionomias de escritório, brota uma bem-aventurança cada vez mais visível, e quando, por duas horas, 2500 pessoas aproximadamente parecem não sentir outra coisa que não seja esta verdade, que a vida pode ser mesmo de uma beleza enlouquecedora? Dá vontade de ajoelhar e dizer obrigado, mas os joelhos continuam a se mover o tempo todo, por causa do ritmo, é bem provável.



"Gil & Milton" ou "Milton & Gil", que é como esses dois contemporâneos brilhantes do pop brasileiro, aos 59 anos de idade, costumam se alternar no título do seu primeiro disco conjunto, não teriam tido a menor dificuldade, bastando deixar rolar a festa desde o início. Mas antes que o ritmo do samba escorresse como lava do palco do Jazzport-Festival em Hamburgo, sua única apresentação na Alemanha, eles fazem desfilar, por cinco quartos de hora, canções nada comerciais.



Com melodias que transcorrem na imprevisibilidade, como lianas na floresta tropical – e que, como estas, possuem força incomensurável. De uma forma toda própria, orgânica, esta música abre uma terceira via entre a manifestação selvagem e a cultura, entre a espontaneidade e a redução.



De repente há lugar para um solo breve, com sugestões vanguradistas. Mais adiante surge uma frase melódica no firmamento, como que saída de sons tirados aparentemente ao acaso do teclado. Mesmo quando o canto a duas vozes, repleto de filigranas, é trespassado pelo arranjo rítmico altamente elaborado das duas baterias e dos três percussionistas, a melodia transcorre límpida e emocionante.



A barriga de Milton Nascimento, que se tornou suntuosa, descansava sob um traje indígena azul claro, enquanto, num terno vermelho vivo, de tecido leve, dançando, Gil lançava para fora do seu corpo magro toda a alegria de viver. Milton, com tranças dos cabelos, cheias de contas coloridas, pareceu-nos ser, dos dois, o feiticeiro mais poderoso. Em gestos que eram meio bênção, meio incitação ao entusiasmo, ele estabelecia a ligação entre o Grande Espírito e os terráqueos. Gilberto Gil saltitava pelo palco feito uma criança eternamente feliz, emitindo os gritos mais melodiosos que jamais nos chegaram aos ouvidos.



Ao final de uma canção especialmente bela, Gil, ternamente, recosta a cabeça no ombro do companheiro. Deve ter sido um pouco desconfortável para ambos, pois Milton arrancava de sua sanfona, o acordeon brasileiro, uma cascata de sons extraordinários. Mas o gesto tinha tudo a ver. O espetáculo, para ambos, já dura uma vida inteira.





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui