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Textos_Religiosos-->Escândalo da cruz, sabedoria do cristão -- 30/10/2008 - 17:18 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Bento XVI: «escândalo da cruz, sabedoria do cristão»

Hoje durante a audiência geral

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

ZENIT.org

Oferecemos a seguir o texto completo da catequese pronunciada hoje pelo Papa Bento XVI durante a audiência geral na Praça de São Pedro.

Queridos irmãos e irmãs:

Na experiência pessoal de São Paulo, há um dado incontestável: enquanto no começo ele foi um perseguidor e utilizou a violência contra os cristãos, a partir do momento de sua conversão no caminho de Damasco, ele passou a estar do lado de Cristo crucificado, fazendo d’Ele a razão de sua vida e o motivo de sua pregação. Sua existência foi inteiramente consumida pelas almas (cf. 2 Cor 12, 15), para nada tranqüila nem isenta de enganos e dificuldades. No encontro com Jesus foi esclarecido o significado central da Cruz: ele compreendeu que Jesus tinha morrido e ressuscitado por todos e por ele mesmo. Ambas as coisas eram importantes, a universalidade – Jesus tinha morrido realmente por todos – e a subjetividade – Ele morreu também por mim. Na Cruz, portanto, havia se manifestado o amor gratuito e misericordioso de Deus. Paulo experimentou este amor antes de tudo em si mesmo (cf. Gl 2, 20), e de pecador se converteu em crente, de perseguidor em apóstolo. Dia após dia, em sua nova vida, ele experimentava que a salvação era «graça», que tudo derivava do amor de Cristo e não de seus méritos, que por outro lado não existiam. O «evangelho da graça» se converteu assim na única forma de entender a Cruz, o critério não só de sua nova existência, mas também a resposta a seus interlocutores. Entre estes estavam, antes de tudo, os judeus que punham sua confiança nas obras e esperavam destas a salvação; estavam também os gregos, que opunham sua sabedoria humana à cruz; finalmente, havia certos grupos heréticos, que haviam formado sua própria idéia do cristianismo segundo seu modelo de vida.

Para São Paulo, a Cruz tem uma primazia fundamental na história da humanidade; representa o principal ponto de sua teologia, porque dizer Cruz quer dizer salvação como graça dada a toda criatura. O tema da cruz de Cristo se converte em um elemento essencial e primário da pregação do Apóstolo: o exemplo mais claro tem a ver com a comunidade de Cristo. Frente a uma Igreja onde estavam presentes de forma preocupante desordens e escândalos, onde a comunhão estava ameaçada por partidos e divisões internas que comprometiam a unidade do Corpo de Cristo, Paulo se apresenta não com sublimidade de palavras ou de sabedoria, mas com o anúncio de Cristo, de Cristo crucificado. Sua força não é a linguagem persuasiva, mas, paradoxalmente, a fraqueza e o temor de quem se confia somente ao «poder de Deus» (cf. 1 Cor 2, 1-4). A Cruz, por tudo o que representa e também pela mensagem teológica que contém, é escândalo e estupidez. O Apóstolo afirma isso com uma força tão impressionante, que é melhor escutar de suas próprias palavras: «A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14). Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos» (1 Cor 1, 18-23).

As primeiras comunidades cristãs, às quais Paulo se dirige, sabem muito bem que Jesus agora está ressuscitado e vivo; o Apóstolo quer recordar não só aos Coríntios e aos Gálatas, mas a todos nós que o Ressuscitado é sempre Aquele que foi crucificado. O «escândalo» e a «necessidade» da Cruz estão precisamente no fato de que onde parece haver só fracasso, dor, derrota, precisamente aí está todo o poder do amor ilimitado de Deus, porque a Cruz é expressão de amor e o amor é o verdadeiro poder que se revela precisamente nesta aparente fraqueza. Para os judeus, a Cruz é skandalon, ou seja, armadilha ou pedra de tropeço: parece ser obstáculo para a fé do piedoso israelita, que não consegue encontrar nada parecido nas Sagradas Escrituras. Paulo, com não pouco valor, parece dizer aqui que a aposta é altíssima: para os judeus, a Cruz contradiz a própria essência de Deus, que se manifestou com sinais prodigiosos. Portanto, aceitar a Cruz de Cristo significa realizar uma profunda conversão no modo de relacionar-se com Deus. Se para os judeus o motivo de rejeição da Cruz se encontra na Revelação, ou seja, na fidelidade ao Deus de seus pais, para os gregos, ou seja, os pagãos, o critério de juízo para opor-se à Cruz é a razão. Para estes últimos, de fato, a Cruz é moria, necedade, literalmente insipidez, alimento sem sal; portanto, mais que um erro, é um insulto ao bom senso.

Paulo mesmo, em mais de uma ocasião, teve a amarga experiência da rejeição do anúncio cristão, julgado «insípido», irrelevante, nem sequer digno de ser levado em consideração no âmbito da lógica racional. Para quem, como os gregos, buscava a perfeição no espírito, no pensamento puro, já era inaceitável que Deus se fizesse homem, submergindo-se em todos os limites do espaço e do tempo. Portanto, era decididamente inconcebível crer que um Deus pudesse acabar em uma Cruz! E vemos como esta lógica grega é também a lógica comum de nosso tempo. O conceito de apátheia, indiferença, como ausência de paixões em Deus, como teria podido compreender um Deus feito homem e derrotado, que inclusive depois teria recuperado seu corpo para viver como ressuscitado? «A respeito disso te ouviremos outra vez» (Atos 17, 32) disseram depreciativamente os atenienses a Paulo, quando ouviram falar da ressurreição dos mortos. Eles consideravam que a perfeição era libertar-se do corpo, concebido como prisão; como não considerar uma aberração recuperar o corpo? Na cultura antiga não parecia haver espaço para a mensagem do Deus encarnado. Todo acontecimento «Jesus de Nazaré» parecia estar marcado pela mais total insipidez e a Cruz era certamente o ponto mais emblemático.

Mas por que São Paulo precisamente disso, da palavra da Cruz, fez o ponto fundamental de sua pregação? A resposta não é difícil: a Cruz revela «o poder de Deus» (cf. 1 Cor 1, 24), que é diferente do poder humano; revela de fato seu amor: «Porque a loucura divina é mais divina e mais sábia que a sabedoria dos homens; e a fraqueza divina, mais forte que a força dos homens» (v. 25). A séculos de distância de Paulo, vemos que venceu a Cruz, e não a sabedoria que se opõe à Cruz. O Crucificado é sabedoria, porque manifesta de verdade quem é Deus, ou seja, poder de amor que chega até a Cruz para salvar o homem. Deus se serve de formas e instrumentos que para nós nos parecem à primeira vista apenas fraqueza. O Crucificado revela, por um lado, a fraqueza do homem, e por outro, o verdadeiro poder de Deus, ou seja, a gratidão do amor: precisamente esta gratuidade total do amor é a verdadeira sabedoria. Disso São Paulo fez experiência até em sua carne, e nos dá testemunho em várias passagens de seu percurso espiritual, que se converteram em pontos de referência precisos para todo discípulo de Jesus: «Ele me disse: Minha graça te basta, que minha força se mostra perfeita na fraqueza» (2 Cor 12, 9); e ainda: «Deus escolheu o fraco do mundo, para confundir o forte» (1 Cor 1, 28). O Apóstolo se identifica até tal ponto com Cristo que ele também, ainda que em meio a tantas provas, vive na fé do Filho de Deus que o amou e se entregou pelos seus pecados e os de todos (cf. Gl 1, 4; 2, 10). Este dado autobiográfico do Apóstolo é paradigmático para todos nós.

São Paulo ofereceu uma admirável síntese da teologia da Cruz na 2ª Carta aos Coríntios (5, 14-21), onde tudo está contido em duas afirmações fundamentais: por um lado, Cristo, a quem Deus tratou como pecado a favor nosso (v. 21), morreu por todos (v. 14); por outro, Deus nos reconciliou consigo, não imputando a nós as nossas culpas (v. 18-20). Por este «ministério da reconciliação», toda escravidão foi resgatada (cf. 1 Cor 6, 20; 7, 23). Aqui aparece como tudo isso é relevante para a nossa vida. Também nós devemos entrar neste «ministério da reconciliação», que supõe sempre a renúncia à própria superioridade e a escolha da necedade do amor. São Paulo renunciou à sua própria vida, dando-se totalmente a si mesmo para o ministério da reconciliação, da Cruz que é salvação para todos nós. E nós também devemos saber fazer isso: podemos encontrar nossa força precisamente na humildade do amor, e nossa sabedoria na fraqueza de renunciar para entrar assim na força de Deus. Devemos formar nossa vida sobre esta verdadeira sabedoria: não viver para nós mesmos, mas viver na fé nesse Deus do qual todos nós podemos dizer: «Ele me amou e se entregou por mim».

[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri


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