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Artigos-->OS APELOS DA “INDÚSTRIA CULTURAL” -- 25/09/2003 - 15:33 (Salustiano Ferreira da Luz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS APELOS DA “INDÚSTRIA CULTURAL”

Salustiano Ferreira da luz*

À medida que avançam ciência e tecnologia, uma nova ordem social se instaura, os tradicionais valores desaparecem e como conseqüência temos, inevitavelmente, uma ruptura com o passado e a banalização da cultura e das tradições, que passam a desvincular o homem de suas raízes, alienando-o e impossibilitando-o de compreender por que e como se dão as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais. Isso acontece pela falta de elos que dêem sentido aos acontecimentos, tornando as pessoas presas fáceis das forças dominadoras. Em vista disso, entendemos que as instituições de ensino, de todos o níveis, por estarem no centro do processo de mudanças, influindo decisivamente no estabelecimento de novos hábitos na utilização de modernos instrumentos, devem tomar a dianteira e dar uma resposta à questão, mostrando qual é o perfil dela hoje e quais são as perspectivas para os cidadãos que virão depois de nós.

Temos acompanhado de perto, através dos diversos meios de comunicação, os rumos para os quais o dinamismo da engrenagem social aponta; o que vemos com relação à educação e à cultura na sociedade brasileira é uma forte tendência à formação do que SAVIANI (2000) chama de “arquipélago cultural”, isto é, uma fragmentação de nossa cultura, em que as camadas, também fragmentadas, têm diferentes aspirações, haja vista que essa falta de unidade cultural vem se constituindo com muita clareza no reflexo do modo de produção da existência humana. A escola como reprodutora do sistema e dialeticamente responsável pela educação formal, terá que se voltar para todas as camadas da sociedade, para atendê-las em suas aspirações e não para meramente reproduzir os penosos mecanismos de sobrevivência, o que, se não agrava mais a situação pelo menos deixa no estado em que se encontra. Nossa intenção tem sido e continua sendo a de provocador de um estudo e debates, através dos quais se possa acompanhar de forma mais sistematizada, quando e de que forma começaram “os diferentes tipos ou mecanismos de apelos por parte da “indústria cultural”, particularmente aqui em Goiás.

O interesse que temos tido por temas atinentes à cultura brasileira, como ela se apresenta frente às novas tendências de produção da existência humana vem ao encontro do trabalho que temos desenvolvido como professor de língua Portuguesa e literatura. Temos percebido que os usuários das ferramentas que todos usam no mundo moderno (especialmente os audiovisuais) estão perdendo sua própria identidade, aderindo, assim, valores que se estão criando a partir de novas tendências no contexto da cultura contemporânea. Neste cenário, o audiovisual transforma os lugares, os acontecimentos e as pessoas em objetos, que mesmo sem identidade própria, lutam por reconhecimento social, político e por tudo aquilo que a era da imagem oferece.

A desintegração dos valores artísticos, o empobrecimento da linguagem, ou mais especificamente o fim da arte, já prenunciado por ADORNO (1986) ganha cada vez mais terreno no mundo contemporâneo.

Parece que as instituições não têm desenvolvido (no interior goiano) projetos com os quais se possa realizar um trabalho com o cotidiano de educandos; por isso mesmo, o que se tem visto é um processo que caminha e encaminha para tudo o que é artificial, tornando a vida das pessoas em um cotidiano bem comportado e obediente a esses apelos, a serviço da classe dominante, difícil assim de acontecer a superação do senso comum e das concepções anacrônicas de mundo, que deve emergir das camadas populares.

Temos notado que a experiência histórica do passado de um povo: as criações artístico-culturais, as comemorações, as expressões da tradição, dentro de um contexto histórico que conhecemos bem, é como se tivessem sido banidas pela comunicação dominante, e a educação – solução para recuperar valores de um povo – acha-se impotente e torna-se mera espectadora dos acontecimentos, sem poder intervir no processo.

Perguntamo-nos: de quem é a falha? A resposta é seguramente complexa demais para se arriscar um palpite. Entendemos que todo educador tem uma responsabilidade histórico-cultural com seu povo. Ele deve fazer o possível para criar mecanismos que leve a comunidade a que pertence a estar em sintonia com suas origens, produzir suas atividades artístico-culturais, usufruir delas, aprimorar sua capacidade de imaginação, conquistar sua própria liberdade e se sentir feliz. É dessa forma que uma comunidade aprende a expulsar o homem, objeto de trabalho de consumo, criado pela “indústria cultural”.

Os detentores do poder econômico têm também o domínio de toda a situação; com isso, acham-se no direito de explorar a classe dominada, tirando-lhe os sonhos humanistas de arte e de reflexão e a qualidade de vida, que só existe para quem é livre, e só é livre quem pode resistir, sem repressão, todas as formas de violência que afligem o meio em que vive determinada classe social.

Se for verdade que as escolas, as faculdades e as universidades estão no centro do processo de mudanças, então é verdade também que elas devem abrir-se cada vez mais para os meios de comunicação, e conseqüentemente, não devem deixar de exercer sua função crítica.

É preciso que a escola dê trégua à função que há muito vem exercendo e que hoje parece ser seu exclusivo e único papel: produzir mão-de-obra ao mercado de produção. Não que sejamos a favor da improdutividade. Ao contrário, queremos que a escola cumpra também esse papel. O que se espera é que ela não faça apenas isso, mas analisando a situação sob a ótica marxista de classes sociais, o que se vê é que as instituições de ensino continuam refletindo as contradições próprias do sistema capitalista. Entretanto, assim como elas têm a função de preparar o homem para a mão-de-obra necessária ao mercado, assim também devem ser a principal força a travar o acirramento dos antagonismos existentes, como nos alerta VALE (1996), que discorrendo sobre a viabilidade da construção da Escola Pública Popular afirma que “na medida em que à escola é dada a função de qualificar a força de trabalho necessária à reprodução do capital, cabe-lhe contribuir para o acirramento dos antagonismos de classes”.

O maior problema, ao nosso ver, reside na falta de um trabalho institucional de resistência. O fato é que a maioria absoluta da população, sendo alvo fácil da força da “indústria cultural”, e passando, por isso, a ter necessidades que a minoria mais esclarecida e politizada da sociedade não tem, leva-nos a acreditar que conhecer como o processo de desintegração da cultura brasileira desenvolveu-se, e qual deve ser o papel das instituições nesse contexto, é o caminho para que se recuperem valores e memórias. Para isso, é preciso traçar eixos temáticos que contribuam, de forma significativa, para uma compreensão mais consistente do desenvolvimento da educação nas instituições públicas. Esse é e deve continuar sendo o papel da escola. Mesmo assim, sabe-se que muitos estudos terão de ser realizados, para que se dêem respostas aos anseios e necessidades da sociedade, e se possa conhecer ao certo de que forma as instituições de ensino, ao longo de sua história, têm respondido aos desafios das vertiginosas transformações com as quais a comunidade sempre se deparou, e o que podem fazer para não apenas se adequarem aos avanços tecnológicos, que se refletem em mudanças marcantes com fortes influências na vida das pessoas, mas também para manterem vivas as tradições culturais dentro e fora delas.

A importância do assunto é incontestável, haja vista a ligação direta que tem com questões atinentes à preservação do patrimônio, das tradições e principalmente da educação, substanciais e merecedoras de atenção por parte de toda a população brasileira, até porque a velocidade com que a sociedade da técnica e da informação caminha, faz com que os valores culturais de que estamos tratando percam mais rapidamente seus significados e, dentro de um tempo relativamente curto, extingam-se de vez. Ademais, é pela reconstituição da memória que poderemos compreender os mecanismos e processos que têm desencadeado as alterações no tempo e definir vínculos entre tradição e modernidade, dando-lhes significados culturais e temporais; é resgatar a memória cultural, especialmente a oral (no contato direto com aqueles que vivenciaram o que para nós já é passado), pois é, entre tantas outras, uma forma de devolver para sociedade um pouco de cidadania e de reconhecimento vivido.

A educação visa ao homem e acontece pela ação dele. Por isso, nenhum sentido terá se não estiver voltada para a promoção das pessoas. Dessa forma, a implementação de uma política de preservação do patrimônio cultural e a criação de um memorial que se constitua em centro de referência para a rede escolar devem ter como propósito a valorização da educação e dos educadores, assim como proporcionar a eles dados e elementos importantes e suficientes para que façam uma leitura crítica da experiência educacional e adquiram condições para exercerem a prática docente com mais competência e estejam sempre presentes na nobre e dura tarefa de construir uma sociedade mais promissora.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, Theodor W. Indústria Cultural. In ADORNO, Theodor W. Sociologia. São Paulo: Ática, 1986.

SAVIANI, Demerval.--Educação. Do senso comum à consciência filosófica. Campinas SP: Autores Associados, 2000.

VALE, Ana Maria do. Educação Popular na Escola Pública. São Paulo: Cortez, 1996.



*Salustiano Ferreira da Luz é professor do ensino público do Estado de Goiás e da FESURV, na cidade de Rio Verde. É licenciado em Letras, bacharel em direito, especialista em Língua Portuguesa e mestre em Psicopedagogia.





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