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Cronicas-->Pé-de -Valsa -- 28/08/2015 - 16:59 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Meu pé dormiu, cara. Sei, o que você, sentado aí, comodamente instalado e comendo Nuggets com refrigerante tem a ver com isto? Eu sei lá, você se propôs a ler, achando que ia sair muita filosofia ou mágica da cartola. Digo, de novo: Meu pé dormiu. Como pode um pé dormir à revelia do dono? De repente, sei lá, ouve-se um ronco, um zunido e seu braço está dormindo. Não você, o braço; tudo bem, ele é parte de você, mas poxa--é um braço. Haverá consciência própria nos braços, nos ...pés? Incomodar-se-ão os membros que fazem parte com o conteúdo do todo? Isto é, sendo parte do todo, não deveriam as partes agirem em consenso, de tal modo que o todo não se dividisse em partes? Absurdo.

Exijo minha parte, isto dizendo, o todo. Acorde, pé-de-anjo. Porque definitivamente pé-de-valsa nunca foi. Quando estudava medicina, tinha uma moça que todo mundo chamava assim, pé-de-valsa. Eu não consigo nem dançar sozinho de vergonha, porque suscitaria riso de parte ou do todo da arisca plateia. Enquanto isto, morria de inveja porque ela, além de ser um anjo, dançava feito uma artista. Eu ali, em meu plantão cheio de gente e ela, a anja, passando com seu pé bem-dormido. E eu aqui, pensando em como acordar esse pequeno coração que pulsa feito um tormento abaixo de meu joelho direito. Uma espécie de meia enovela-me o tornozelo, mil formigas invadem o dedão, o mínimo... E a moça do pé de anjo valsava no Pronto-Socorro, em meu passado, olhos claros e gentis, sempre um sorriso nos lábios. As moças sabiam de sua fama e comentavam entre elas: Ela dança que é um encanto! Uma beleza, vai ser pediatra! Sorte das crianças. Vai casar logo, está noiva! E eu torcendo aqui nestes minutos que duram a escrita para que acorde meu pé de valsa-rancho mas ele teima em dormir.

Levantar?

Impossível. Uma manobra arriscada que talvez me leve ao chão, pois que sou destro e sinistra é minha posição. Se apoiar o pé dormido darei com o nariz ao chão, vencido por essa singularidade nua, um pé gelado. Quem me dera ser Gógol e ter somente o nariz dormente, mas não. Algo me diz que quem nasceu para pé-de-cabra nunca terá nariz de Gogol. Ora bolas, gente, deem soluções ao problema. Que faço? Continuo sublimando minha frouxidão parestésica com a sinestesia da moça bailarina? Ou, corajoso, enfrento a sina do formigueiro e, saúvas me saúdem, ponho o pé na jaca?

Como sei que ninguém vai ler, ou se ler, não vai ouvir e mesmo se ouvir, dará um muxoxo, porque isso é lá assunto que se digne de ouvir, falar ou sentir, vou sair de mansinho, deixando o meu extremo direito em franca sonolência para, com o esquerdo, apoiar meu mundo rico e luminoso. Um saci, é isso, bem ao modo dos tempos que ora correm: Um saci-pererê de calça jeans, soltando fogo pelas ventas e cambaleante feito Boitatá no escuro. Lá fora, sabiás me requisitam, o sol se põe, louro e agudo, Virgílio ainda não morreu no livro e eu penso que se pés existem, eles foram feito para voar.

Ademã.

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