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cronicas-->Início -- 07/08/2015 - 15:34 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A primeira vez que sua mente pode registrar, lentamente ele viu e era só o início de tudo o quanto ele veria numa galáxia de sensualidades e alvoroços que perdura até os dias de hoje. Uma oscilação, talvez um tremor e um ruído gigantesco após uma opressão indefinida; finalmente, uma batida primordial em suas orelhas e mais, o avatar de luzes difusas à frente e ao fundo. Nada que houvesse ali era o que previamente conhecera. O flutuar, o flutuar. As vozes ou seriam grossos rumores de deuses desconhecidos bramindo, sacudindo-o como a uma couve recém-lavada, dando-lhe tapas em toda a parte e finalmente, o jorro de um vômito incoercível e um ódio visceral ininterrupto pois que seu estado beatífico fora rompido: Quem ousou tirar do repouso e da luz que sonhava interiores cheios de arabescos, tapetes de finas texturas e salas amplas cheias de fontes e aromas frutados? Giram mil estrelas de um Universo que lhe foi roubado. Um Universo que novamente o chacoalhar, a sensação de ser uma alface e o grito primal enchendo o quarto de um berro rouco, um grito interminável, o agouro de uma ave que precisa rapinar; mais que a sensação do balanço é a de náusea, de fome indistinta, de um calor que se chega pouco a pouco, trazendo talvez a calma que lhe falta, apesar de os Deuses insistirem em rosnar, berrar vibrantes sons incompreensíveis a ele que ainda nem se recorda de como foi ali parar. Homem, ó homem, é inútil criar fantasias de beatitude ou de unicidade! Está mais que provado que sua existência se inicia agora, entre panos quentes, depois de tapas estúpidos, vômitos indizíveis e náusea/fome/sede e frio. O grito primal enche o aposento e ele é tudo o que ele tem ou pensa ter, melhor, ele não pensa, ele sente e sente, mais do que pensa, sente com a pele úmida e com a boca que emite o berro que preenche o quarto e enche o ambiente de estrelas de um Universo que lhe foi perfidamente roubado. Um Universo. O quarto. Berro, a boca. O Verso. A palavra, os Deuses, alface. Secretamente, ele já tece a teia que escravizará a todos os que ali pernoitam. Sono, o cansaço. A boca. Palavras.

--É um menino!

--Bênção, forte e saudável.

--Já procura o leite.

--Já sabe os caminhos.

Alface, beatitude, palavras que correm do peito de sal e lanugem. Lá vão as estrelas, porque a boca, essa agarra o que lhe parece a âncora de seu novo mundo ideal. Coragem!

--Pegou.

--Agora, não mais larga.

Mãe e filho, exaustos, dormem do embate. E nos sonhos, há os assomos de beleza que parecia vir do Infinito, há os esgares do rostinho que se forma, os olhos que contemplam mais a interioridade que o complexo mundo de fora. Fora que, lá acima, há um pai orgulhoso. Meu filho, palavra, nunca pensei, eu que antes pensava ser só, agora posso contar com mais um, ele me sucederá no império que construirei, ele me dará sua pequena mão e eu contarei histórias, eu...

--Homem!

--...Hein!

--Acorda que ele precisa tomar banho. Vem ajudar.

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