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cronicas-->O Sábio -- 14/07/2015 - 23:33 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Como eu gosto de escrever, aqui estou, novamente. Sempre pronto a contar uma Estória que talvez de história não tenha nada, pois que nós que as escrevemos temos sempre um pé na fantasia, essa ponte invisível que nos liga a todos a um mundo talvez místico, na maior parte das vezes imaginado e que tem, na sua maior parte ainda, componentes de um viver desconhecido a quem não se habitua a singrar por estes mares.

Pois bem.

Conta-se que, após um período de reclusão em que repetidamente o Sábio chegara diversas vezes ao êxtase proporcionado por suas intensas reflexões, ele resolveu voltar ao mundo da realidade. Aprendeu que o Uno é um trio mas que, por diversas vezes, o que é três, torna-se dois e finalmente em um se manifesta.Ele leu as sagradas escrituras dos Vedas, dos Hebreus, dos Cristãos, dos chineses e dos muçulmanos e depois de muito refletir, viu que não havia nada diferente em cada uma das falas; pois que dos três que ouvira, todos tinham a mesma língua cifrada que não deixa de ser a linguagem sagrada da totalidade manifestada.

Ele percorreu primeiro as cidades da India: Chegou a Bramaputra e viu, com seus olhos velhos e vacinados contra toda dor e contra toda luz excessiva( pois o que vira em suas viagens mais que cegaria sua pobre carne e exporia sua Alma à corrosão da loucura), milhares de pessoas empobrecidas banhando-se no Rio Sagrado. Ao lado da margem, corpos sendo cremados, liteiras ricamente ornadas de onde mãos de lindas damas jogavam flores às águas da alma da India, além de moedas avidamente disputadas por pobres coitados de castas inferiores e malvistas. Sentiu o odor pútrido emanando de um calor insuportável e isso apesar dele ter queimado as solas dos pés em fogueiras que tostavam bem mais do que podia aguentar qualquer ser humano e que a qualquer um fariam gritar e correr. Viu no entanto que o calor não vinha de fora, era mais um tipo de estranhamento: Como se podia aceitar que enquanto quase todos viviam em trajes sumários, muitos poucos se perfumavam em leitos ungidos a óleo e mel?

Estava assim, espantado, olhando o sol dentro do Sol, mirando suas emanações maravilhosas, quando dele se aproximou um pobre coitado, a quem faltavam as pernas e que ostentava uma barba de longa data. Ele via as escadarias que conduziam mulheres, crianças, velhos e jovens ao mesmo destino, o mergulho na sacralidade indefinível, o objetivo de uma vida toda; muitos vinham de locais inacessíveis perto do Nepal ou dos Himalaias para a purificação de uma vida inteira de provações.

Parando perto de si, o pobre homem o fitou:

--Sahib, quando o Ganges nasce, ele jamais imagina que virá de suas cristalinas fontes do Paraíso para purificar o que jamais mereceu para tornar puro a quem mais precisa!
--E quem precisa se purificar?
--Sahib, mergulhe naquelas águas. Se há alguém que aqui precise, esse é você, senhor de sua própria casta mas, de maneira alguma, senhor de seu coração mais íntimo. Seu coração mais íntimo sufoca porque seu pensamento mistifica as aparências; há além do cheiro, da pobreza, da miséria, das provações, algo maior que a luz que decanta do Sol para dentro do sol interior que nos habita. Dir-se-ia que de lá, onde as fontes do Paraíso se preenchem do mais fino tecido, fluem as fontes de nosso mais íntimo desejo.
--Qual é esse desejo, meu amigo raro?
--Sair da Roda da Vida.

Sabe-se lá como, o aleijado andou depressa e por força de seus braços que faziam as vezes de pernas, molhou o rosto nas águas do Rio da Pureza.
Foi, então, a vez de seu mergulho; e quão mais leve ele saiu das águas, e quão mais rarefeito, e quão mais luminoso ele sentiu o Sol dentro do Sol. Compreendeu então que ainda faltava muito para que se tornasse um Sábio.

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