MINHA BICICLETA
Pequena ainda, aprendi a pedalar andando de tico-tico. Maiorzinha, dava minhas voltinhas no velocípede. Depois, foi com o patinete que me diverti. Passadas estas fases, chegou a hora da bicicleta. Mas naquele tempo, era preciso saber usá-la corretamente antes de ganhá-la. Para aprender, alugava uma de rodinhas na bicicletaria.
Chegando em casa, começavam os treinos. De início, não tinha coragem de montar sem um adulto por perto, quase me segurando. Com o tempo, fui criando confiança e pudemos suprimir, primeiro uma rodinha, depois a outra. Mas eu ainda não conseguia andar em linha reta, o guidão virava, independente da minha vontade. Às vezes, quase caía. Queria aprender e treinava bastante.
Um belo dia, descobri que pedalava sem medo!
A partir de então, comecei a campanha para ganhar a minha bicicleta. Olhando as lojas, encontrei uma perfeita para minha altura. Era linda, pintada de vermelho metálico! Passei a namorá-la todos os dias na vitrine, para onde puxava meus pais e vovô Zezinho sempre que podia.
Papai achou a bicicleta muito cara. Mamãe dizia que eu devia esperar até o Natal.
Mas o Natal estava tão longe...
E se eu juntasse dinheiro, será que não apressaria a compra?
Depois que tive esta idéia, passei à prática. Comecei a guardar os trocos numa caixinha.
Qualquer moedinha servia.
Vovô costumava pagar a quem lhe fizesse cosquinhas no rosto, lá estava eu de plantão!
Meu padrinho, sabendo da história, inventava motivos para me passar umas notas. Lá iam para a caixinha...
Todas as noites eu contava o dinheiro que engordava aos poucos e ficava contente. Mas na hora do namoro, diante da vitrine, vinha o desapontamento. Percebia que ainda me faltavam muitas e muitas moedas! Na verdade, fazendo bem as contas, o tempo que eu levaria naquela arrecadação ultrapassaria de longe o que faltava para o Natal... Tinha vontade de desistir.
O Natal foi se aproximando e minhas economias não andavam no mesmo compasso. Desesperada, achava que não ganharia aquele presente, pois todos sabiam dos meus esforços. Só vovô poderia me ajudar. Chamei-o, então, para uma conversa reservada.
Muito atenciosamente, ele me pediu que mostrasse a caixinha. Depois, fez comigo os cálculos: faltava a metade do valor. Coçou a cabeça e ficou pensando numa solução.
De repente, tirou umas notas do bolso e colocou-as na caixinha, recomendando que não contasse a ninguém.
Foi o nosso grande segredo!
Beatriz Cruz
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