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Cartas-->Memorial do Hospital Memorial São José -- 27/01/2008 - 21:08 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Prezados leitores, não estava nos meus planos publicar esta carta. A ausência de resposta por parte dos Sócios e Diretores me fez pensar diferente, já que esse Hospital recebeu um prêmio recentemente de não sei o que.

Aos
Sócios e Diretores do Hospital Memorial São José


Ref- Vinte e seis horas de terror na UTI do Hospital Memorial São José



Faz hoje um mês que passei um dos piores momentos de minha vida. Em um local que deveria ser salvador de vidas, na verdade é torturador de desafortunados que por azar são obrigados a passar algumas horas naquela câmara de tortura.
Fui submetido a uma operação de câncer de próstata e ao cessar a anestesia tive uma para da respiratória. Estava consciente e senti a morte me convidando a entrar, faltou-me o ar e o meu corpo não obedecia a nenhum movimento,era como se estivesse congelado e pesando mais de 500 quilos. Ouvia os gritos do médicos: Mauro ! Mauro ! aspire ! Força, aspire, engula ! Via o rosto de todos, do cirurgião, anestesista e meu irmão médico que estava presente. Aos poucos fui conseguindo com auxilio de um aparelho chamado chupeta engolir um pouco de oxigênio até voltar a respirar com auxilio de uma máscara.
Não sei quanto tempo durou, mas para mim foi como se fosse uma hora mais ou menos. Depois vi a maca correndo pelos corredores e ainda li uma placa UTI. Devo ter sido dopado ou fiquei desacordado por algum tempo. Quando acordei meu irmão Ivo estava a meu lado e perguntei se havia sido operado. Na minha cabeça eu achava que teria havido algum problema com a anestesia e eu não teria sido operado. Ele me respondeu que sim, e que estava tudo bem, apenas que ficaria na Uti por algumas horas para recuperação. Comecei a me examinar e vi que estava com sonda, drenos, soro, medidor de pressão arterial continuo e uma mascara de oxigênio (nariz e boca). Em meia hora já estava plenamente consciente e já imaginava o que havia acontecido. Antes da cirurgia, achava que por conta dos 52 anos de fumo, não resistiria a cirurgia. Falei inclusive para o cirurgião este me disse que ficasse tranqüilo, por que operava fumante todo dia. Ainda acho que o meu problema foi devido ao fumo. Por essa razão espero não fumar mais nunca, embora isso venha me custando muito caro pelos seus efeitos psicológicos..
Voltemos ao que interessa. A UTI do Hospital Memorial São José. E uma grande sala com 10 baias separadas por divisórias cortinadas em formato de U, sendo que no centro existe uma sala toda fechada com vidraças onde o chefe da UTI se enclausura e dá ordens aos asseclas, enfermeiros, enfermeiras, técnicos, médicos especialistas etc. ou vê televisão e dorme quando chega a madrugada.
Em cada baia existe um leito com monitor, que mostra a pressão arterial, nível de oxigenação do cérebro, nível do soro e outras indicações que não sei do que se trata.
Segundo um enfermeiro, para cada três baias existe um enfermeiro 24 horas.Fiquei impressionado por volta das 19:00 horas com a quantidade de enfermeiros e enfermeiras, médicos, e outros vestidos a caráter. A medida que as horas passavam o número da população diminuía, chegavam uns, saiam outros, cumprimentavam-se as vezes intimamente, tais como passando a mão na bunda da colega, ou ficando abraçados de corpo inteiro por algum tempo, beijando, cheirando, apalpando aqui e ali, como se estivessem numa festinha íntima de amigos ” íntimos.”
Em um desses cumprimentos meu monitor começou a apitar avisando que o soro estava terminando ou havia terminado.Aguardei que alguém viesse trocar por alguns minutos. Depois chamei por enfermeiros que estavam a menos de 5 metros. Ninguém siquer me olhou. Passei então a gritar até não agüentar mais. Parei. Após uns vinte minutos chegou um, e mudou o soro. Reclamei que ninguém me havia atendido apesar dos meus gritos. Ele respondeu: Não se incomode o senhor está sendo monitorado. – Por quem? – Por aquele aparelho ali nas suas costas.- De que adianta se ninguém olha, ninguém ouve e ninguém faz merda nenhuma nessa porra! – Ele deu as costas, não disse nada e foi embora.
Por volta das 10:00 horas, a borracha do medidor de pressão saltou. O monitor ficou avisando e ninguém apareceu. Voltei a gritar novamente, pedindo por favor! – Nada. Mais meia hora,.apareceu uma enfermeira para medir a temperatura e consertou o medidor. Não falei nada. Observei o que ela fez. Enquanto fiquei na UTI a borracha soltou 11 vezes, eu mesmo a consertei. Para consertar tinha que me virar e fazer um grande esforço, por conta disso os edemas em torno da minha barriga e até das minhas costas foram surgindo embora eu só tenha me apercebido quando saí do hospital.
As onze horas, entrou uma senhora na UTI com uma bolsa bem grande, cheia de embrulhos e logo formou-se em volta uma boa quantidade de enfermeiros e outros falando em voz alta , rindo e recebendo ou comprando aqueles embrulhos. Como estava na baia do lado oposto, não consegui ouvir o que falavam nem do que se tratava. Estranhei no entanto, a sua entrada já que era proibido visitas naquela hora.
Outro fato interessante é que minha esposa foi expulsa do apartamento, quando fui enviado para UTI, mesmo sabendo o hospital que eu só ficaria até as 7:00 horas do dia seguinte e ela ter se prontificado a pagar a vista adiantado a diária que estaria fora do convenio.
Pela madrugada, comecei a sentir falta de ar. Retirei a mascara e passei a respirar normalmente. Havia um enfermeiro e duas enfermeiras reunidos em uma baia do outro lado. Chamei. Pedi por favor. Gritei! Todos fingiam não me ouvir. Para não morrer asfixiado, retirei a mascara e passei a respirar normalmente. Quando um enfermeiro veio medir minha temperatura, reclamei que não havia oxigênio na mascara. Ele respondeu que estava enganado e que era obrigatório eu permanecer com ela. Então eu disse: Não boto essa merda! – Fiquei sem ela até sair da UTI.
Logo após esse incidente pedi para alguém me ajudar a me virar um pouco na cama porque as minhas costas estavam muito doloridas. Como sempre ninguém me atendeu. Sozinho, segurei-me na grade da cama e forcei a minha mudança de posição. Ai as grades desarmaram, uma enfermeira viu colocou no lugar e disse para que não fizesse isso novamente que poderia cair. Qualquer necessidade chamasse alguém. Disse-lhe: é isso que estou fazendo há bastante tempo, mas vocês são cegos, surdos e mudos. Ela retirou-se sem dizer nada. Logo em seguida chegou um enfermeiro com uma injeção cuja agulha estava descoberta, sem luvas e a aplicou no meu soro. Logo após deu as costas para mim, continuou com a seringa na mão e ficou olhando parado para televisão da outra baia. Enquanto assistia, levantou o jaleco, baixou a calça e ficou coçando a bunda.
Com a chegada da madrugada, desapareceram todos. Cada um sentou-se ou deitou-se em cadeiras dentro das baias, de forma que da minha cama eu só via parte da cabeça de cada um. As televisões ficaram ligadas e ninguém atendeu mais ninguém.
As sete horas da manhã, o cirurgião me deu alta e me avisou que demoraria uma hora ou mais para sair daquele inferno. Logo depois a UTI encheu-se de gente. Limpadores, novos enfermeiros , outros médicos, o plantonista acordou-se e foi substituído por uma tal de Dra. Rafaela ou Daniela. Essa dita cuja foi aluna de meu irmão e esteve pessoalmente no meu leito dizendo que qualquer problema lhe chamasse que teria todo prazer em me atender, inclusive que já havia me dado alta. Quando o cirurgião me deu alta, retirou um curativo e abriu minha fralda para olhar a sonda. Antes de sair, chamou uma enfermeira e disse que colocasse outro curativo e trocasse a fralda. Resultado, apesar dos meus pedidos, fiquei nu e sem curativo até as 12:30 horas. Por diversas vezes pedi a enfermeiros ou enfermeiras que passavam perto do meu leito que pedisse a minha mulher que estava do lado de fora da UTI, meus óculos, minha prótese e que colocassem uma roupa em mim. Parecia que falava para as paredes. Por fim chegou uma perto de mim e eu disse: Eu sou do MSODR, me ajude! Ela perguntou o que era. Respondi – MOVIMENTO DOS SEM OCULOS, SEM DENTES E SEM ROUPAS. Ela riu e disse vou arranjar uma fralda para o senhor. Logo após dobrou um lençol em forma de triangulo, cobriu minhas partes pudentes e colocou o curativo no meu dreno que estava exposto desde as sete horas da manhã.
As horas se passavam e nada de se arranjar quarto para que saísse do campo de concentração. Meus irmãos, esposa, filhos tentavam por todos os meios pressionando a direção do hospital, mas nada acontecia. Não existiam apartamentos. Por diversas vezes chamei a Dra. Plantonista que se prontificara a me ajudar. Ela fazia que não me ouvia, e não me via apesar dos meus gritos. Minha mulher tinha tentado pagar meu apartamento no dia anterior por fora do plano e a desorganização organizada do Hospital Memorial São José disse que era contra as normas.
Não era contra as normas, a libidinagem dentro da UTI;
Não era contra as normas, os chamados dos pacientes e monitores avisando que o soro havia se acabado;
Não era contra as normas os medidores de pressão desligados e os monitores e pacientes gritando por socorro;
Não era contras as normas enfermeiros coçarem a bunda na frente dos pacientes;
Não era contra as normas, estranhos entrarem altas horas da noite para vender, festejar ou que diabo fosse com a “enfermeragem” contrariando todos o s princípios de higiene e saúde;
Não era contra as normas, plantonistas dormirem ou assistirem televisão quando os pacientes se contorciam em seus leitos de tortura;
Não era contra as normas a Dra. Plantonista fingir que não existia pacientes.
Minha pressão arterial foi subindo a medida que novas desculpas chegavam a respeito de minha transferência para um apartamento. As 14;40 finalmente chequei ao apartamento, com o corpo trêmulo e com 18 por 10 de pressão arterial. Com a chegada do cirurgião, ele liberou meus remédios e aos poucos fui voltando ao normal. Contei para ele o sistema de tortura da UTI.
Quando ele saiu fiquei pensando num livro que havia lido antes de me internar. “As benevolentes”. Esse livro trata da matança e tortura de Judeus, Ciganos e Negros pelos comparsas de Hitler. Lembrei-me que no julgamento de Nuremberg todas se defendiam dizendo que cumpriam ordens e normas superiores. Fiz então um paralelo entre a UTI e os campos Treblinka, Sobibor, Dachau, Bergen-Belsen, onde atuavam os Drs. Borman, Morel, Eikman e muitos outros que faziam experiências físicas e psicológicas com os internos nos campos e nos hospitais. Diferentemente da UTI do Memorial São José, havia uma organização respeitável, onde horários eram cumpridos e normas eram respeitadas embora lá as metas fossem para morte enquanto que aqui na UTI deveria ser para a vida.
Ao sair do hospital, uma senhora que me parecia ser a supervisora me perguntou como havia sido tratado. Respondi-lhe que no apartamento fui bem tratado, embora a torneira da pia do sanitário estivesse quebrada e continuou assim dando banho em todos que faziam uso dela até o último dia.A respeito da UTI disse que fora torturado mas que escreveria posteriormente para a direção tão logo me recuperasse.
Fosse parente ou amigo dos donos recomendaria uma auditoria externa, e garanto que 60% dos servidores seriam demitidos por justa causa.
Não pensem que com estes escritos eu esteja chateado ou zangado com o pessoal ou o Hospital, apenas estou desejando uma revanche com todos eles, mas em situação inversa, eu no lugar deles e eles no meu lugar.
Quanto a esse hospital, jamais entrarei nele nem que seja para fazer visita a outros infelizes.

Mauro de Oliveira
16/11/2007
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