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Cartas-->UMA MENINA DE IDADE -- 26/12/2007 - 16:56 (Cheila Fernanda Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando a vi, no primeiro dia em que sua filha a trouxe, senti claramente pelo seu olhar que seu corpo e seu entendimento não estavam trabalhando convencionalmente. Dificuldade para andar, sentar-se, enfim uma série de restrições, principalmente a fala. Porém uma espécie de luz parecia estar à flor da pele, isso era o que minha intuição dizia. Uma senhora de quase 80 anos, mas um jeito e uma beleza de menina.

Seus olhos estavam bem abertos, como uma câmera que fotografa tudo. Coloquei uma música suave, própria para um relaxamento e comecei. Porém, à medida que eu continuava, seus olhos queriam me acompanhar, mesmo que seu corpo estivesse ficando muito relaxado. Aos poucos, os olhos foram ficando semi-abertos (ou seria semifechados?), mas ainda perscrutavam tudo.

Cá com meus botões, fui fazendo conjecturas. O que se passa claramente em sua memória? Não tenho qualquer autoridade para saber, mas fica claro que você fala, mas só o necessário. Economia verbal? Dificuldade? Não sei e sua filha também não soube me explicar.

Num outro dia, no relaxamento, lembro-me que ao passar a mão no seu rosto, você disse algo que não entendi. A sua filha disse que era “alho” a palavra, mas que deveria ter dito por dizer. “NÃO”! Quase gritei, porque era alho mesmo. Quer dizer, eu havia feito um tempero e mesmo que houvesse tentado de tudo para acabar o cheiro característico, ainda havia algum resquício em minhas mãos. Minha menina, se você está sem memória, no mínimo, a olfativa está ótima!

Mais incrível ainda foi que, logo depois, você repetiu “água” várias vezes. Nem insisti em checar com sua filha, pois já estava entendendo sua comunicação. Trouxe um copo com água e você a bebeu com muito gosto e me deu um olhar que significava algo como: “Obrigada, que delícia!”.
E que tal semana passada, hein? Você chegou com um jeitinho meio jururu, parecia que ia ficar bem quieta, apenas curtindo a música. Durante um tempo, o silêncio reinou... Mas, depois, olhou firme para mim e disse, com todas as letras, em bom som: “Que bom estar com você!” Levei até um susto. Fiquei emocionada e os olhos marejados.

Quando seu neto veio buscá-la, fui acompanhá-la até a porta e, quando você ia entrar no carro, eu abanei a mão e lhe disse “tchau”. Não há de ver que você retribuiu com o aceno e dizendo tchau?! E agora? Será que está entendendo tudo?

Afinal, nosso corpo pode ter uma série de contratempos, males, doenças, mas nossa essência continua igual. Já aprendi a perceber que ao esboçar um mexer quase imperceptível dos lábios, com um riso brejeiro, sua alma bate palma. E você sabe, sim, quem eu sou.

Em frente, querida menina!
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