Abortou-se a dignidade. Vivemos numa época de moral soft. Roubar, pode; trair, pode; difamar, pode; descumprir, pode. A compulsão espiritual, mal agasalhada para as vicissitudes do corpo, faliu... O que há de mais ativo neste mundão pretensioso, mas ínfimo ante a infinitude da obra divina, é a falsa interpretação da vida e da vontade dO Criador. Os gângsteres tomaram de assalto a fé e elegeram deuses falsos, mas capazes de iludir os que, desprovidos de melhor senso, não fazem a conta certa do quanto perdem para seguir os visionários que se afirmam núncios dO Deus verdadeiro, mas agem, dissimuladamente, em nome do Diabo, impedindo a independência do pensamento e dos atos de caridade; aqueles e estes tornados subalternos de peças promocionais; penduricalhos e grilhões que se carregam pela vida afora com o desvelo que se deveria dedicar ao pai, à mãe, a um irmão ou a outra pessoa necessitada. Estes trocaram o exercício de viver pelo de premeditar a falência da Criação. Divididos em facções, cada uma tem um gângster da fé a liderá-la e todos eles têm por tática a fragmentação da família. Os arrebanhados perdem a referência familiar e colocam no lugar aquele bando de alienados que professam a mesma loucura. Para pagar a conta da negligência para com os próprios filhos, saem como missionários a cuidar de forma inócua de quem não lhes compete assistir, muito menos antes de cumprir a pleno a obrigação intransferível de pai ou de mãe.
Desprezíveis são os que negam as suas mãos para as tarefas da vida, para usá-las nas obras degenerativas do antideus a que servem.
Deus não se encontra em nenhum ponto pelo qual não se passe seguindo o curso natural da vida. As revelações divinas fazem-se individualmente, no tempo certo de cada um. Elas não entram em nós pelos ouvidos, através da palavra de um outro homem; elas, simplesmente, brotam na nossa alma e se externam pelos nossos atos construtivos, sem rituais, sem profecias, sem patoreios, sem agrilhoamentos. A presença de Deus é verdadeira quando se faz sentir em qualquer lugar em que estejamos, pois é só então que a nossa vida atinge a liberdade verdadeiramente plena, que está numa planície chamada fé, surgida onde estavam as escarpas da dúvida, do medo, do acabrestamente ideológico - barreiras de um tempo mal usado.
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