CONVERSANDO COM BUSH

(por Domingos Oliveira Medeiros)



- Olá Bush, tudo bem? Calma! Sou da paz. Aproveitei um momento de descuido de sua segurança pessoal, arriscando minha vida, porque precisava muito falar com você. Desculpe-me por interromper esse seu pequeno descanso. Esse lugar é muito bonito. A natureza caprichou. Muitas árvores, flores diversas, lagos e riachos, e muitos pássaros. Aqui tudo cheira a vida. Parabéns!



- Mas vamos ao que interessa. Quem sou eu? Bem, eu sou um rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso. Não, não quero dinheiro emprestado. De onde eu venho? Lá do Brasil. Isso mesmo. Aquele que está sendo governado por um ex-torneiro mecânico. È verdade. Ele esteve em Washington conversando com você. É o Lula. Não posso lhe adiantar nada a respeito do seu governo. Ainda é muito cedo. Mas depois a gente fala disso. Agora eu quero conversar sobre outro assunto. Bem mais grave. Tem um lugar por aqui onde a gente possa sentar e tomar uma cervejinha? Ótimo.



- O negócio é o seguinte: essa guerra que você está pretendendo fazer, não é uma boa. Deixa eu falar primeiro, depois você interrompe. A turma não está nada satisfeita com o seu comportamento. Afora, é claro, o seu amiguinho lá da Inglaterra. Mas esse não conta. Pois ele é seu fã incondicional. Sei não! Aí tem coisa!...



- Cara, será que você ainda não percebeu que o mundo inteiro está contra essa sua obsessão de invadir o Iraque? Fala sério! Você tem alguma prova contra Saddam? Se tem, apresente-a ao Conselho da ONU e provoque um julgamento para o Saddam. Numa boa! Tudo dentro da lei e da ordem. O que não é certo é você ficar dando a entender que irá invadir o Iraque com ou sem a aprovação da ONU. Aliás, repetindo o que fez no Afeganistão. Que é que você ganhou com aquela guerra? Nada.



- Pegou mal. Ao agir desse modo, você está colocando em descrédito toda uma história da grande nação que preside. E de seu valoroso povo. Logo os Estados Unidos, cara, que sempre foi o esteio da democracia, o exemplo da justiça e da liberdade entre os povos? Corta essa! Sai fora , enquanto tempo. Já não chega o exemplo do seu pai? Que se deu mal com esta história de invadir o Iraque?



- Você já pensou nas conseqüências de uma guerra? Na destruição de cidades inteiras ? Na morte de inocentes; jovens, adultos e crianças? Nos prejuízos ao comércio internacional? Nas doenças que advirão desse confronto? E do aumento do ódio entre os povos? Violência gera violência. Não vale à pena!...



- E tem mais. O pessoal anda desconfiado que o seu interesse é apenas o controle do petróleo. Que essa história de terrorismo é balela. Você pensa que o mundo todo é bobo? Conselho não se dá, mas, se você quiser pensar no assunto, deixa eu lhe falar. Essa cargo que você ocupa é muito importante. Você está com muitos poderes nas mãos, é verdade. Mas o cargo é passageiro. Amanhã você volta à condição de cidadão comum. E aí o bicho pega. Neguinho vai querer aprontar em cima de você.





- Eu, no seu lugar, faria tudo diferente. Aproveitaria essa chance para melhorar nosso mundo. A guerra que eu iria começar seria pela paz. Acabar com a fome no mundo. Com a poluição ambiental. Com a concentração de renda e de poder. Passaria a apoiar programas de desenvolvimento sustentado. Que respeitassem o homem e o planeta. Nada de ciranda financeira. Chega de vender ilusões. Trocar papel por papel. E, no final, não se produz nada.



- Vamos unir nossas forças. Combater o crime organizado. O tráfico de entorpecentes. Investir pesado na pesquisa científica e tecnológica. Descobrir novos instrumentos e drogas para tratamento de doenças incuráveis. Precisamos dar mais atenção aos que sofrem de necessidades fundamentais. Precisamos combater a miséria, que tem várias facetas, no mundo inteiro. No continente africano, na América do sul, Europa, Ásia, Oceania. Aqui mesmo, nos Estados Unidos, há gente precisando de trabalho e de comida.



- Bush, não dá para perder tempo gastando dinheiro com bombas. Aonde você vai chegar com isso? A lugar nenhum. Ao contrário, o terrorismo não vai acabar com essa ou mais outras invasões. O terrorismo só irá acabar quando todos no planeta forem tratados como cidadãos. Com respeito e dignidade. Sem exclusões de qualquer espécie. Com oportunidades iguais para todos. Com educação de qualidade. Só desse modo não haverá espaço para o terrorismo.



- Sem usuários, não haverá tráfico de drogas. Sem necessidades econômicas e sociais, não haverá crime organizado. Com justiça social, acaba o terreno onde prosperam todos esses males.



- O que é que você faz quando está de folga? É isso. Pescar, bater uma bola, jogar um tênis, ler um livro, ouvir uma música, ir ao teatro, fazer uma boa refeição, levar os filhos ao zoológico, assistir um bom filme, namorar, passear de barco, visitar países, conhecer novas pessoas, enfim. Tem muita coisa melhor do que guerra. Aliás, qualquer coisa é melhor do que qualquer guerra. Pára com isso!



Bem, eu vou indo. Pensa em tudo que lhe falei. Qualquer coisa, manda um e-mail para mim. E me faz um favor. Avisa ao pessoal do FMI para pegar leve. Nosso país é lindo e maravilhoso. Você devia visitá-lo. Você vai ficar encantado com a Amazônia, com Fernando de Noronha, com o Rio de Janeiro, Foz de Iguaçu, Pantanal de Mato Grosso, Canoa Quebrada, em Fortaleza, Porto de Galinhas, no Recife, Ponta Negra e Genipabu, em Natal, Praia de Tambaba, (nudismo), Areia Vermelha, Camboinha, Barra de Lucena, Ponta Seixas, em João Pessoa, e tantos outros lugares belíssimos



- Como? Não!...a capital do Brasil não é Buenos Aires. A capital é Brasília. Por sinal, uma bela cidade. De arrojada arquitetura. Tombada pelo patrimônio. Lá, como de resto, no país inteiro, todos estão torcendo para que você desista dessa idéia maluca de invadir o Iraque. Conto com você. Um forte abraço. E juízo!...