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Artigos-->Em Defesa de Ariano Suassuna -- 23/07/2001 - 14:46 (Magno Antonio Correia de Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dias atrás, o Sr. Clóvis Luz da Silva publicou artigo em que tecia críticas ao escritor Ariano Suassuna. Acusava sua obra mais conhecida, “O Auto da Compadecida”, de promover três distintas formas de embuste. Na primeira delas, o escritor pernambucano teria faltado com a verdade ao incluir em seu auto a existência do purgatório. Na segunda, teria sofrido de uma compaixão que não seria adequada a Jesus Cristo, ao permitir que seu personagem João Grilo voltasse dos mortos para tentar se reabilitar dos pecados que até então cometera. Na última, teria incorrido no sacrilégio de permitir que Maria, detentora do título de mãe de Cristo, interferisse numa decisão divina.



Reconheço, para os que crêem nele, a importância do velho dogma segundo o qual religião e futebol não se discutem. Mas, em nome da justiça, devo reivindicar uma exceção a essa regra. Afinal, se o conceito radical de democracia utilizado na Usina permite catecismos como esse (lembrem-se que entre nós até um sujeito de pseudônimo Adolf Hitler transita), não é razoável que se proíbam os catequizados de se defenderem ante considerações dessa natureza.



De todo modo, feito esse necessário prefácio e voltando às ponderações do Sr. Clóvis, é preciso registrar, de modo incisivo, o quanto elas são significativas dos riscos envolvidos em toda espécie de radicalismo, seja ele político, ideológico, religioso ou futebolístico. Minha arraigada formação materialista e a incontrolável tendência para a objetividade (serei eu um dos idiotas de que cuidava Nélson Rodrigues?) impedem que eu consiga crer, com um mínimo de entusiasmo, na existência de vida após a morte – aliás, duvido da efetiva existência de vida até mesmo antes desse fenômeno esquisito. Contudo, para os fins deste artigo, concedo. Vá lá. Suponha-se que existe mesmo outra existência após a nossa encarnação fugaz e vagabunda. É pensando nessa hipótese, e conciliando-a com as acusações do Sr. Clóvis ao teatrólogo nordestino, é aí que mora o perigo.



Porque as considerações do Sr. Clóvis, se, por absurdo, são verdadeiras, levam a uma trágica e definitiva conclusão: há mesmo morte depois da vida. A acreditar no Sr. Clóvis, nós, os pobres seres humanos, ao morrer, morremos, tendo em vista que deixamos essa condição triste, a de seres humanos. Ora, acerca desse bicho frágil e perdido não se podem tecer muitos elogios, mas pelo menos se lhe dê o crédito de não respeitar a ordem das coisas. Nossos antepassados pularam das árvores e se viram diante de um mundo hostil, onde inúmeros animais tinham mais poder e força física. Não obstante, driblaram as intempéries, imperaram entre os macacos, derrotaram elefantes e chegaram, talvez, milênios depois, longe demais, quando passaram a enfrentar e a agredir a boa e santa mãe natureza (e essa palavra, “mãe”, é muito apropriada para a ocasião, diante da falta de consideração do Sr. Clóvis para com as prerrogativas maternas).



Na vida extraterrena sonhada pelo Sr. Clóvis, nada disso seria permitido. Ou estaríamos condenados a pastar no paraíso como suaves ovelhinhas, submetidas a um tirano que não daria ouvidos nem à própria mãe, ou seríamos condenados a virar churrasquinho durante o resto da eternidade, e sei lá que tamanho de tempo significaria isso. Ignoro a opinião dos demais usineiros. Mas eu, meus amigos, devo declarar em público e de pronto: sou muito rebelde para aceitar a vida além-túmulo proposta pelo Sr. Clóvis. Em minha defesa, e antes que me joguem na fogueira como herege, reclamo, mesmo na condição de ateu convicto, o pensamento irrepreensível do tal de Jesus Cristo (o dos evangelhos, não aquele em que o Sr. Clóvis acredita), segundo o qual sem tolerância não se consegue sequer apertar o botão do elevador, não se balbuciam as primeiras palavras, não se dobra a próxima esquina.



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