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Artigos-->A Cartilha da Infância -- 16/09/2003 - 11:46 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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A Cartilha da Infância

(por Domingos Oliveira Medeiros)



Inesquecível o meu primeiro livro. O primeiro livro escolar. “A Cartilha da Infância”. Não me lembro o nome do autor. Mas conservo sua imagem gravada na mente. A capa era de um verde garrafa. Um verde claro. Desbotado. O titulo era em preto. Um preto forte, que formava um belo contraste com o verde fraco. E tinha uma foto de um menino e de uma menina. De corpo inteiro e de mãos dadas. Eram parecidos, respectivamente, com o Pedrinho e a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo.



Nas primeiras páginas, os primeiros ensinamentos. O contato com as letras; vogais e consoantes, nesta ordem. Depois, com as sílabas, evoluindo para as palavras. Do meio para o final, textos pequenos e simples. Quem chegasse por lá já teria sido abençoado com o milagre da leitura. Um mundo novo ali começava.



E foi desse jeito que comecei a conhecer melhor o meu mundo novo . O mundo que se descortinava para mim. A historinha estava lá na cartilha.



Seu título era “Os soldadinhos de Chumbo”. Contava a história de dois irmãos. João e José. De idades aproximadas. Por volta dos oito a dez anos. João ganhara de Natal um conjunto de soldadinhos de chumbo. Com formatos diferentes. Uns com rifles , outros agachados, rastejando, prestando continência, marchando; e diversas outras posições militares. Este presente era o cerne da história. Na verdade, uma fábula. Naturalmente, com tempero brasileiro.



O José, que era bastante invejoso, certa noite, sorrateiro, foi ao quarto do seu amigo e irmão e roubou alguns soldadinhos de chumbo. Com pressa, colocou no bolso da calça e foi dormir. No outro dia, acordaram cedo e, como de costume, foram para o quintal da casa brincar de subir em árvores. Uma das brincadeira preferidas.



José, o mais ousado, subiu primeiro. Enquanto o João ficou aguardando sua vez. De repente, começaram a cair do bolso do José os soldadinhos de chumbo. José desceu da árvore envergonhado. Sem saber o que dizer para o irmão. E o João também não sabia o que dizer para o José. Calado, recolheu os soldadinhos, e foi guardá-los na caixa de presente. Nesse dia os dois irmãos não mais brincaram e nem se falaram. A história terminava com uma frase que expressava uma mensagem contra o ato de furtar. Sugerindo que o crime jamais compensa.



Foi a minha primeira experiência de vida com atos delituosos. Com as nossas imperfeições.

De lá para cá tenho visto muitos soldadinhos de chumbo e de outros metais bem mais preciosos serem roubados. E nunca são encontrados.



Aos roubos e furtos agregaram-se as mentiras e a hipocrisia. Ambas apelidadas de “alibis”. E a gente vai perdendo, até mesmo, o sentimento de indignação. Tantos são os casos de corrupção, roubos e furtos. Cada vez mais banalizados. Agravados, muitas vezes, pela sensação de impunidade.



Sensação que, de fato, tem contribuído para a quebra de conceitos éticos e morais. Destruindo crenças e valores. Destruindo pessoas. Destruindo famílias. Desmoronando instituições e autoridades. Implantando a descrença. Acabando com o convívio sadio em nossa sociedade.



E que, por tudo isto, está de pernas para o ar. Onde o que mais se vê são soldadinhos - civis e militares -, caindo de bolsos os mais diversos. Inundando o nosso chão de uma sujeira que gruda na alma e no corpo e parece que não tem mais fim.



Sujeira de cor preta, que já ameaça a própria natureza. Tal como o petróleo que é derramado nos oceanos. Tal como o desmatamento e a indiferença para com o verde de nossas matas. Sujeira, aliás, de todas as cores. De todas as bandeiras. De todos os lugares. Do mundo inteiro. Sujeira globalizada.









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